sábado, 12 de fevereiro de 2011

Quarenta anos depois


Li a letra da canção “Parva que sou” nas caixas de comentários do JN e, embora reconhecendo que retrata a situação da maior parte dos jovens licenciados, pareceu-me pobrezinha e não consegui interessar-me pelo tema.
Ontem, outro comentador voltou a falar na canção e deixou um link para o Youtube. Segui-o com a ideia de fazer uma avaliação à música, reprová-la definitivamente e pôr uma pedra sobre o assunto.
O choque emocional foi de tal grandeza que me fez regressar quarenta anos atrás quando ouvi "Os Vampiros".

Decidi procurar e ouvir outras interpretações do grupo Deolinda e detestei. Parece-me que não têm capacidade criativa para conceber outra cantiga como esta. Mas que ninguém subestime “Parva que sou” porque tem uma força excepcional e vai transformar-se no hino de uma geração que se ludibriou ou foi ludibriada.
Avaliem:




Os Vampiros
José Afonso — 1963
Composição: José Afonso

No céu cinzento
Sob o astro mudo
Batendo as asas
Pela noite calada
Vêm em bandos
Com pés de veludo
Chupar o sangue
Fresco da manada

Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada

A toda a parte
Chegam os vampiros
Poisam nos prédios
Poisam nas calçadas
Trazem no ventre
Despojos antigos
Mas nada os prende
Às vidas acabadas

São os mordomos
Do universo todo
Senhores à força
Mandadores sem lei
Enchem as tulhas
Bebem vinho novo
Dançam a ronda
No pinhal do rei

Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada

No chão do medo
Tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos
Na noite abafada
Jazem nos fossos
Vítimas dum credo
E não se esgota
O sangue da manada

Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada

Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada



Parva que sou
Deolinda — 23 Jan. 2011
Música e letra: Pedro da Silva Martins

Sou da geração 'sem remuneração'
e não me incomoda esta condição.
Que parva que eu sou...
Porque isto está mau e vai continuar,
já é uma sorte eu poder estagiar.
Que parva que eu sou...
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.

Sou da geração ‘casinha dos pais’,
se já tenho tudo, p'ra quê querer mais?
Que parva que eu sou...
Filhos, marido, estou sempre a adiar
e ainda me falta o carro pagar
Que parva que eu sou...
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.

Sou da geração ‘vou queixar-me p'ra quê?’
Há alguém bem pior do que eu na TV.
Que parva que eu sou...
Sou da geração ‘eu já não posso mais
que esta situação dura há tempo demais!’
E parva eu não sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.




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