quarta-feira, 27 de julho de 2011

Começam mal, muito mal - II




Ontem o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, disse no parlamento que estava “orgulhoso” das escolhas para o Conselho de Administração (CA) da CGD e garantiu que "são pessoas que preenchem os melhores critérios de excelência profissional (...) gestores com grande experiência na área bancária" e que constituem um “grupo coeso efectivo”.

Mas o que é que nós vemos?

A comissão executiva da CGD será presidida por José Agostinho de Matos que é o homem do ministro das Finanças e, tal como Vítor Gaspar, veio do Banco de Portugal. António Nogueira Leite será um vice-presidente e é a escolha do primeiro-ministro. Para vogais foram nomeados Nuno Fernandes Thomaz, que é a escolha do ministro dos Negócios Estrangeiros, Jorge Tomé, Rodolfo Lavrador, Pedro Cardoso. Ainda há um outro vice-presidente, Norberto Rosa. E vão 7.

Faria de Oliveira, o homem do presidente da República, mantém-se dentro do CA, mas agora como chairman.
Entra também o advogado Pedro Rebelo de Sousa que é sócio de uma sociedade de advogados, advogado de negócios da ENI e patrocina a Compal numa acção contra a... CGD.
E dois professores universitários, um da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e outro da Universidade Católica do Porto. E vão 11.


Hoje vieram dizer-nos que a CGD alterou o seu modelo de governação por sugestões das agências de rating (espantoso!) e porque a melhoria da governance do grupo Caixa é um dos compromissos assumidos no memorando de entendimento assinado com a troika.
Em comunicado enviado às redacções dos jornais, a CGD explica que foi escolhido "o modelo anglo-saxónico com um Conselho de Administração, uma Comissão de Auditoria integrada no Conselho de Administração e um Revisor Oficial de Contas". Foi extinto o Conselho Fiscal, pelo que "há apenas mais um elemento a compor o Conselho de Administração do que no modelo anterior em que coexistiam o Conselho de Administração e o Conselho Fiscal que, recorde-se, era composto por três membros”.

Os contribuintes não estão interessados em saber se há mais um ou mais quatro administradores.
O que querem conhecer são as remunerações totais de cada elemento do extinto Conselho Fiscal, que as dos elementos do antigo Conselho de Administração o CDS fez o favor de divulgar durante a pré-campanha eleitoral, e quais vão ser as remunerações de cada elemento do novo Conselho.
Depois fazemos as contas e lavramos o veredicto. O resto é paleio para enlear analfabetos.

Porque foi implementado um novo modelo de governance para aumentar a eficiência da gestão e diminuir a despesa pública, não é verdade?
É que um antigo presidente do CA da CGD veio lembrar: "Foi um modelo ensaiado há uns anos e não deixou boa memória. Espero que se tenham acautelado as razões do insucesso quando este modelo foi tentado há uns anos atrás."




Actualização em 28 de Julho:

De acordo com o Negócios, a distribuição de tarefas ontem aprovada na primeira reunião do novo conselho de administração é a seguinte:

O novo CEO José de Matos fica responsável, entre outros pelouros, pela gestão do risco de crédito.

O pelouro da rede comercial, que no anterior conselho pertencia ao ex-vice-presidente Francisco Bandeira, passou agora a ser partilhado por dois vogais executivos: o reeleito Jorge Tomé fica com o crédito e a rede de empresas, enquanto o estreante Nuno Fernandes Thomaz assume o retalho de particulares.
Além da rede comercial, Jorge Tomé vai manter o pelouro da banca de investimento e das participações empresariais da Caixa, além dos negócios de seguros e da saúde, cuja privatização é imposta pelo acordo com a troika.

Os dois vice-presidentes executivos, António Nogueira Leite e Norberto Rosa, vão ficar responsáveis, o primeiro, pelo planeamento estratégico e pela gestão de riscos de balanço, e o segundo, entre outras competências, pela pasta dos recursos humanos.

As operações internacionais da Caixa continuarão a ser um pelouro de Rodolfo Lavrador, ainda que uma pequena parte dessa pasta seja partilhada com Fernandes Thomaz. Pedro Cardoso, que também transitou da anterior equipa, assumirá a gestão financeira do banco.

Os administradores não executivos terão funções de controlo:
O chairman Fernando Faria de Oliveira terá como missão presidir ao Conselho de Administração, colaborar na definição da estratégia da CGD, e coordenar a actividade da administração e das comissões de aconselhamento da administração.
Eduardo Paz Ferreira, Pedro Rebelo de Sousa e Álvaro Nascimento vão controlar a acção dos executivos, através das várias comissões — auditoria, estratégia e governação, avaliação e remunerações —, presidindo Paz Ferreira à comissão de auditoria.


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