quarta-feira, 21 de maio de 2014

Campeão do mundo em cálculo mental tem negativa a Matemática

actualizado em 23 Mai, 2014, 10:24


Em 2013/14, o Campeonato Internacional de Cálculo Mental, SuperTmatik, que decorre online, envolveu 256 mil estudantes de 61 nacionalidades diferentes, tendo o estudante português conquistado o primeiro lugar na categoria seis, entre mais de 36 mil participantes, com um tempo de resolução de 42,5 segundos para as questões que lhe foram apresentadas.

O insólito é que este aluno teve nota negativa em Matemática no final do segundo período do presente ano lectivo.

José Martinho Gaspar, seu antigo professor, reconhece que "o João Bento tem, de facto, algumas dificuldades, que passam em primeiro lugar pelo Português, em especial pela interpretação, e creio que é esse o grande entrave a que ele seja um bom aluno a Matemática".

O seu actual professor, António Percheiro, sublinha que "no ano lectivo 2012/2013 o João ganhou o campeonato ao nível do Agrupamento de Escolas, como aluno de 5º ano, e concorreu a nível Internacional mas não obteve um resultado de destaque".
No entanto, "foi a sua perseverança e gosto pelo cálculo mental" que fez com que o João, este ano lectivo, tenha voltado a concorrer e conquistado o primeiro lugar a nível mundial. "Aliás, o João melhorou bastante desde a conquista deste troféu. Conseguiu agora um teste muito positivo, o que lhe abre muito boas perspectivas para uma nota positiva no final do ano".

João Bento, que tem 12 anos e diz gostar "mais ou menos" da disciplina Matemática, recorda que "desde pequenino que treinava e fazia muitas contas com os familiares, tipo contas de somar, dividir e multiplicar, tudo de cabeça". Agora o título de campeão do mundo "vai servir de motivação para subir a nota”, porque “não fica lá muito bem a um campeão do mundo em cálculo mental ter depois negativa a Matemática".

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Mais um exemplo a mostrar que bases sólidas na língua portuguesa são necessárias para obter êxito nas outras disciplinas. Aluno que não domine a língua materna, não consegue interpretar o que lê e não tira proveito do estudo.

Este caso também põe em evidência algo que há muito se sabe, que é a influência determinante do estímulo da família no sucesso escolar. Os nossos alunos de etnia cigana, por exemplo, podem ter negativa a Matemática, e noutras disciplinas, mas ninguém os bate no domínio do cálculo mental porque, de tão imprescindível que é nas actividades comerciais dos respectivos agregados familiares, é muito valorizado e incentivado entre os mais novos.

A terceira conclusão que se pode retirar desta história é que concursos nas escolas, como este, com prolongamento a nível nacional e internacional, exames nacionais, rankings de escolas e rankings de universidades são um estímulo para as crianças, para os jovens e mesmo para os adultos. Há que reconhecer que o ser humano é um animal competitivo que se sente entusiasmado pelos elogios, pelas palmas e pelos prémios, sendo de acarinhar as contendas leais.
Muitas crianças e jovens têm potencial intelectivo que não conseguem desenvolver por causa de ideologias educativas que os amarram ao facilitismo e os condenam à mediocridade, não lhes permitindo desenvolver os seus dotes naturais e sobressair do rebanho. Que a história do João da Silva Bento, e da escola que lhe permitiu competir lealmente, sirva de reflexão.


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