quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Quando é que a escola começa a ensinar os alunos a criar empresas?





Antonio Nunes Coelho, a vítima
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Victor Correia Narciso, o dono da EG Batineuf
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Nasceu em Ervedal, concelho alentejano de Aviz.
Tinha 12 anos quando ocorreu o 25 de Abril.

Diz o jornal belga La Dernière Heure que a polícia estranhou encontrar um homem vestido com um fato de trabalho sujo de gesso e tintas morto num caminho ao longo de um parque, a meio do fim de semana prolongado de 11 de Novembro de 2011.
Diz a viúva que era um bom homem.
Dizemos nós que era um bom trabalhador pois se levantou às 5h da manhã de um sábado para ir estucar os tectos de uma obra em Uccle, na Bélgica.

Como é que um bom homem e um bom trabalhador se deixa apanhar numa teia de empreiteiros e angariadores portugueses de trabalhadores não declarados?

António trabalhou vários anos na empresa privada Cassal, que o despediu em 2008. Com 46 anos, nunca mais encontrou emprego na construção, daí ter aceite esta obra não declarada no fim de semana prolongado de 11 de Novembro.
O Tribunal do Trabalho de Bruxelas já reconheceu que António tinha sido despedido sem justa causa e condenou a Cassal a pagar 14.000 euros, por despedimento ilícito. A Cassal interpôs recurso.

Quando é que os trabalhadores começam a recusar o trabalho não declarado?
Quando é que as crianças, os jovens e os adultos começam a procurar a escola como um local onde se ensina e se aprende?
Quando é que a escola começa a ensinar os alunos a criar empresas?


Aqui fica a notícia do jornal La Dernière Heure:

O trabalhador que foi abandonado pelos colegas ainda esteve vivo entre 15 minutos e uma hora

BRUXELAS A autópsia revelou que o trabalhador português de Saint-Gilles vítima de doença enquanto trabalhava ilegalmente numa obra, que este trabalhador de 49 anos, Antonio Nunes Coelho, estava vivo quando os colegas foram abandoná-lo num local pouco frequentado de Uccle.
O processo de instrução da juíza Isabelle Panou tem feito progressos significativos. A obra foi localizada: o 368, estrada de Neerstalle, propriedade da Sociedade de Habitação de Uccle. O empreiteiro responsável pela obra foi identificado: a EG Batineuf SPRL, de Evere. O dono foi questionado: Victor Correia Narciso admitiu que recorria a um angariador de mão-de-obra, um certo Carlos Pinto da Silva.
Segundo informações de hoje, ambos confessaram ter circulado em Bruxelas "durante duas horas" com o trabalhador prostrado e deitado no chão da traseira da furgoneta, uma Mercedes Vito. Reconhecem que nem um, nem o outro pediu ajuda para tentar salvá-lo.
O trabalhador foi contratado ilegalmente. Certamente não queriam que o endereço da obra no 368 da estrada de Neerstalle fosse localizado. Então procuraram um lugar solitário para se livrarem dele. Era Victor quem conduzia.
Chocada, Lurdes, a viúva, desmaiou.
E nós questionámos o proprietário da EG Batineuf: Victor Correia Narciso fala de uma "asneira [...] uma porcaria...". No entanto, afirma que a polícia teria assegurado que o trabalhador tinha deixado de viver.
É desmentido pela autópsia, que estabelece efectivamente que António, vítima de doença e que caiu enquanto estucava num andaime, não estava morto e viveu um período de tempo compreendido "entre um quarto de hora e uma hora”.
Agora, a juíza de instrução é responsável: para o ministério público, de um dossiê de "não assistência a pessoa em perigo" e "ocultação de cadáver"; e, para a inspecção do trabalho de Bruxelas, infracções "relativas a trabalho não declarado", a "ausência de documentos de trabalho", infracções "à legislação sobre o emprego de trabalhadores estrangeiros" e "pôr em perigo a saúde ou a segurança de um trabalhador por falta de medidas adequadas".
Na EG Batineuf, Vítor Correia Narciso envolve Carlos Pinto da Silva, o fornecedor de mão-de-obra. O acordo era que iria dar-lhe 500 euros pelos três dias de reboco e Carlos pagaria 22 euros por hora a António.
Após a doença pelas 14h, houve pânico no 368 da estrada de Neerstalle.
Nenhum dos outros trabalhadores pediu ajuda. Um deles telefonou a Carlos que chamou Victor. Ambos vieram ao local e assumiram tudo. Carlos e Victor meteram o estucador na traseira da carrinha. No final do trajecto de duas horas, o trabalhador tinha deixado de viver. Atiraram-no para uma viela, a rua V. Gambier, ao longo do parque Raspail.
Em seguida, Carlos dirigiu-se a casa da viúva para comprar o seu silêncio: 10.000 euros e nem uma palavra à polícia. Evidentemente Lurdes recusou.
Na entrevista com o patrão, este diz-nos que Carlos teria feito a mesma chantagem e ter-lhe-ia exigido também 10.000 euros.
Estas informações são o resultado de um mês de investigação, nos meandros da construção bruxelense, sobre este caso de que revelámos os primeiros pormenores em 1 de Fevereiro. Agora o caso é conhecido em Portugal, graças à TV. Em Portugal também chocou.


Gilbert Dupont"


Rua Victor Gambier


23 Fev, 2012, 20:48


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