sábado, 12 de novembro de 2011

A queda dos políticos europeus


Os investidores mundiais estão a impor o afastamento de primeiros-ministros europeus débeis ou coniventes com a degradação financeira e a corrupção dos agentes económicos dos seus países.
Parece existir um tecto de 7% nas yields da dívida soberana cuja transposição motiva a queda.

No início de Abril de 2010, o primeiro-ministro Papandreou viu os juros das obrigações do tesouro gregas, a dez anos, ultrapassarem os 7%. Quinze dias depois, pediu ajuda à UE e ao FMI.
Desde então a Grécia passou por vários pacotes de austeridade, viveu entre manifestações e greves da função pública, das empresas do Estado e dos beneficiários de subsídios e pensões, nunca tendo conseguido cumprir os défices orçamentais acordados ou avançar nas privatizações. Na passada terça-feira, 8 de Novembro de 2011, o terceiro primeiro-ministro da dinastia Papandreou demitiu-se para provocar a formação de um governo de unidade nacional entre o partido socialista grego e a Nova Democracia, o maior partido da oposição de direita.
Quem vai chefiar este governo? Lucas Papademos, governador do Banco da Grécia, entre 1994 e 2002, época da sua adesão ao euro, e vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), entre 2002 e 2010. O banco de investimento que assessorou a adesão grega à Zona Euro, colaborando na mistificação das contas públicas gregas, foi o banco norte-americano Goldman Sachs.

A Irlanda foi o segundo país a transpor o tecto dos 7%. Em Fevereiro deste ano, o então primeiro-ministro Brian Cowen, do partido centrista Fianna Fail, perdeu as eleições legislativas para Enda Kenny, do partido de centro-direita Fine Gael que formou uma coligação com o partido trabalhista irlandês.

Em Portugal as yields da dívida soberana furaram o tecto de 7% em Novembro de 2010. Quando o Parlamento rejeitou um quarto programa de austeridade, em Março de 2011, o primeiro-ministro, José Sócrates, pediu a demissão.

Espanha viu os juros das obrigações de dívida soberana, a dez anos, subir acima dos 6% enquanto o movimento dos indignados acampava na Puerta del Sol. Prudentemente, José Luis Rodríguez Zapatero, o primeiro-ministro socialista, antecipou as eleições legislativas para o próximo dia 20 de Novembro. Prevê-se que o Partido Popular, de direita, liderado por Mariano Rajoy, obtenha maioria absoluta.

Também se prevê para breve a queda de Iveta Radicova, a primeira-ministra da Eslováquia, pois o parlamento eslovaco só permitiu o alargamento do Fundo Europeu de Estabilização Financeira depois da convocação de eleições antecipadas para Março de 2012.

Na Itália os juros da dívida chegaram aos 7% esta quarta-feira. Ontem o parlamento italiano aprovou um pacote de austeridade. Hoje Berlusconi, o homem classificado pela revista "Forbes" como a 2ª pessoa mais rica da Itália e o 74.º homem mais rico da Europa, com uma fortuna estimada em 9 mil milhões de dólares, o dono da maior empresa da comunicação social, o político acusado em quase duas dezenas de processos de corrupção, o rei das festas e dos escândalos sexuais mas que ganhou por três vezes o voto do eleitorado, pediu a demissão.
Berlusconi caiu quando os mercados repararam que estavam a investir num País governado por um indivíduo sem credibilidade que criara uma pirâmide de clientelismo. Quando os investidores se afastam, surge a austeridade. Quando lhe diminuem a mesada, o povo retira o apoio aos políticos.

Já não é o povo que elege os deputados, são os investidores.

Nicolas Sarkozy e Angela Merkel estão a lutar denodadamente para salvar o euro, tendo já delineado um plano B: uma Zona Euro mais pequena que vai aprofundar a integração, inclusive em áreas sensíveis como a tributação das empresas e dos trabalhadores e levantar barreiras contra a crise da dívida soberana, enquanto os restantes países da UE vão formar uma ‘confederação’ que, possivelmente, se expandirá de 27 para 35 na próxima década, com o alargamento aos Balcãs e países de leste, noticiou na quarta-feira a Reuters.
Se as populações dos países europeus meridionais não ambicionarem pertencer à Europa culturalmente mais avançada, se não abandonarem a mentalidade da subserviência e da cunha, se não souberem distinguir entre tempo de estudo e trabalho e tempo de lazer, se não começarem a exigir competência, frugalidade, transparência e honestidade aos seus políticos, acabarão por ser afastadas da Zona Euro.

É uma luta difícil: pior que dominar o cavalo de Tróia dos PIGS, é vencer o do ‘amigo’ americano.
E ainda pode haver outros cavalos: Mario Draghi, que assumiu a 1 de Novembro a presidência do BCE, sucedendo a Jean-Claude Trichet, foi vice-presidente do Goldman Sachs International que se suspeita ter sido o banco de investimento que ajudou a Itália a falsear as suas contas para poder entrar na Zona Euro. E o homem que vai substituir Berlusconi e conduzir a Itália em tempo de crise — Mario Monti — fez também parte do banco norte-americano Goldman Sachs.
O que já levou o jornal “National Journal” a publicar uma reflexão sobre o mesmo assunto, num artigo intitulado ’Government Sachs’, Italian Style, onde pergunta:
"É apenas uma coincidência que algumas das figuras-chave da crise europeia sejam ‘Goldman guys’? Não. É provavelmente uma das razões porque estamos metidos nesta confusão."


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