terça-feira, 20 de setembro de 2011

"Portugal não é a Grécia, é a Madeira"


"A crise é uma coisa séria, o Governo da Madeira não. A ocultação, deliberada e consciente, de despesas não é um problema de eleitores, é um problema de contribuintes — e devia ser um problema de tribunais.

São mais 1,6 mil milhões de austeridade. Assinado: Alberto João Jardim.

Durante anos criticou-se a política económica de Jardim, que fez da Madeira um queijo suíço de túneis. Contabilizou-se o despesismo, criticou-se a boçalidade do homem, denunciou-se a pressão sobre a imprensa, sublinhou-se a covardia dos líderes partidários que lá vão beijar as mãos com a vassalagem de quem lhe lambe os pés. Lembra-se disso tudo? Agora esqueça. Porque o que está hoje em causa é outra coisa. É esconder facturas. Não é uma derrapagem, é ocultação. Jardim não tem vergonha na cara mas envergonha o País. Afinal, em Portugal mente-se como na Grécia.

O líder da Madeira vitimiza-se, desconversa, veste-se de Jardim dos Bosques, angaria forças contra o "inimigo externo" que é "o continente". Que o faça. Se ganhar as eleições, os madeirenses só mostrarão o mesmo relativismo ético de muitos dos portugueses que elegem pessoas que "roubam-mas-fazem". A sua eleição continuará a ser usada como colete à prova-de-bala. E servirá de evidência para o nosso Estado ridículo: o Tribunal de Contas abre a boca mas não sai som, a Procuradoria ameaça dar cabeçadas no ar, o Parlamento cofia os bigodes da complacência, os partidos torcem o sobrolho da cumplicidade.

O regime está podre e está pobre. O que Jardim fez alguém deixou fazer. E alguém vai pagar. Porque esta ocultação, que Jardim já confessou, tem dois custos: o de reputação e o de austeridade.

Os portugueses estão a fazer um esforço brutal para descolar da imagem dos gregos. Para que, caso a Grécia entre em incumprimento, Portugal não vá no canal de sucção dos mercados. Estávamos a somar rótulos de bom aluno. Na sexta, os jornais internacionais já arrolavam Portugal ao lado da trapaça grega. O 'Financial Times' dava o exemplo para provar que a solidariedade implícita nos Eurobonds será abusada pelos Estados mentirosos. Como Portugal.

O segundo efeito, caro leitor, sai-lhe da carteira. A metade que lhe sobra do subsídio de férias não chega. A economia está sufocada por impostos mas vai ser preciso garimpar estes 1,6 mil milhões que estavam escondidos.

Não se trata de uma derrapagem, mas de uma ocultação. Os portugueses têm de aprender a métrica destes enganos. Se a extinção de 137 institutos permite poupar 100 milhões, pagar o buraco da Madeira num ano significaria fechar 2.200 institutos, com o desemprego e redução de ordenados que isso significa. Ou deixar de baixar a taxa social única em quatro pontos percentuais. Ou aumentar o IVA em mais três pontos. Ou cortar quase outra vez na Saúde e Educação.

Portugal é um armário cheio de esqueletos gordos. As PPP. O imobiliário. Os famosos falidos. As contas da Madeira. É lamentável que só uma força externa, a troika, tenha um pé-de-cabra para revelar esta corrupção moral. Se Portugal perdeu a autonomia para a troika, o Governo da Madeira merece manter a sua? Não. Traiu-a.

A frase inicial deste editorial é adaptada de um cartaz numa manifestação em Roma na semana passada, contra as medidas de austeridade. Há semelhanças entre o Berlusconi deles e o nosso. Mas no fim, Jardim não é um tiranete, um ébrio de populismo, um inteligente mascarado de boçal, não é um keynesiano nem um homem de desenvolvimento. No fim, Jardim é apenas um mentiroso que escondeu dívidas que vão custar dinheiro aos outros. Aos que votam e não votam nele. A nós.

Este escândalo é nosso, não é dele; é nacional, não é ilhéu. Como escreveu John Donne num famosíssimo texto, "Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente (...) E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti". No fundo, Jardim sempre contou connosco. Nós é que nunca contámos com ele."


bolsovazio 19 Setembro 2011
Os cães ladram
mas a carruagem passa... Não vale a pena perder tempo a ficarmos chocados com o buraco da Madeira. Só existe porque Cavaco Silva, Guterres, Durão Barroso, Santana Lopes, Sócrates e Passos Coelho deixam, têm medo dele (não sei bem porquê).
Como Madeirense e opositor de Alberto João Jardim escrevo algo que nunca pensei na minha vida escrever: acho e espero que AJJ ganhe as eleições de Outubro.
Porquê? Por uma razão muito simples. Durante 38 anos ele gastou sem controlo, foi a festa mais longa do planeta. Agora tem que vir outro aplicar medidas duríssimas ao povo madeirense? Não senhor, ele tem que ganhar e sentir na pele quando andar na rua os assobios e contestação, tem que sentir na pele o já não poder andar descansado na rua, ele tem que estar lá e dar a cara aos madeirenses, não tem que ser a oposição madeirense a fazê-lo. É ele.


HS-2011 19 Setembro 2011
Serenamente devemos de clamar que já basta!
Também contra os políticos mentirosos, desonestos, corruptos e chantagistas:

Dia 15 de Outubro, na praça Marquês de Pombal, em Lisboa, às 15h.

Por um Portugal Decente, por um Mundo mais Solidário!


cad7 19 Setembro2011
Para o Sr. HS-2011
Dia 15/10? Sábado?
Serenamente clamar que já basta?

