"O senhor Vladimir Putin não é propriamente o tipo de pessoa que alguém queira para sogro ou para genro, quanto mais para guardião de mísseis nucleares.
Basta relembrar o dossiê da Ossétia do Sul ou o mortífero corte de fornecimento de gás à Ucrânia para recearmos o poder russo. Sobretudo nos países que estão próximos, como a tantas vezes invadida Polónia, que agora preside à União Europeia. Mas há uma coisa que a Polónia teme mais do que aquilo que o senhor Putin possa fazer: aquilo que a senhora Merkel não faz.
A Polónia não pertence à zona euro. Mas o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, que não tem a arrogância dos seus pares do Reino Unido, publicou ontem um artigo no "Financial Times" no qual, entre a coragem da denúncia e o desespero da súplica, escreve que só a Alemanha pode salvar a moeda única e, nisso, o próprio projecto de construção europeia. Mais: deixou escrito o que muitos dizem, que a Alemanha não é nem vítima, nem inocente, nem sequer parte desinteressada no processo de autodestruição do euro.
Faça uma pequena pausa para medir a importância deste apelo: é um diplomata europeu quem o assume, o que acontece nestes termos pela primeira vez; e é a... Polónia que apela à... Alemanha.
A sobrevivência do euro está presa por arames farpados. A acção política tem sido tão vaga e tão atrasada quanto possível, em grande parte por pressão das opiniões públicas nacionais, indisponíveis para o que lhes é apresentado como sacrifícios conjuntos para salvar os que se desgraçaram sozinhos. Compreende-se que os eleitores sintam dessa forma. Receia-se ver partidos populistas, radicais de esquerda e direita, colher da sementeira do medo.
Este absoluto estado de urgência coloca-nos aos pés e nas mãos da Alemanha. Angela Merkel, se fosse Darth Vader, não teria urdido melhor esquema para aprisionar os demais Estados na sua dependência. A chanceler é uma detestada Gata Borralheira que é querida como Cinderella. E por isso tem hoje o poder de fazer o que quer, como quiser — desde que queira e faça.
O "contrato" de disciplina orçamental que a Alemanha estará a preparar, do estilo tratado europeu instantâneo, é talvez o que é preciso, mas é certamente imposto em vez de conquistado, aceite em total submissão e necessidade pelos Estados aflitos. Este "contrato" terá como contrapartida a concessão de soberania pelos países, a favor do federalismo europeu, o que viabilizará uma política do Banco Central Europeu activa. Esse federalismo é bem-vindo. A forma como ele se emancipa é de bondade duvidosa.
A Europa está entre a desordem e a nova ordem. A desordem é o fim da União Europeia, a nova ordem é a sua refundação. Mas esta refundação é comandada pela Alemanha em termos que o resto da Europa não escolheu porque não pôde sequer escolher. É por isso que a sobrevivência do euro se faz à custa da morte do quadro institucional que a Europa desenhou, que tem em Barroso, em Van Rompuy e na baronesa Ashton os sinaleiros da decadência de um poder que, afinal, nunca foi autónomo.
O que está a acontecer na Europa é um movimento político histórico. Apresentado como motor salvífico das dívidas soberanas, ele foi montado da forma errada. Portugal, como outros países, não escolhe hoje o seu futuro. Dizem-nos que somos culpados. Mandam em nós. Façamos figas: comparada com Putin, Merkel é, de facto, uma libertadora. E, no entanto, estamos presos.
Pedro Santos Guerreiro"
johnquim 30 Novembro 2011
Qual o propósito deste artigo, Sr.?
Se é para influenciar a opinião do público acerca da potência militar que é a Rússia, deve dizer que esta não tem tropas espalhadas pelos quatro cantos do mundo. Não invadiu nenhum país nas últimas décadas. Nunca usou armas nucleares num conflito.
O mesmo não pode dizer-se dos EUA.
Deve também fazer a pergunta retórica aos leitores, para que estes reflictam:
"Como destabilizar um país enorme e multi-étnico para que este desmorone?"
Voltando ao início, qual o propósito deste artigo?
Dito isto, desejo que o autor do mesmo vá fazer amor extenuante com os pinheiros da floresta mais próxima.
Oberon__ 30 Novembro 2011
Propósito deste artigo
Devo confessar que me ri bastante com o seu post (pf encare isto como um elogio, porque o é).
Em relação ao artigo, penso o autor apenas tenta alertar, em forma de fábula, para o défice democrático que esta "salvação" do euro vai implicar. I.e., o processo de construção do euro sempre caminhou para um federalismo, todos os europeístas o sabiam. Tratava-se apenas de uma questão de esperar que os euro-cépticos e os nacionalistas mudassem um pouco de ideias (ou se extinguissem :) ). Já se tentou uma maior integração na UE, mas os referendos nacionais boicotaram o processo, o que daria a entender que a população ainda não estaria preparada para o federalismo.
