sexta-feira, 30 de maio de 2014

Os socratistas aprontam-se para regressar ao poder


Sendo certo que António José Seguro é o rei das meias-tintas, como diz o autor deste artigo com que concordamos na generalidade, já temos sérias dúvidas que a sua saída da liderança do PS seja um grande salto para Portugal. Vamos explicar porquê.

Seguro é um líder fraco que, não só não denunciou os erros e os crimes dos socratistas na gestão das finanças do País, como também não foi capaz de apoiar a lei do enriquecimento ilícito. Votada favoravelmente por PSD, CDS, PCP-PEV e BE, recebeu os votos contra do PS dando azo a que o sinistro presidente da República enviasse a lei para o tribunal constitucional onde a maioria dos juízes subordinados ao poder político a declararam inconstitucional.

Ao contrário de Passos Coelho que na primeira metade do seu mandato tentou controlar a corrupção — a lei do enriquecimento ilícito é a prova —, mas depois de perder apoio popular por causa das medidas de austeridade ficou refém de Cavaco Silva e do poder local que é corrupto.

António Costa saiu a meio do primeiro governo de José Sócrates e portanto não pode ser responsabilizado pelos erros crassos que foram cometidos durante o consulado socratista de seis anos. Mas saiu para se instalar na câmara municipal de Lisboa que é o local privilegiado para esperar que o eleitorado se canse de um líder político, para depois dar o salto para primeiro-ministro. Não foi para se afastar dos actos dos seus correligionários que nunca condenou, nem sequer criticou.

E quem é que está agora a apoiar Costa? São os socratistas, recorrendo à mentira e à propaganda onde são mestres.
Para isso já tinham contratado Alexandre Krausz, um consultor de comunicação social, para montar a rede de propaganda política Capacitar Portugal António Costa 2015, no Twitter e no Facebook, rede essa que apareceu à luz da noite das eleições europeias. Obviamente que Krausz, assessor de Jorge Lacão, Pedro Silva Pereira e do próprio primeiro-ministro no primeiro governo de José Sócrates, romanceia a história.

Nessa página do Facebook está publicitada uma petição online que reivindica a realização de eleições internas no PS. Intitulada “Requerimento aberto dirigido a todos os órgãos dirigentes do PS”, o autor — o militante Manuel José Pereira, n.º 74067, Baião, no Porto —, sem nunca nomear António Costa ou António Seguro, defende também a realização de assembleias gerais e plenários das estruturas locais e concelhios, para análise da “situação política nacional e europeia e proceder à convocatória de congressos extraordinários federativos”. Foi lançada poucas horas depois de António Costa manifestar a sua disponibilidade para liderar os socialistas, também, claro, por mero acaso...

Os socratistas governaram o País durante seis anos na base da propaganda, distribuíram diplomas escolares que aumentaram a auto-estima das pessoas mas não as beneficiaram profissionalmente e concederam subsídios, a torto e a direito, entre os seus apaniguados.
A pior atitude, porém, foi terem deixado subir os juros da dívida pública, ao longo de 2010, até chegar aos 6,7%, e atiraram os encargos para cima das costas dos funcionários públicos, impondo cortes nos salários da função pública, a partir de Janeiro de 2011, com o PEC3, que seriam extensivos às pensões, em 2012, com o PEC4.
O rating da República caiu para “lixo” e, concomitantemente, o dos bancos e das empresas que foram obrigados a contrair empréstimos com juros mais elevados, prejudicando accionistas e despedindo trabalhadores.
Agora que terminou o programa de assistência económica e financeira, que negociaram com a troika, e os juros estão em pouco mais de 3% aprontam-se para regressar ao poder, com a benção de Mário Soares que há um ano tecia elogios a Seguro. Em português vernáculo, isto chama-se pulhice.


Selfie no Chiado durante a campanha para as europeias, com Martin Schulz por detrás de António José Seguro e António Costa
ENRIC VIVES-RUBIO


A propaganda tem efeito em grande parte dos portugueses que aliam as medidas de austeridade à actuação deste governo. Não é fácil explicar à maioria dos portugueses que os 78 mil milhões de euros que o País tinha de pedir emprestado nos últimos três anos, para rolar a dívida pública, vai aumentar anualmente essa dívida em mais de 5,2 mil milhões se a taxa de juro for 6,7%, mas se for apenas 3% só aumenta em 2,3 mil milhões.
E o mesmo acontece com o resto da dívida pública, o que significa que o pior já passou, além de que está a ser feita uma reestruturação suave pelo alargamento do prazo dos empréstimos com descida das taxas de juro. O leitor pode consultar os valores e as projecções dos nossos credores que não brincam em serviço.

