quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Entrevista de Passos Coelho à SIC



"Se o orçamento é para reduzir a despesa, inevitavelmente vai trazer alguma recessão. Não há uma maneira de sairmos da situação em que estamos sem fazer esse caminho de austeridade. É importante é que o estímulo à economia, que resultará da implementação das reformas estruturais, coloque o País numa trajectória de crescimento económico a prazo."

"Não voltaremos a crescer em Portugal sem diminuir a despesa pública e sem reduzir o défice do Estado. Isso é essencial. Nessa medida, este orçamento também é uma condição de crescimento da economia. Sabemos que vamos dar primeiro um passo atrás, para depois podermos dar dois passos à frente.
Se gastarmos menos em 2012 e conseguirmos, como este orçamento prevê, que os impostos dos portugueses possam pagar a saúde, a educação, as políticas públicas de defesa, de justiça e ainda as prestações sociais, pela primeira vez, desde 1974, teremos um orçamento equilibrado (se não tivermos em linha de conta o que temos de pagar de juros, só a despesa corrente primária).
Todos os sacrifícios que vamos fazer destinam-se a que, no final de 2012, sem receitas extraordinárias, sem alguma batota conjuntural, nós consigamos bastarmo-nos com os impostos que temos."

"O nosso objectivo é libertar o País de uma carga fiscal excessiva, que é excessiva porque o País tem uma despesa excessiva.
Quando um País está na posição de gastar em termos de despesa pública, o Estado a gastar, mais de metade da riqueza criada, alguma coisa está mal. Os portugueses têm hoje uma das cargas fiscais mais elevadas.
O meu objectivo é que consigamos, em duas legislaturas, reduzir a despesa do Estado para cerca de 40 a 42% da riqueza que geramos, de modo a libertar mais poupança dos portugueses para o crescimento da economia, para o investimento e, portanto, reduzir a carga fiscal. Era possível em 2012? Não era."

"O maior risco que nós enfrentamos nesta altura é o de declínio económico. A nossa previsão é que a taxa de decrescimento da economia seja 3%.
Se isto, por razões externas, não se vier a confirmar, e for pior, evidentemente que há riscos do lado da despesa — através dos estabilizadores automáticos teremos de pagar mais prestações sociais, nomeadamente subsídio de desemprego — e sobretudo porque haveria menos receita que não permitiria chegar ao fim do ano de modo a cumprir a meta do défice.
Perante uma circunstância dessas, claro que nós teríamos de adoptar novas medidas. Não quero nesta altura dizer que medidas poderão ser. Julgo que não é a altura adequada para estar a falar disso.
Estou muito confiante em que o Estado saberá executar um orçamento que tem riscos mas é possível cumprir. A minha perspectiva não é a de ser pessimista mas realista e de mostrar profissionalismo para garantir aos portugueses que o esforço que vamos fazer será realmente cumprido."

"Eu disse, com muita antecedência que, se não ia haver despedimentos na função pública, não poderíamos excluir que, no sector empresarial do Estado, pudesse haver rescisões."

"Percebo que as pessoas sintam, hoje, vontade de manifestar a sua insatisfação pelo estado a que chegou o País e que, nomeadamente através da greve, tenham querido firmar a sua posição. Respeito isso, evidentemente.
Mas não posso deixar de valorizar todos aqueles que entendem que o País precisa de menos greves e mais trabalho. Precisa menos de gente que esteja sempre a chorar-se com uma perspectiva negativa sobre o que vai acontecer de péssimo a Portugal, mas de gente que esteja disposta a arregaçar as mangas e a lutar pelo País. A minha função como chefe do Governo é mobilizar o que de melhor o País possa ter para defender Portugal e não para parar o País ou para prejudicar ainda mais a nossa retoma económica."

"Temos de ter novos instrumentos, quer através dos reguladores, quer através da lei da concorrência, que permitam que haja uma verdadeira concorrência.
Temos, para já, a REN e a EDP em fase de privatização. São conhecidos os concorrentes que apareceram. Não há ainda uma decisão, será o conselho de ministros que a vai tomar. As propostas vinculativas serão apresentadas muito proximamente, o que significa que, antes do final do ano, estaremos em condições de concluir esse processo. Não é o governo que está a conduzir essas negociações, são entidades autónomas com credibilidade e mandato próprio.
O que nos interessa não é só o preço. Nós aprovámos o caderno de encargos da EDP e vamos aprovar o da REN. O preço é importante, não podemos vender as participações que temos nessas empresas ao desbarato, temos de ter a certeza que valorizamos estes activos, mas temos interesse, sobretudo, nos planos dos compradores para a expansão industrial destas empresas."


Sem comentários:

Enviar um comentário