Infelizmente, os contras associados à ausência de federalismo afectaram-nos mais cedo do que se esperaria. Logo, agora é necessário fazer as mudanças que todos sabiam que teríamos de fazer, e como o tempo urge teremos de contornar um pouco o processo democrático (pouco, é como quem diz...). Se, para mim, o fim é bom, já os meios deixam a desejar. Voltamos àquela velha questão: "os fins justificam os meios?"
Para além disso, e assumindo a existência de défice democrático, o autor alerta para a seguinte questão: será que vamos ter na Sra. Merkel um ditador benfeitor ou malfeitor?
Pusémo-nos, como há muito se diz, nas mãos dos credores.
johnquim 30 Novembro 2011
Nova crítica
Na altura que eu comentei só era visível o título e o primeiro parágrafo do artigo.
Mas mesmo assim, muito pelo título, mantenho o que disse.
E, já que tive acesso ao artigo completo, deixai-me dizer:
Perder soberania por causa da sobrevivência do Euro? Mas o Euro é O (o maiúsculo) derradeiro instrumento de controlo.
Está com arame farpado no pescoço? É a reacção de resistência do povo. Já falta pouco, mais um esticão e ficamos bastante mais livres.
Ou então deixem-me abrir um banco e, nesse caso, eu fico caladinho.
Oberon__ 30 Novembro 2011 - 12:45
Discordo novamente
Não encare isto de forma negativa, caro John, é por gostar de debate saudável que me "meto" consigo.
O Euro não é o derradeiro instrumento de controlo. Se assim o fosse, não estaríamos agora nesta situação. O derradeiro instrumento de controlo passa pela política orçamental e fiscal comum.
O arame farpado passará, digo eu, pela convergência dos interesses diversos de cada país europeu num tão curto espaço de tempo (e necessário, entenda-se). A resistência do povo não se tem feito sentir ainda ao ponto de inviabilizar o federalismo "imposto". Sentir-se-á quando "cheirar" a revolta popular focalizada nesse ponto. Tenho assistido ainda "apenas" a descontentamento popular relacionado com a austeridade.
Quanto à liberdade, penso que neste panorama se trata de um conceito subjectivo. Existe sim uma perda de autonomia nacional, não a favor de um país, mas sim de uma entidade supra-nacional. Se depois quiser argumentar quem terá mais "influência" sobre esse organismo supra nacional, isso já "são outros quinhentos".
Quanto aos bancos, infelizmente em Portugal a banca e o Estado têm uma relação simbiótica...
riaveiro 30 Novembro 2011 - 12:55
Fim da Democracia?
O que a Alemanha não conseguiu com duas guerras mundiais, está a consegui-lo com esta crise. Toda a Europa, está à espera da Oráculo alemã, que nos vai comunicar qual o caminho que vamos trilhar. Depois disto, não sei para que servem a comissão europeia, parlamento europeu e mais não sei quantas estruturas europeias, se tudo é dicidido na Alemanha! Em Berlim estão os chefes, que controlam os fiscais colocados em cada país, que fazem cumprir as directivas.
Oberon__ 30 Novembro 2011 - 13:07
Exacto
Para quem já conheceu alemães sabe bem que eles, desde a 2ª Guerra Mundial, passaram de geração em geração um plano maquiavélico para um dia voltar a dominar a Europa. Ou então a elite política alemã tem claramente um plano de expansão do seu domínio, a chamada colonização económica. Sem darmos conta disso, um dia nós portugueses estaremos todos a recolher o lixo e a trabalhar nas ruas da Alemanha e eles todos terão em Portugal a sua casa de férias.
PS: lá está a tal resistência nacionalista e euro-céptica, ou talvez algo menos elaborado que isso... (vou-me conter, para não usar essa palavra aqui)
johnquim 30 Novembro 2011 - 15:01
É um instrumento de controlo
A maior soberania de um governo é o controlo da sua moeda.
A relação simbiótica aparente dos bancos e dos governos não é exclusiva de Portugal, é a norma.
É aparente porque devia ser o governo, exclusivamente, a controlar a moeda. Não empresas privadas que são os bancos.
A moeda faz falta ao povo e consequentemente ao governo. A existência de moeda dispensa perfeitamente os bancos privados.
Quem controla a moeda, controla em grande parte o povo.
Com o euro, controla-se não um povo mas vários povos em simultâneo. E, por indução, algumas empresas privadas, alguns donos de empresas privadas controlam vários povos.
Quanto à crise e os condicionantes que se impõem a um federalismo, estão relacionados com o parágrafo anterior, com o estreitamento da cúpula do poder. A crise criada é simultaneamente a face visível e a desculpa.
