sábado, 12 de novembro de 2011

Mais uma manifestação corporativa





Na proposta do OE 2012, o governo pretende manter o congelamento das carreiras e retirar os subsídios de férias e Natal, pelo menos parcialmente, ao funcionalismo público, ao sector empresarial do Estado e aos pensionistas.
Mas começou a aceitar excepções: o Banco de Portugal porque tem o estatuto do Banco Central Europeu, a Assembleia da República porque aprovou o seu orçamento uns dias antes da apresentação da proposta do Governo, a CGD porque sim, a EDP, a TAP, ...

Agora os militares exigem também um tratamento de excepção com o argumento incontestável de que possuem... as armas.
Primeiro, ouvimos Vasco Lourenço apelar aos militares para defenderem a população em caso de “repressão” por parte das forças de segurança sobre as futuras manifestações.
Poucos dias depois, Otelo Saraiva de Carvalho veio dizer que seria mais fácil fazer uma revolução em 2011 que em 1975. "Bastam 800 homens", explicou, tendo acrescentado que "a manifestação dos militares deve ser, ultrapassados os limites, fazer uma operação militar e derrubar o Governo. Não gosto de militares fardados a manifestarem-se na rua. Os militares têm um poder e uma força e não é em manifestações colectivas que devem pedir e exigir coisas".

Hoje decidiram manifestar-se — segundo a organização, mais de dez mil participantes entre almirantes na reforma, generais, sargentos e praças — percorrendo a ‘enorme’ distância entre o Rossio e o ministério das Finanças, no Terreiro do Paço.
Comportaram-se com educação, não gritando palavras de ordem, até ao momento em que apuparam o comandante supremo das Forças Armadas, Cavaco Silva, que foi o único político vaiado na manifestação.





Nada que nos deva surpreender. O 25 de Abril foi a revolta de uma corporação que viu a carreira prejudicada por chefias militares em consonância com Marcelo Caetano.
No meio dos corporativistas havia um homem culto — Melo Antunes (1933-1999) — que conseguiu convencer a corporação que seria bom para eles levar o País para o grupo das nações democráticas.
Depois fizeram vista grossa sobre os desmandos dos políticos que, agradecidos, recompensaram os militares dando-lhes os melhores salários da função pública — um sargento com o 9º ano tem um salário similar a um professor licenciado e entre as maiores pensões dadas pela CGA estão as recebidas por oficiais das forças armadas — e a corporação recolheu aos quartéis.
Ao longo de três longas décadas, viram em silêncio a destruição do sector produtivo — desaparecimento da agricultura, abate da frota pesqueira sem renovação, desmantelamento das unidades industriais —, viram a degradação da qualidade do ensino, o crescimento exponencial de uma imigração sem qualificações, a incompetência e o aviltamento da classe política. Nunca se manifestaram.
Uma situação financeira privilegiada é tudo o que pretendem, de novo.


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