De Silva Lopes, economista, ex-ministro das Finanças e ex-governador do Banco de Portugal, partiram muitos dos primeiros avisos sobre a má situação económica do País.
Convidado pela "Redacção Aberta" do Negócios, vale a pena ouvir o que disse:
"Se tivéssemos uma Lei de controlo das Finanças Públicas a sério, o Dr. João Jardim já não era reelegível há mais de 30 anos."
"A Madeira, com aqueles governos, aqueles secretários, as suas direcções gerais, as suas secretarias, aquela gente toda, tem menos população que o concelho de Sintra. Tem representantes na União Europeia, tem deputados no parlamento europeu, um pequeno Estado, numa proporção totalmente desproporcionada em relação ao continente, só porque há autonomia."
"Se estivesse na Madeira, provavelmente, votava no Alberto João Jardim porque ele é a máquina mais eficiente a subtrair dinheiro ao Continente que se viu até hoje."
"Não aceito que a Caixa tenha andado a financiar operações de capitalistas privados para comprar acções."
"Não compreendo e não aceito que a Caixa tenha andado a financiar operações de capitalistas privados para comprar acções aqui ou acolá. A Caixa tem perdido muito dinheiro com isso, a gente não sabe, eu gostava de saber, quanto é que a Caixa emprestou a esses capitalistas que andaram a fazer manobras que não acrescentaram nada à riqueza do País.
Quando eu lá estava, emprestávamos à habitação, às pequenas e médias empresas, até às grandes, às vezes, mas não emprestávamos para manobras do mercado de capitais."
"Eu sou contra a redução da TSU"
"A redução da Taxa Social Única (TSU) pretende ser uma imitação de uma desvalorização cambial, mas não funciona da mesma maneira. Uma desvalorização cambial aumenta rapidamente o preço dos bens transaccionáveis e não toca nos outros a princípio, embora com o tempo isso aconteça.
Para equilibrar as contas externas, o que precisamos é aumentar os preços dos bens transaccionáveis em relação aos dos não transaccionáveis. (...) Com a desvalorização cambial íamos mantendo o preço dos bens transaccionáveis de forma que os investimentos nesse sector fossem mais atractivos do que nos outros.
A partir do momento em que fixámos a taxa de câmbio e continuámos a ter uma inflação superior e subidas de salários superiores aos outros países, a situação inverteu-se.
Os preços dos bens transaccionáveis, que são ditados pelo mercado internacional, tornaram-se cada vez menos competitivos em relação aos não transaccionáveis que dependiam só da inflação interna.
(...)
Se se pudesse reduzir a TSU só para os bens transaccionáveis, óptimo, mas toda a gente sabe que as regras da UE nos impedem de fazer isso. Quando baixarmos a TSU, baixa para toda a gente.
O sector transaccionável melhora a rentabilidade e consegue exportar melhor, os preços são reduzidos 7 ou 8%, melhora um bocadinho, mas o sector não transaccionável, que ainda pesa mais nos custos do transaccionável do que a TSU, quem é que nos garante que vai baixar os preços?
No sector não transaccionável temos de distinguir dois grupos: o grupo das empresas onde há muita concorrência e o grupo onde não há concorrência.
No grupo onde há concorrência, admito que a baixa da TSU, ao desagravar os custos do trabalho, leva a que os preços não aumentem tanto ou até baixem e portanto que isso venha a beneficiar indirectamente os transaccionáveis.
Agora nas empresas onde não há concorrência — PT, EDP, ... —, quem nos garante que essas empresas vão baixar os preços por lhes reduzirem a folha salarial? Quem nos garante que aquilo vai para os preços em vez de ir para os lucros?
A gente vê, e o FMI reconhece isso, o grande problema da economia portuguesa é que favorecemos demasiado os bens não transaccionáveis. Todas as empresas portuguesas que estão na bolsa e têm lucros grandes são desse sector, o resto do País não."
"Daqui a cinco ou seis anos temos as estradas todas esburacadas"
"Das privatizações anunciadas a única que me causa muitos problemas é a da água"
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