Não há défice de recursos naturais, não há défice de saúde nem de mão de obra (por enquanto, espero não estar a dar ideias às pessoas erradas).
Há problemas criados artificialmente por um artifício que é a moeda actual.
Democracia
Quanto à perda de democracia, não vai acontecer.
É uma farsa de liberdade, sempre foi, e é útil para quem domina.
O povo não decide nada, nem tem competências para tal. Não tem, nem nunca terá, mesmo com uma cultura média óptima do povo. Nem sequer para decidir a quem delegar as decisões, porque depois não saberá avaliar o resultado. E mesmo que soubesse poderia ser tarde demais.
É simplesmente um conceito errado que não escala para além de uma pequena comunidade onde toda a gente se conhece.
Agora uma coisa completamente diferente: Vamos todos abrir um banco!
Oberon__ 30 Novembro 2011 - 15:52
Ideias diversas
Concordo: é uma falsa liberdade e o povo actualmente não decide nada. Acredito que é um caminho e não um conceito errado ad aeternum. Acredito num futuro a longo prazo em que uma classe média informada consiga governar através de um voto consciente com base num sistema democrático digno de seu nome. Por exemplo:
- votar na equipa de governo, por oposição a dar um cheque em branco a uma pessoa, para que esta constitua uma equipa governativa.
- programas eleitorais com detalhe de medidas e que vinculem, dentro do razoável, quem os redige.
- instituições isentas que nos permitam contornar a informação imperfeita, exemplos actuais: Tribunal de Contas, UTAO.
A relação simbiótica é a norma, sim. Expressei-me mal. Queria dizer que noutros países europeus o Estado consegue meter a banca num bolso, devido a um maior poder negocial que deriva do diminuto endividamento do Estado junto desta. Em Portugal, o Estado não consegue dominar a banca porque, simplesmente, esta é ao mesmo tempo seu credor.
Quem controla a moeda na Europa são os bancos centrais (em outros tempos eram os governos eleitos e creio que concorda que isso não deu muito bom resultado) e não empresas privadas. As empresas privadas controlam o mundo financeiro, dentro de um quadro regulatório apertado (provavelmente não tão apertado quanto se gostaria).
Por ultimo, não creio que existam problemas criados artificialmente por um artifício que é a moeda actual, mas sim o contrário. O controlo da moeda permite esconder problemas de uma forma artificial. Por exemplo este problema de competitividade só se resolve com medidas estruturais e não com uma desvalorização da moeda, como sempre se fez. Isso trata apenas de ganhar tempo. Se não crê que tenhamos problemas de competitividade e que não existem ganhos de eficiência em ser uma pequena economia aberta ao comércio internacional, então aí temos divergências ideológicas profundas.
Qualquer projecto europeu teria de passar por federalismo. Era, e é incontornável! Não se quer federalismo, não se quer a Europa. Querendo a Europa, é moralmente questionável o processo não democrático através do qual esse federalismo poderá vir a ser implementado.
johnquim 30 Novembro 2011 - 18:08
Divergimos profundamente
Ui! Se divergimos Oberon__! Você é crente em várias frentes.
As pessoas de classes médias e outras têm em primeiro lugar, da sua vida para tratar. Para pensar sobre assuntos tão complexos que decorrem de um sistema tão complexo como é uma sociedade de milhões de habitantes, é preciso dedicação a tempo inteiro, competências e inteligência. Não é uma leitura rápida pela manhã nalguma proposta de um homólogo cidadão não dedicado.
A votar em equipas em vez de chefe de equipa ficaria com o mesmo dilema.
Vincular programas? Essa é de rir à gargalhada.
Tribunal de Contas? Pelos vistos não andou nem anda a fazer bem as contas. Toda a gente sabe que o dinheiro público é muitíssimo mal gasto/desviado.
O que temos agora é a camada da farsa democrática sobre uma camada de pessoas competentes nas diversas áreas do conhecimento. A primeira camada é prejudicial em todos os sentidos e dispensável, claro!
A moeda não é a maior soberania? Bom, há vários vídeos com a papinha feita sobre este tema. A defender o meu ponto de vista daria pano para mangas. Fica um exemplar em inglês:
Não creio que tenhamos problemas de competitividade e que existem ganhos de eficiência em ser uma pequena economia aberta ao comércio internacional.
Cada país tem os seus recursos naturais e humanos, metê-los todos no mesmo plano com a internacionalização do comércio sem restrições é esmagar os que menos recursos têm. É pilhá-los descaradamente. É exploração de mão de obra e recursos naturais ao desbarato.
Só há falta de competitividade no momento em que as nações levantam as restrições no comércio mundial. No momento em que aceitamos competir.
Você faz-me lembrar o "querido" Cavaco Silva, enquanto presidente da república, ao dizer inocentemente: "O que é preciso fazer para os Portugueses terem mais filhos?"
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