A cimeira europeia da semana passada previa um perdão de 50% na dívida pública grega detida por instituições financeiras privadas, bem como um novo empréstimo de 130 mil milhões de euros, com o objectivo de reduzir a dívida pública para 120% do PIB em 2020.
Sondagens recentes mostram que 58% dos gregos consideram o acordo como sendo lesivo dos seus interesses, mas 70% quer permanecer na Zona Euro.
George Papandreou nasceu nos Estados Unidos, numa família em que o pai e o avô foram primeiros-ministros, e foi educado em colégios e universidades estrangeiras entre as quais a London School of Economics e a Harvard University.
Chegou à Grécia depois da restauração da democracia em 1974. Entrou para o partido do pai, o Movimento Socialista Pan-helénico (PASOK), tendo chegado ao Comité Central em 1984.
Foi um ministro dos Negócios Estrangeiros simpático e ganhou eleições com a promessa de conduzir o País para um crescimento sustentável.
Quando se tornou primeiro-ministro em Outubro de 2009, deparou com uma dívida colossal criada por anos de gastos elevados e falsificação dos dados económicos oficiais. Os assessores dizem que ficou chocado com a corrupção profunda e os interesses especiais que dominam a sociedade grega e se sentiu isolado dentro do seu próprio partido, que continua dominado pelas ideias populistas do seu falecido pai, um dissidente socialista.
A Grécia tem vivido entre manifestações e greves e o governo tem sido forçado a criar cada vez mais medidas de austeridade para cumprir as metas orçamentais.
Gozando de popularidade mesmo depois do seu partido começar a declinar nas sondagens, Papandreou está a aceitar com dificuldade a recente animosidade pública. Isolou-se, trabalhando com um grupo cada vez menor de assessores.
Em Junho, depois de ter sido vaiado na rua, propunha-se renunciar se a oposição conservadora concordasse com um governo de coligação.
As convulsões sociais têm recrescido, com os manifestantes a entraram em confronto violento com a polícia, e os próprios deputados do PASOK ameaçaram não aprovar mais medidas de austeridade.
No mês passado, Papandreou foi forçado a expulsar do partido um ex-ministro e amigo da família por votar contra parte do projecto de austeridade, reduzindo a sua maioria parlamentar para 153 num parlamento de 300 lugares.
Nas cimeiras europeias que tentaram solucionar a crise grega, parecia cada vez mais sombrio. Após a última cimeira, no discurso de quinta-feira à nação tentou exortar os gregos com estas palavras:
"Devemos continuar a trabalhar intensamente para mudar tudo o que nos ofende.
A crise dá-nos a oportunidade e o acordo dá-nos o tempo para decidir o que é importante para a Grécia."
Com diplomas importantes para aprovar, como a reforma tributária e o orçamento para 2012, Papandreou está determinado a obrigar os gregos a enfrentar as suas responsabilidades e as falhas crónicas do seu sistema político e social. Para isso decidiu levar a referendo o novo programa de ajuda financeira delineado na cimeira europeia da passada quinta-feira.
"Ninguém sabia que ele ia fazer isso", disse um alto funcionário do governo à Reuters. "Ele tomou a decisão por conta própria e apenas um par de assessores próximos foram informados."
Logo após o longo discurso proferido perante o grupo parlamentar na noite de ontem, Evangelos Venizelos, professor de direito constitucional e ministro das Finanças, apoiou a decisão, procurando dar a impressão de que havia sido informado.
Venizelos defendeu que os parceiros europeus que forjaram o segundo acordo de resgate deveriam ter sido informados de antemão e, apressadamente, o ministério das Finanças redigiu uma carta na madrugada de hoje.
Submetido, de seguida, a um internamento hospitalar de urgência, logo pela manhã falou do leito do hospital com o colega alemão das Finanças Wolfgang Schäuble, o comissário europeu dos Assuntos Económicos Olli Rehn e o chefe da missão do FMI para a Grécia (e Portugal) Poul Thomsen.
Um "não" no referendo grego seria um golpe sério para o edifício político construído na Europa para evitar uma nova guerra, poderia derrubar a moeda única e teria consequências catastróficas na economia mundial.
Entretanto outro deputado do PASOK renunciou, por discordância com o referendo, outros dois pediram eleições antecipadas e a reunião do conselho de ministros hoje à tarde podia ter levado ao fim do seu governo.
"[Papandreou] está motivado pelo sentido do dever e vai lutar para ficar quanto tempo puder", disse um dos assessores próximos. "Esta é a estratégia da batalha."
Ao anunciar o referendo, Papandreou disse: "A democracia está viva e de boa saúde, e os gregos vão ser chamados a ascender a um dever nacional para além dos processos eleitorais regulares."
Temendo, porém, que os gregos escolham a via da bancarrota, os mercados preparam-se para a perda da totalidade da dívida soberana grega detida pelos bancos e as ondas de choque do anúncio do referendo percorreram hoje as bolsas mundiais.
Na bolsa portuguesa as acções do BES desceram 9,55% para 1,42 euros e a sua capitalização bolsista para apenas 1,656 mil milhões de euros.
As acções do BCP declinaram 13,55% para 0,134 euros, um novo mínimo histórico, saldando-se a capitalização bolsista do banco em 965,76 milhões de euros.
O Banco BPI desceu 10% para 0,45 euros, fixando um novo mínimo histórico nos 0,417 euros e o Banif desceu 9,40% para 0,289 euros, também atingindo um novo mínimo histórico nos 0,279 euros.
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