sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Um país em putrefacção pode não cheirar mal


Uma senhora de 87 anos deixou de ser vista pelos vizinhos. O prédio onde vivia, há cerca de 30 anos, tem cinco andares com três apartamentos cada, todos habitados. Pagou o condomínio, pela última vez, em Agosto de 2002.

Uma vizinha, tendo notado a sua ausência, reparado que a caixa do correio estava cheia e havia, no chão, cartas da Segurança Social com os vales da sua pensão, decidiu participar o seu desaparecimento à GNR de Rio de Mouro, em 12 de Novembro de 2002. Disseram-lhe que não podiam abrir a porta, mas ninguém estava lá dentro morto pois não cheirava mal.
O processo ficou com o registo 2274/2002 NUIPC 1086/07.2 TQSNT.

A vizinha resolveu, então, procurar alguém da família da senhora e conseguiu encontrar alguns sobrinhos. Um familiar participou o caso à PSP de Sintra, mas explicaram-lhe que era preciso ordem do tribunal para abrir a porta do apartamento.
Ninguém investigou. Passaram quase nove anos.

Na terça-feira uma agente da PSP foi chamada para auxiliar à penhora de um apartamento, na Rinchoa, que tinha sido vendido por 30 000 euros num leilão realizado pelas Finanças, por causa se uma dívida de 1475 euros.
No local estava um funcionário das Finanças, a nova proprietária do apartamento, que o ia visitar pela primeira vez, e um serralheiro com a incumbência de arrombar a porta. Mas a porta não abriu totalmente porque uma corrente de segurança o impediu. Tiveram de arrombar a corrente para entrarem no apartamento.
No chão da cozinha encontraram o corpo da senhora, em avançado estado de decomposição. O seu animal de companhia, um cão, estava também morto na varanda.


"Sabemos que houve uma participação feita na GNR de Rio de Mouro, através de uma vizinha. Sei também que, de facto, houve um familiar que procurou a GNR, mas como não tinha chave não se conseguiu entrar no apartamento", disse uma fonte da PSP contactada pela agência Lusa.
Segundo esta fonte, em casos de suspeita de falecimento de idosos, o procedimento habitual passa por contactar familiares ou, se não houver família, solicitar autorização ao Ministério Público.
Acrescentou que "este caso é muito estranho. Não é normal ninguém ter detectado maus cheiros vindos da habitação".

A Lusa procurou obter do Ministério das Finanças e da Administração Pública uma explicação sobre a venda do apartamento num leilão sem uma avaliação prévia, sem que ninguém tenha entrado no imóvel antes da realização do leilão. O gabinete de imprensa respondeu que "a administração fiscal actuou sempre dentro da legalidade e com o zelo e a prudência aconselhados pelas várias circunstâncias".
Não é essa, porém, a opinião de alguns fiscalistas que consideram que o processo de penhora da casa pode ser anulado.

A mentira e a hipocrisia reinam neste país. E a função pública (tanto o sector administrativo como o sector empresarial do Estado), pela voz das chefias, dá o pior exemplo.


Anónimo. 10.02.2011 00:51 Via PÚBLICO
Incompetentes
País governado por incompetentes, incapazes e irresponsáveis! O mais curioso, ainda, é que nunca há responsáveis por estas coisas. Ainda para mais a máfia das finanças mete as coisas em leilão sem se dar ao trabalho de fazer qualquer tipo de investigação. Têm que meter isto nos recordes do guiness, no tópico 'record da estupidez'.


FMFM. 10.02.2011 02:13 Via PÚBLICO
Que estranha gente, que esquisito país
Em pleno século XXI, num país europeu! A ninguém passou pela cabeça que uma senhora com quase noventa anos não poderia ir longe sozinha! A ninguém passou pela cabeça pedir ao juiz do tribunal um mandado de busca. Se a senhora desapareceu e não aparecia em lado nenhum, as buscas teriam de começar pela casa para, no mínimo, encontrar aí uma pista para tentar descobrir para onde poderia ter ido. Ninguém na vizinhança, à excepção de uma vizinha, se preocupou, os agentes da autoridade, que foram informados do seu desaparecimento, não se incomodaram — que estranha gente, que esquisito país!

