sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Entrevista ao reitor da Universidade Técnica de Lisboa


Fernando Manuel Ramôa Ribeiro, de 65 anos, reeleito por unanimidade reitor da Universidade Técnica de Lisboa (UTL), onde estudam mais de 22 mil alunos, assinalou a sua tomada de posse com uma entrevista que é obrigatório ler.




Destacamos a parte das fusões de universidades e a necessidade de rankings:

Sente da parte dos outros reitores a mesma disponibilidade para falar de fusões?
O reitor da Universidade de Lisboa (UL) tem-na manifestado publicamente... Com os outros reitores não tenho falado.

Mas é inevitável que acabe por acontecer?
É inevitável se se preservar a autonomia das universidades, com o seu próprio modelo de gestão. Seria importante associar também todos os centros de investigação de Lisboa. Mas é naturalmente um processo longo. Estas fusões em França demoraram oito, nove anos a acontecer, porque há uma grande resistência das universidades.

Dou um exemplo: a UL não tem cursos de Economia nem de Gestão. Nós temos o Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), que é a escola mais antiga nesta área... Mas a UL tem Direito. E nós não temos Direito. Já temos dito que era importante ter maior mobilidade de docentes de Direito para a nossa universidade e docentes de Economia e Gestão para a faculdade de Direito. Isso são coisas de que já estamos a tratar. E já há vários doutoramentos conjuntos, que têm sido um sucesso.

Em Portugal é preciso racionalizar o sistema de ensino superior. Há universidades a mais, politécnicos a mais, licenciaturas a mais, mestrados a mais. A agência da avaliação e acreditação do ensino superior (A3ES) tem feito um bom trabalho, mas não pode tomar decisões políticas.

Nos EUA, pelo menos até há algum tempo, para que uma universidade fosse criada tinha que ter dois milhões de pessoas à volta. Em Portugal se essa regra existisse... [no país existem 15 universidades públicas].

Há condições para começar já esse debate das fusões?
Vamos aguardar algum tempo e talvez dentro de seis meses possamos começar a discutir.

Significa transformar as instituições universitárias que existem em Lisboa numa só?
Ou não. Em França tem-se feito uma coisa: ter uma instituição chapéu, um reitor, ou um presidente da universidade, sendo que as universidades mantêm alguma da sua autonomia. Do ponto de vista externo aparece "Universidade de Lyon" — e houve fusões de faculdades, juntaram-se os centros de investigação, porque não se pode fazer investigação separada do ensino. Portanto, a ideia pode ser essa: haver um presidente único, em que as universidades de Lisboa possam numa fase inicial manter a sua autonomia, e ter uma "Universidade de Lisboa" ou "Técnica de Lisboa" — o nome, depois, será certamente motivo de discussão porque todos quererão manter o seu nome.

Isso significa acabar com cursos. Por exemplo: em vez de haver um curso de Ciências da Comunicação na Universidade Nova e outro na Técnica, passaria a haver um só.
Sim, por exemplo.

Serão precisos menos professores.
Poderia implicar a redução do número de professores, mas se os alunos aumentarem, não haverá grande redução. Em relação aos professores, há um assunto que neste momento acho muito mais complicado, que é a renovação do corpo docente. A idade média dos docentes na UTL é 50 anos. Penso que em Outubro será possível haver alguma renovação, porque 50 catedráticos e associados vão aposentar-se. E, portanto, vai-se libertar alguma verba para contratar professores auxiliares. É urgente contratar. Ainda por cima, temos jovens doutorados no estrangeiro de grande qualidade e não nos podemos dar ao luxo de perder os nossos melhores. Os grandes saltos dão-se com pessoas geniais e não podemos perder os nossos génios que estão no estrangeiro. É preciso sangue novo.

Constitucionalmente não é possível mandar fechar um curso que não tem empregabilidade. Devia ser possível?
Acho que sim. Na UTL temos valores de empregabilidade muito bons, o que significa que os nossos diplomas são muito valiosos — dados de 2006 a 2008 mostraram que os diplomados têm emprego assegurado no 1.º ano em 95% dos casos. Mas há instituições com cursos de empregabilidade muito baixa.

Fala muito de rankings, mas em Portugal não há rankings de universidades.
Falo muito de rankings ao contrário de alguns dos meus colegas.

Em Inglaterra existe um ranking feito todos os anos e nenhuma instituição acha mal que de um ano para o outro passe do 1.º lugar para o 4.º...

Quem pode fazer o ranking cá?
A própria A3ES pode ter esse papel. Vai ter muita informação sobre os centros de investigação, os cursos, as licenciaturas que são más. Não sei se o professor Alberto Amaral [o presidente da agência] se quer meter nisso, mas a A3ES é um organismo que todos consideramos isento.

Quem tem medo dos rankings é quem tem pouca qualidade?
Não queria ser tão forte nessa afirmação. Vai haver um ranking europeu, que está a ser preparado pela Comissão Europeia, e nós temos que entrar. As instituições que não apanharem o comboio ficarão afastadas da participação nos grandes projectos comunitários. É minha intenção nomear um pró-reitor para os rankings que terá entre outras funções a de estudar os rankings internacionais, estar atento, perceber por que é que por vezes não aparecemos...


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