quarta-feira, 27 de julho de 2011

Vamos pagar à Moody’s?


No parlamento, a Comissão de Orçamento e Finanças debateu esta manhã um projecto de resolução do Bloco de Esquerda que propunha a rescisão dos contratos com as três agências de notação financeira – Moody’s, Standard&Poor’s, Fitch.

Questionado pelo deputado João Galamba do PS, que advertiu para as dificuldades que as empresas enfrentariam no dia seguinte para se financiarem nos mercados, sobre qual seria o primeiro passo dessa rescisão unilateral, o deputado bloquista Pedro Filipe Soares respondeu:
O que se pode começar por fazer? Não pagar às agências de rating! Se o BCE, que é o nosso principal financiador, já disse que não olhava para as agências de rating, estamos nós a pagar vários milhões de euros às agências para elas dizerem, com seriedade que poucos aqui reconhecerão, que a dívida pública é impagável?

PSD e CDS reagiram criticando. O social-democrata Paulo Baptista Santos considerou que era “uma iniciativa de cariz ideológico” sobre “matérias que não estão ao nosso alcance, muito menos na forma de uma recomendação ao governo” e rematou perguntando “como seria possível o BCE, o nosso financiador neste momento, poder ser também o avaliador”.
O deputado centrista Adolfo Mesquita Nunes argumentou que “quem atribui crédito às agências de rating são os investidores e podemos criar as agências de rating que quisermos que, se os mercados não as entenderem como credíveis, de nada valerá”.



Já conhecemos o radicalismo do BE.
No entanto, não podemos esquecer que a agência de rating Moody’s decidiu descer quatro níveis a notação de Portugal para "lixo" apenas 13 dias depois de ter tomado posse um novo governo de maioria absoluta e 5 dias depois de ter sido anunciado um imposto extraordinário que vai permitir ao Estado arrecadar 800 milhões de euros.
É óbvio que o corte na notação insere-se na guerra do dólar contra o euro e tinha o objectivo de desvalorizar as empresas públicas que vão ser privatizadas, prejudicando gravemente o País. A Moody’s pensou nos seus interesses, os deputados lusos devem pensar nos interesses do País.

Andámos a chamar “You bastards” à Moody’s, andámos a enviar-lhe e-mails chamando-lhe tudo e mais alguma coisa, menos santa, remetemos-lhe pacotes de lixo, prometemos enfiar a espada de Afonso Henriques no “sim senhor” dos analistas da agência, tivemos os responsáveis máximos de todas as instituições europeias do nosso lado, travámos as descidas de rating da Standard&Poor’s e da Fitch, que também estavam em revisão, e agora aceitamos pagar milhões de euros à Moody’s? Não, não e não!

Se os senhores deputados tivessem algum brio tinham avançado com uma recomendação ao governo e certamente Passos Coelho, que conseguiu explicar à chanceler Merkel por que rejeitou o PEC IV, também seria capaz de explicar por que havíamos rescindido o contrato com a Moody’s. E a decisão devia envolver todos os países da zona euro.
Como não têm, ficamos à espera da diminuição do número de deputados da Assembleia da República de 230 para 180, conforme prometido no programa eleitoral do PSD.


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