Anónimo. 10.02.2011 Via PÚBLICO
RE: Que estranha gente, que esquisito país
As pessoas não são estranhas, algumas tornaram-se indiferentes como forma de se protegerem e de não levantarem questões que julgam não lhes dizerem respeito. Quem procedeu mal, e deve responder por isto, é a GNR. Ou, então, procedeu de acordo com o que a Lei lhe permite, é assim os procedimentos da qualidade. Averigúem.


fmart8. 10.02.2011 09:30 Via PÚBLICO
História estranha, quase sinistra
1 - Uma mulher morre e só um dos 14 vizinhos desconfia?
2 - A decomposição dos corpos não deitou cheiro?
3 - O cão, que estava na varanda, não ladrou incessantemente?
4 - As finanças leiloam a casa de uma pessoa por €30.000 por uma dívida de menos de €1500 (presumivelmente o IMI)?
5 - A diferença reverteria para quem? Não digam que é tudo lucro para as finanças porque nesse caso teríamos um Estado oficialmente ladrão!
Reporta-se uma pessoa como desaparecida. A GNR coça a barriga e o Tribunal não faz nada, mesmo depois da vizinha (uma idosa) ir lá várias vezes.
Mas afinal andamos a ser sodomizados com impostos para pagar «profissionais» destes?


Anónimo. 10.02.2011 10:15 Via PÚBLICO
Sistema da incompetência ...
... conveniente. As finanças, os tribunais e os solicitadores de execução são assim uma espécie de máfia constitucionalizada. São como abutres, cuidado com esta gente, são perigosos. Já agora cuidado também com as empresas de condomínios, são os principais informadores e regra geral tem empresas de leilões associadas.

Anónimo, lx. 10.02.2011
RE: Sistema da incompetência ...
Excelente conselho. Desconhecia que havia "panelinha" entre empresas de condomínios e leiloeiras. É sempre bom saber com o que contar!


reisa. 10.02.2011 11:46 Via PÚBLICO
Morte
Nesta terra onde os governantes estão mais preocupados com gays, é normal que os velhos não mereçam mais atenção, a vizinha contactou certas autoridades para alertar mas eles não ligaram nenhuma. Como classificá-los?

jbs, estremoz. 10.02.2011
RE: Morte
E a família, como classificá-la? Em Portugal todos culpamos o Estado de tudo, mesmo daquilo que é nossa responsabilidade. Não achas? A senhora tinha sobrinhos que até sabiam que tinha desaparecido. O que fizeram? A culpa é do Estado? Da Policia? Do Governo? Então explica-me qual o papel dos sobrinhos, são apenas irresponsáveis?

Vitor Martins, Portugal. 10.02.2011
RE: RE: Morte
Caríssimo: como apenas olha para um lado, recomendo-lhe uma panorâmica da situação. Conhece a família? Conhece o tipo de relacionamento que havia? Nem todos nós temos a mesma relação com familiares que outras pessoas. Nem todos nós temos o mesmo tipo de ligação afectiva, sentimental com os nossos familiares. Aliás, costuma-se dizer que não escolhemos a família e tal é referido quando há problemas de relacionamento.
A questão dos vizinhos é apenas um reflexo da nossa sociedade actual, pelo que aplaudo as excepções como a vizinha da senhora que faleceu há nove anos, que tentou fazer algo.
Considero muito mais grave a questão dos organismos públicos e a ausência de actuação da sua parte. Como é possível que, ao longo de praticamente 9 anos, ninguém reparou que as pensões não eram levantadas? Logo neste país. Está clara, nesta situação, a falha de alguém (seja individual, seja institucional, seja da Segurança Social, seja das autoridades).
Esta situação deveria envergonhar-nos... e envergonha-me, entristece-me.
Abraço


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