quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O duunvirato europeu fez um ultimato aos gregos





Numa reunião de emergência com o primeiro-ministro grego George Papandreou, os líderes da Alemanha e da França disseram hoje à Grécia que não receberia nem mais um centavo da ajuda europeia até decidir se quer ficar na Zona Euro.
Esclareceram, ainda, que salvar o euro passou a ser mais importante do que resgatar a Grécia.

Na entrevista que concederam após a reunião, os dois líderes falaram em uníssono:
"Preferimos alcançar uma estabilização do euro com a Grécia do que sem a Grécia, mas a meta de estabilizar o euro é mais importante", disse a chanceler Angela Merkel.
"Os nossos amigos gregos têm de decidir se querem continuar a viagem connosco", reforçou o presidente Nicolas Sarkozy.

Papandreou indignou os parceiros europeus e provocou ontem o pânico nos mercados financeiros ao anunciar na segunda-feira à tarde que a Grécia iria referendar o segundo plano de resgate de 130 mil milhões de euros negociado com os líderes da Zona Euro na passada quinta-feira.

Depois de um jantar, que Merkel classificou como "duro e difícil" na véspera da cimeira do G20 em Cannes, Papandreou disse que o plebiscito pode ocorrer em 4 de Dezembro, clarificando o objectivo:
"Não é o momento de indicar as palavras exactas mas, na essência, não é apenas a questão do programa, é saber se queremos permanecer na Zona Euro."
Apesar das sondagens revelarem que a maioria dos gregos, cansados de dois anos de austeridade crescente, consideram o pacote de resgate como um mau negócio para a Grécia, Papandreou espera mais apoio da população que do parlamento:
"Acredito que os cidadãos gregos são sábios e capazes de tomar a decisão certa em benefício do nosso país."
No entanto, em toda a imprensa grega, mesmo nos jornais tradicionalmente defensores do governo, é quase unânime a condenação de Papandreou.
O Eleftherotypia, um jornal de centro-esquerda, chama-lhe "O Senhor do Caos" e o Ethnos, outro jornal pró-governo, classificou o referendo como "suicida".

Os líderes da UE também já reagiram à carta de Papandreou, dizendo que queria negociar os detalhes do segundo pacote antes do referendo.
A UE e o FMI endereçaram uma mensagem à Grécia informando que não receberia, até à votação do referendo, a parcela urgente de € 8 mil milhões prometida para este mês, porque os credores oficiais queriam ter certeza de que Atenas iria cumprir o programa de austeridade.
Segundo diz Papandreou, a Grécia tem dinheiro suficiente para continuar a funcionar até meados de Dezembro, momento em que vai precisar de resgatar um empréstimo superior a € 6 mil milhões.

Sarkozy e Merkel já anunciaram que os ministros das finanças da Zona Euro vão reunir-se na próxima segunda-feira para acelerar decisões sobre a alavancagem do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF), a porta corta-fogo que pretende proteger os membros fracos que existam entre as 17 nações da Zona Euro.
Depois do caos nos mercados desencadeado pelo anúncio do referendo grego, o FEEF foi forçado a adiar o plano para levantar 3 mil milhões de euros no mercado obrigacionista.
Se Papandreou perder o referendo e a Grécia entrar em falência desordenada, os bancos europeus perdem muito mais do que os 50% da dívida soberana grega já acordados e entram em risco países com economias muito maiores, como a Itália e a Espanha, que o fundo não tem meios para socorrer.

A dúvida sobre a capacidade europeia em conter a crise da dívida colocou a Itália na linha de fogo dos investidores.
O prémio de risco dos títulos italianos sobre as obrigações alemãs atingiu hoje novo máximo, apesar do Banco Central Europeu (BCE) ter ido ao mercado secundário comprar dívida soberana italiana.
Enquanto o primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi realizava uma reunião de emergência do gabinete para criar medidas no orçamento que acalmem os mercados, no parlamento pedia-se a sua demissão.
O ministro das Finanças da Irlanda acredita que o BCE será forçado a prometer "uma muralha de dinheiro" para comprar títulos, algo que incomodou muitos políticos.
Apesar disso, o BCE é, neste momento, o único baluarte europeu contra os ataques dos mercados.

Por isso, os membros asiáticos do G20 estão a pressionar a Europa para enfrentar a crise antes que provoque danos graves na economia mundial.
O ministro das Finanças chinês, Zhu Guangyao, manifestou a indisponibilidade de Pequim em investir mais no FEEF e o colega japonês Jun Azumi acrescentou que "todos estamos confusos".
O presidente sul-coreano Lee Myung-bak disse esperar rapidez e ousadia da parte do G20 na contenção da crise, antes que transborde para o resto do mundo.





O homem que quis disciplinar os gregos, por um lado, e, por outro, obter mais benesses para a Grécia pregando um valente susto à banca europeia e ao eixo franco-alemão — a estratégia Jerónimo/Louçã — corre o risco de atirar os gregos para fora da Zona Euro.
Desta vez o cavalo de Tróia falhou a sua missão.


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