Discurso da tomada de posse aqui.
Um discurso de antologia
A anos-luz do néscio e mesquinho discurso do dia da sua eleição em que, aproveitando-se da reduzida qualificação da maioria do eleitorado, tentou negar o que era inegável porque amplamente documentado e que, em qualquer democracia ocidental avançada, daria direito a destituição.
Em cerca de meia hora descreve-se a calamitosa situação financeira do país, o anémico crescimento económico, a promiscuidade entre a política e o empresariado, a voracidade e inoperância de uma função pública, nas vertentes administrativa e empresarial, asfixiada por chefias nomeadas por compadrio e ao arrepio do mérito, a alienante propaganda política que conduziu a um país virtual.
Traçam-se directrizes — a agricultura, a floresta, o mar e a inovação tecnológica. Elogia o trabalho dos jovens investigadores e empresários, o altruísmo da mocidade e termina apelando à juventude para levantar a sua voz em defesa de uma nova ordem social.
Um discurso perfeito, um actor perfeito. Os (poucos) que acreditarem vão ter uma amarga desilusão.
Setenta e um anos a defender os seus interesses e os interesses de familiares e correligionários políticos, não enganam. E também não engana a demagogia de apontar, como via para o crescimento, os recursos agrícolas e marítimos, cuja exploração ajudou a destruir, a inovação tecnológica, tentando apropriar-se do único mérito dos governos Sócrates (não obstante as negociatas a que deu azo) largamente apreciado pelo eleitorado, e de cavalgar o descontentamento da ‘geração à rasca’ com o objectivo de obter o poder total — um presidente, um governo e uma maioria absoluta.
Mas é inquestionável que a mentalidade lusa de aversão ao estudo e ao trabalho intelectual, apologista do facilitismo — o português é, tipicamente, comerciante e bon vivant — também não permite outro tipo de comportamento político.
O governo aguentou estoicamente a merecida bofetada de luva branca e os senhores que se seguem aplaudiram entusiasticamente. Quando o poder lhes cair na mão, prosseguirão, lamentavelmente, na mesma rota.
Quando o Presidente da República apelou à mobilização dos jovens, José Sócrates sorriu.
joao ribeiro, penafiel. 09.03.2011 17:49
Fumo branco!
Será que o nosso presidente acordou agora de um sonambolismo latente? É o que parece, depois de ouvir o seu discurso. Será que é desta que vamos ter um presidente capaz de enfrentar uma Assembleia da República e pôr ordem naquela balbúrdia? Ou vamos ter mais do mesmo, ou seja, refém do poder da política e dos grandes lobbies?
Luís Assunção, Parede. 09.03.2011 22:02
Falta uma parte do discurso... ou não?
Excelente discurso dizendo as verdades de La Palisse, mas acho que se esqueceu de uma parte. De facto faltou dizer que foi ele como 1º ministro que iniciou a "desbunda" a que isto chegou...
Por exemplo: Quem desmantelou a Marinha Mercante? Quem acabou com a Agricultura em Portugal negociando PAC's com Bruxelas? Quem iniciou a privatização do que era do Estado e lucrativo? Quem construiu com betão CCB's para festejar a vitória eleitoral e albergar colecções de comendadores que nada produzem no País? Enfim... grande discurso para esquecidos.
Pedro S., Aveiro. 10.03.2011 00:00
Está só a preparar caminho...
Continuo a não acreditar em Cavaco. Aquilo que fez enquanto 1º Ministro e no 1º mandato de Presidente da República não desaparece com um discurso mais inflamado. A engorda do Estado, o desmantelamento de indústrias, agricultura e pescas, as sucessivas reformas educativas não foram esquecidas por mim. A 2ª vinda do FMI na sequência do seu "belíssimo" trabalho como Ministro das Finanças também não foram esquecidas. Nem os negócios obscuros com os amigalhaços.
Sinceramente, acho que está só a preparar o terreno para dissolver a Assembleia da República, quando a direita tiver a maioria absoluta garantida nas sondagens, e com gente da confiança dele metida nos lugares de topo. O discurso tem muito boas intenções, mas o orador tem um cadastro muito negro. Gostava muito de estar enganado...
ABemDaNacao 09 Março 2011 - 22:14
Grande sentido de oportunidade de Cavaco...
Estamos a um par de dias das primeiras manifestações inequívocas de descontentamento do povo e Cavaco, que leva já uns anos nas costas com o tacho de Presidente (e usufruto de múltiplas reformas/salários), de repente insurge-se contra o estado das coisas. Tenta agora, num último gesto para se limpar, cavalgar a revolta popular que se avizinha proferindo mais um dos seus discursos mesquinhos e em tom de ajuste de contas. É uma espécie de oportunista da pior espécie, que se aproveita do sofrimento de milhares de Portugueses, quando nunca fez efectivamente nada para os defender. Grande sentido de Estado, parabéns e um manguito presidencial para si também!
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