A ilusão de muitos portugueses é que é possível pôr a dívida pública a zero e depois voltamos a endividarmo-nos para relançar a economia. Como foi feito na Alemanha, dizem os partidos da esquerda radical que também vivem de propaganda.

É falso. A dívida alemã não foi criada por empréstimos, era uma dívida por indemnizações exigidas pelos vencedores da I guerra mundial (1914-18) ao povo alemão que não teve a mínima responsabilidade, pois não viviam em democracia e a guerra foi declarada pelo imperador Guilherme II.
Aliás, foi a profunda injustiça de condenar o país vencido e que perdeu as colónias durante a contenda a pagar uma pesada indemnização de guerra, algo inédito, que levou os alemães a eleger Hitler e a apoiar a II guerra mundial (1939-45) até ao fim, mesmo depois da economia alemã estar destruída e das maiores cidades alemãs estarem em ruínas.
Os aliados, vencedores desta guerra, compreenderam a revolta do povo alemão e não só perdoaram essa dívida, como concederam empréstimos para que a Alemanha relançasse a economia, o que os alemães fizeram sozinhos porque são disciplinados, organizados, activos e não alinham com compadrios e corrupção.

Pelo contrário, Portugal saiu da guerra colonial com as dívidas da monarquia constitucional e da primeira República pagas, uma indústria florescente e 866 toneladas de ouro guardadas nos cofres do Estado.
E ainda recebeu 55 mil euros oferecidos pela União Europeia durante os 25 anos após a adesão do nosso País em 1985.
Se estamos mal, devemo-lo inteiramente aos nossos políticos pós-25 de Abril que se serviram do País, em vez de servir o País.

António Costa está preso na rede dos socratistas, uma corja de facínoras que na Alemanha e nos países do Norte da Europa teria sido julgada e condenada em tribunal pela gestão danosa do nosso País durante seis anos.
Não foram julgados porque o poder judicial não é independente do poder político, é a própria Constituição da República que subordina a escolha dos juízes do Conselho Superior da Magistratura à assembleia da República e ao presidente da República.

Para os que dizem que António Costa venceu no concelho de Lisboa com 50,9% dos votos porque tem obra feita, lembro que as eleições autárquicas são sempre ganhas pelo partido que estiver na oposição ao governo, além de que o candidato do PSD era um dinossauro autárquico.

Portanto nada há a esperar da reunião de amanhã da comissão nacional do PS. Mesmo que surja um terceiro candidato, um líder que seja capaz de pôr o interesse nacional acima dos interesses partidários, ele será bloqueado pelos militantes que dominam o partido socialista e que vão desde o indivíduo da junta de freguesia ao que controla o maior concelho do País.

Veja-se o que se passou no PSD. Ferreira Leite, que representava a facção de Cavaco Silva e dos interesses instalados no partido social-democrata, perdeu as eleições legislativas de 2009 e tiveram de deixaram passar Passos para conseguirem voltar ao governo. Mas impuseram condições — a privatização imediata do BPN bem recheado com 600 milhões de euros e o adiamento sine die do julgamento da ladroagem que por lá andou — e depois de Passos ter perdido o apoio popular devido às medidas de austeridade já são os cavaquistas e o poder local quem controla o governo.

Por isso defendemos que o voto nulo é a única via para retirar votos à canalha política que detém o poder até que apareça um líder político competente e honesto que seja capaz de dar independência ao poder judicial, defenda a escolha de pessoas pelo princípio do mérito para as chefias da função pública e do sector empresarial do Estado e ponha fim ao enriquecimento ilícito dos políticos e à corrupção nas relações entre o Estado e as empresas privadas.

Muita gente sabe que é preciso mostrar que não estamos mortos, que queremos votar, que queremos abrir caminho a esse líder. No entanto, não acreditamos que seja Marinho e Pinto, por causa de ter na sua equipa uma advogada que violou o código deontológico da sua profissão e a quem apoiou para bastonária da ordem dos advogados. Palavras, leva-as o vento, os actos perduram e é neles que se reconhece o carácter dos homens.


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