quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A ruptura iminente da Zona Euro


Funcionários alemães e franceses têm estado a discutir uma reforma radical da União Europeia que passaria pela criação de uma Zona Euro formada apenas por países em condições de aprofundar a integração económica e definir politicas tributárias e orçamentais comuns.

"A França e a Alemanha tiveram intensas consultas sobre esta questão nos últimos meses, a todos os níveis. É preciso avançar muito cautelosamente, mas a verdade é que é preciso listar os que não querem participar no clube e os que simplesmente não podem participar", disse um alto funcionário da UE, em Bruxelas, à Reuters.

Num discurso dirigido a estudantes em Estrasburgo, na terça-feira, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, já referiu que uma Europa a duas velocidades — uma Zona Euro a avançar mais rapidamente que os 27 países da UE — era o único modelo para o futuro.

"Seria desfazer tudo o que nossos antepassados construíram meticulosamente e repudiar tudo o que defenderam nos últimos 60 anos. Iria redesenhar o mapa geopolítico e originar novas tensões. Poderia ser o fim da Europa tal como a conhecemos", contrapôs um diplomata da UE à Reuters.
Em Berlim, o presidente da Comissão Europeia Durão Barroso reforçou este receio: "Não pode haver paz e prosperidade no Norte ou no Oeste da Europa, se não há paz e prosperidade no Sul ou no Oriente”.

No entanto, a ideia de um país poder abandonar a Zona Euro surgiu na véspera da cimeira do G20 em Cannes na semana passada, quando a chanceler alemã Angela Merkel e o presidente Sarkozy admitiram que a Grécia poderia ter de sair para manter a estabilidade de Zona Euro.

Estas discussões entre funcionários europeus procuram reavaliar o projecto do euro, determinando que países e que políticas são necessários para mantê-lo forte e estável, antes que a crise da dívida consiga destruí-lo.
"Ao fazer este exercício, vamos chegar aos critérios que serão usados como referência para integrar e compartilhar as nossas políticas económicas", acrescentou o alto funcionário da UE.

"Não vamos ser capazes de falar a uma só voz e tomar decisões difíceis na Zona Euro tal como é actualmente. Não podemos ter um país, um voto", explicou um alto funcionário do governo alemão, referindo-se a regras que tornam a tomada de decisões lenta e complexa, agravando a crise.
Também em Berlim, Merkel pediu para serem introduzidas alterações no Tratado da UE porque a situação era tão desagradável que se tornava necessário um avanço rápido.

Segundo alguns funcionários da UE, serão discutidas alterações ao tratado na cimeira de 9 de Dezembro, em Bruxelas, sendo convocada uma ‘conferência intergovernamental’, o processo necessário para fazer alterações, no próximo ano.
Pretende-se criar uma estrutura com dois níveis: uma Zona Euro mais pequena que vai aprofundar a integração, inclusive em áreas sensíveis como a tributação das empresas e dos trabalhadores e levantar barreiras contra a crise da dívida soberana, enquanto os restantes países da UE vão formar uma ‘confederação’ que, possivelmente, se expandirá de 27 para 35 na próxima década, com o alargamento aos Balcãs e países de leste.

A ruptura é inevitável porque a França e a Alemanha vêem-se como a espinha dorsal da Zona Euro e, frequentemente, promovem iniciativas que os outros países da Zona Euro rejeitam.
A ideia de um núcleo parece não agradar aos Países Baixos e à Áustria, embora sejam potenciais membros.
A Grã-Bretanha também se opõe a qualquer movimento que pretenda criar uma Europa a duas velocidades ou institucionalizar um tal processo. "Devemos mover-nos juntos. O maior perigo que enfrentamos é a divisão", defendeu o seu vice-primeiro-ministro, Nick Clegg, durante a visita a Bruxelas na quarta-feira. A Grã-Bretanha, porém, sempre recusou aderir ao euro.

Mas o pior problema é a Grécia onde hoje colapsou o acordo firmado ontem para a formação de um governo de unidade nacional.
O presidente socialista do parlamento, que de manhã ia liderar a coligação entre o PASOK e a Nova Democracia, à tarde já não ia. Amanhã será retomado o nome do antigo vice-presidente do Banco Central Europeu, Lucas Papademos, que no domingo era dado como certo ir ocupar o lugar.
Mais insólito, ainda, foi ver o primeiro-ministro cessante, Papandreou, desejar felicidades ao seu sucessor e dirigir-se ao encontro do presidente da República, para comunicar à saída que não já não havia nenhum sucessor devido a desentendimentos entre os partidos políticos.

No meio do caos grego emerge Lucas Papademos que insiste com socialistas e conservadores para assinarem compromissos escritos de apoio ao resgate de 130 mil milhões de euros como, aliás, é exigido pela União Europeia. Em vão.
Entretanto a economia grega caminha paulatinamente para o abismo.


Sem comentários:

Enviar um comentário