terça-feira, 28 de setembro de 2010

A crise é financeira ou ética?


vl1950 27 Setembro2010
Muito bem HG

Até agora você alinhou num certo discurso que poupou o poder político, em particular o PS, das responsabilidades nesta crise.
Agora começa a denunciar que os actuais líderes partidários apenas fazem cálculos eleitorais, e não abordam as verdadeiras soluções que terão que ser adoptadas. Já a critiquei duramente nos meus comentários, mas agora é a vez de a saudar, embora HG diga apenas o óbvio (mas importante)!
HG, ajude o seu Jornal de Negócios a assumir um papel mais sério na actual crise nacional.

Vamos abordar as soluções para este País? Muito bem!
Apenas para começar, um teste só para ver se há compreensão e coragem.

1º Reconhecer a natureza da actual crise (a componente internacional e a componente própria) quem nem J. Sócrates nem PPC têm feito.
2º Reconhecer que a crise financeira nacional não poderá ser resolvida pela UE, ou FMI, tal como não resolveu estruturalmente a da Grécia, nem a de outros em dificuldades. Apenas pode adiar o default!
3º Perceber que enquanto a UE terá imensas dificuldades em encontrar algum consenso em torno da solução da tripla crise à escala da UE (crise orçamental, dívidas soberanas e desequilíbrios macroeconómicos), cada país terá que fazer o seu trabalho de casa em função dos seus desvarios das últimas duas décadas.
4º Reconhecer que um País endividado a nível público, das empresas e das famílias, como Portugal, só tem um caminho a percorrer internamente: deflacionar a dívida, o que implica redução do consumo e aumento da poupança para poder voltar a haver investimento criador de emprego.
5º Adoptar políticas capazes de mitigar o impacto brutal no agravamento das condições de vida dos desempregados, que vão aumentar.
6º Reduzir o peso estúpido do Estado na economia: reduzir o número de autarquias (câmaras e juntas), institutos públicos e cargos ditos políticos. É, acima de tudo, uma questão moral: não se podem manter cargos inúteis ao mesmo tempo que milhares de pessoas vão para o desemprego.
7º Reduzir o número de deputados, de ministérios, e acabar com reformas em simultâneo com rendimentos de cargos políticos (O Presidente da República recebe três pensões de velhice, mas não é o único: há casos ainda piores).

Se este pequeno conjunto teste de medidas for adoptado, então será possível adoptar as medidas necessárias nas várias esferas da actividade económica, financeira, política, social e cultural.
Estas primeiras medidas não se destinam a resolver a crise imediatamente, mas a criar condições dinâmicas que alterem os papeis hoje desempenhados pela classe política, pelos empresários, pelos sindicatos e pelo sector social.
Destinam-se a criar mais justiça, dar oportunidade aos melhores do País, e a dar mais credibilidade a Portugal. Em suma a reconstruir um País que se desviou em direcção a um rumo de facilidades inesperadas permitidas pela entrada na CEE.

Se este conjunto de medidas forem rejeitadas pelo poder político, então só uma revolução popular que mude o actual sistema político, reduzindo o papel do parlamento e reforçando o do Presidente da República pode trazer alguma esperança.

Os partidos estão actualmente num estado em que sufocam a sociedade em vez da estimular.
O nosso problema não é escolher entre PS ou PSD, entre JS ou PPC. Uma parte do nosso problema é o actual PS e o actual PSD, o actual JS e o actual PPC!

Mas nesta fase é necessário perceber mais uma coisa importantíssima:
Quanto mais tempo levarmos a compreender isto, mas dolorosas serão as soluções.
O que a HG escreveu hoje já era verdade no início da crise.
Portanto HG, resta-me dizer-lhe: continue assim, que da minha parte só terá apoio, mesmo que simplesmente moral.


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