V. Exa. acha que será ouvido?

Por favor poupe-nos. Isto só lá vai com porrada a sério e jamais com manifestações simbólicas.

Portugal é uma coutada. Não é um país. Será um país quando algumas figuras que fazem disto uma mercearia forem banidas. Para o serem, só mesmo com violência. Não há outra forma. Até lá, de medida em medida, só teremos injustiça, privilégios, corporativismos, segredinhos e segredos, opus dei, maçonaria e miséria q.b.


fpaulomagalhaes 19 Setembro2011
Excelente artigo
Parabéns, é preciso dizer o que tem que ser dito e fazer o que tem que ser feito. Até agora, os portugueses têm aguentado estoicamente todos os sacrifícios, impostos sem reclamar. Quantas pessoas estão hoje mais pobres, mais sérias e mais tristes com as medidas de austeridade draconianas, anunciadas quase todos os dias e, quando já começávamos a ver a luz do dia, eis que cai esta notícia... Eu, enquanto cidadão, confesso, fiquei deprimido.
Porquê, expliquem-me, 10 milhões de portugueses têm que pagar pelas mentiras, pelos roubos sistemáticos, pela falta de honestidade, de políticos mentirosos e pouco sérios de um arquipélago que com menos de 300 mil habitantes nos arrastaram de novo para a lama?
E ele vai ganhar de novo, pois na Madeira toda a gente sabe que não há democracia, que de uma ou de outra forma tudo depende do barão.
Chegou a hora de nos interrogarmos: A Madeira deve, ou não, ser independente? Tem que ser o continente a pressionar e mesmo a propor essa independência! Nada teríamos a perder, só a ganhar...


rodhes 19 Setembro2011
Boicote aos produtos e férias na Madeira
Deveríamos todos fazer um boicote a produtos e férias na Madeira enquanto continuassem a votar nesse senhor. É que eles não vão deixar de o fazer por uma simples razão: Dependem todos dele.
A solução só pode passar por esta medida drástica, ao sentirem na pele que não podem continuar a viver às custas do nosso dinheiro. As bananas da Costa Rica até nem são más...


Surpreso 19 Setembro2011
E o Sócrates, pá?
Olha para este a armar em moralista, quando o Sócrates fez o mesmo e nem deixou obra, ao contrário do Jardim. Fez mal, claro, mas esta hipocrisia jornalística é uma das marcas deste país de lixo.


FGO 19 Setembro 2011
Poderes constitucionais
Por muito menos já tinha demitido este Sr. caso me fossem facultados os poderes constitucionais para tal.
A falta de respeito para com as instituições não é de agora e por diversas vezes se justificou a exoneração de todos os cargos públicos.
Aparentemente, no entanto, a constituição não permite que este Sr. seja destituído, senão como se justifica o silêncio de todos os Presidentes da República ao longo das últimas décadas?
Esta é uma das mais clamorosas vergonhas nacionais e reflexo da completa incompetência e disfuncionalidade das nossas instituições.
Agora de uma coisa não tenho dúvidas — à imagem dos presidentes de câmara corruptos e criminosos (alguns julgados, outros fugitivos da justiça e outros com vários processos em tribunal aquando das eleições) —, também AJJ será reeleito com esmagadora maioria, provando que o Povo pode já saber ler e escrever, mas continua analfabeto funcional.
É triste, mas temos o que merecemos. Eu fazia como nos EUA e votava num tipo que já estivesse morto!


Jtpacheco 19 Setembro 2011
Ocultação deve ser crime, chame-se-lhe o que se quiser
O que Jardim fez é gravíssimo e só reforça o ponto de vista daqueles que, como eu, reclamam a responsabilização criminal dos titulares de cargos públicos.

Só a declaração de que tinha ocultado deliberadamente estas dívidas — "porque se lhes contasse tudo..." —, é o reconhecimento de uma fraude deliberada e deveria resultar em destituição imediata e acusação com vista a pena de prisão maior.

Mas importa referir que, se existem diferenças na forma, à altura da boçalidade do personagem, a substância e as consequências são as mesmas das PPP, Institutos, Fundações e outros organismos cuja única razão de existir é a ocultação da dívida e do défice.

Em ambos os casos, de forma mais ou menos sofisticada, com a preocupação de ‘adaptar’ a lei às suas vontades, ou atropelando-a pura e simplesmente, o que se pretendeu foi esconder dívida e encargos, fazendo hoje figura e deixando a conta para quem vier a seguir pagar.


Depoisdapoeira 19 Setembro 2011
E o essencial?
PSG, o artigo está bem escrito e pleno de razão, mas falta o essencial. Infelizmente temos diversos episódios de politiqueiros desonestos que colocaram Portugal na pele do pig e ninguém discute o que está legalmente previsto para sancionar estes comportamentos. Isso é que é essencial!
Neste figurino nada impede que os Açores comecem a ter inveja, e cá vai disto, que logo saberemos daqui a uns anos. Como contribuinte português sinto que, o que o governo regional da Madeira fez, é criminoso e os responsáveis deviam de imediato ser suspensos dos seus mandatos, julgados e confiscado todo o seu património. O povo madeirense não é culpado e portanto estas questões não devem ter um julgamento eleitoral!


NunoMagalhaes 19 Setembro 2011
Até quando?
Muito obrigado pelo artigo. O País não pode tolerar um homem como o Alberto João Jardim. Cabeças têm que rolar. Basta de brandos costumes.


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