quinta-feira, 22 de março de 2012

"A comichão do BPN"


"21 Março 2012, 23:30 por Pedro Santos Guerreiro | psg@negocios.pt

A comissão de inquérito do BPN vai revolver tudo para concluir nada.

Políticos do PS e do PSD vão inquirir políticos do PSD e do PS — mas nenhum quer pratos limpos, só roupa suja. As únicas comissões que funcionaram no BPN foram as comissões milionárias pagas por debaixo da mesa a gentis enriquecidos. Eles andam aí.

O BPN é um caso de polícia e um caso de política. Foi arma de arremesso nas eleições, foi infamemente gerido por gente do PSD, depois mal digerido por gente do PS, afectou a imagem (e a sensibilidade) de Cavaco Silva. O processo de destruição já foi analisado noutra comissão de inquérito, que também remexeu muito, revelou algo e teve de eficácia nada. Esta nova comissão analisará o pós-escândalo: as decisões de nacionalização, a gestão política e delegada na Caixa Geral de Depósitos, e a privatização que, aliás, está ameaçada e pode muito bem não acontecer. Vejamos cada uma destas fases.

Portugal está hoje cheio de gente que diz que a nacionalização foi um erro. Não foi erro nenhum. Não naquelas circunstâncias. A discussão que se pode ter não é se o BPN devia ter sido ou não nacionalizado, mas se a opção antes proposta por Miguel Cadilhe (que pedia 600 milhões de euros ao Estado) foi bem ou mal chumbada. Uma vez chumbada, a nacionalização tornou-se inevitável. A operação pode ter tido aproveitamento político subsequente mas José Sócrates e Fernando Teixeira dos Santos fizeram, naquelas circunstâncias, bem.

É hoje fácil falar contra. Na altura, na precisa altura da decisão, além do PCP e do Bloco de Esquerda, só me lembro de três vozes contra: Henrique Granadeiro, Henrique Neto e Nicolau Santos. Só estes têm plena autoridade para falar disso agora. Os outros que agora enchem o peito calaram-se. E calaram-se bem. Porque a situação era muitíssimo arriscada. O risco de corrida aos bancos era real. Se ler o testemunho do John Authers, do "Financial Times", nas páginas seguintes sobre o que viu naquele final de 2008 em Inglaterra mas não pôde noticiar para não propagar o pânico, encontrará a descrição que muitos jornalistas de economia, incluindo no Negócios, então tiveram. O risco sistémico não foi uma invenção. O pânico esteve à beira da deflagração. Que ministro das Finanças correria o risco de dinamitar uma corrida aos bancos? Nenhum.

Seguiu-se uma gestão de um filho enjeitado pela Caixa. Aqui o pecado é político: tanto tempo para quê? Para manter uma arma política do PS contra o escândalo do Freeport? Se não foi, parece. E assim se manteve um banco zombie, consumindo cada vez mais dinheiro e destruindo cada vez mais a marca. E mantendo condições de concorrência desleal no mercado.

Da privatização aqui escrevi: um mau negócio mal feito, em que o BIC aproveitou a pressão da troika para a venda rápida e impôs tudo o que queria. Porque, apesar do simulacro do Montepio, o Estado só tem uma alternativa: fechar o banco. Liquidá-lo. O BPN não vale nada enquanto marca. É apenas um negócio imobiliário. E as negociações arrastam-se ainda com tanto desinteresse que talvez os accionistas do BIC, Amorim e Isabel dos Santos, não estejam sequer interessados nele, mas noutro: o controlo da Galp, também paralelamente negociado com o Governo.

Esta triste e interminável história já custou aos portugueses acima de dois mil milhões de euros, mais do que o corte dos salários da Função Pública e pensões. Pode custar ainda outro tanto nos veículos que estão em recuperação, e mais 600 milhões agora da Caixa. A conta total pode passar os cinco mil milhões. Presos? Nem um. E só um preventivo.

A história do BPN não é uma saga, é uma chaga. E isto não é comissão, não é sequer uma comichão, é uma sarna, é um arrepio de unhas a raspar na ardósia, é um escândalo de regime que devia ser encerrado numa urna inviolável de vidro à entrada da Assembleia da República para que eleitores nunca se esquecessem e eleitos sempre se lembrassem. Aqui se faz o BPN, aqui não jaz o BPN."


A opinião dos outros:

VMBraga 22 Março 2012 - 00:57
O BPN não é o Citi
O BPN nunca deveria ter sido nacionalizado, porque não era um banco sistémico. Nos EUA desde 2008 mais de 200 bancos foram a falência e não vejo o governo nacionalizar nenhum deles. Eles arriscaram com o Lehman Brothers, um banco sistémico, e correu mal mas isso não quer dizer que todos sejam sistémicos e, portanto, que devam ser salvos. Bancos mal administrados devem ir a falência como uma empresa normal. Os depósitos devem ser garantidos até um certo montante e mais nada. A Irlanda esta falida porque salvou um banco não sistémico e hoje toda a gente sabe que foi um erro.

Se o jornalismo fosse livre, os nomes já estavam nas páginas dos jornais e nas televisões
22 Março 2012 - 07:25
Liberdade acabou!
Conquista da liberdade em Portugal com o 25 de Abril foi um embuste para colocar a maçonaria no poder? Pagamos taxas de áudio e tv! "Somos livres" entre aspas! Se o jornalismo fosse uma ferramenta de divulgação sem intervenção de censura, os nomes já estavam publicados há muito! Os "gentis enriquecidos" não eram filhos de pais incógnitos! Tinham nome!

Almiro Tojal 22 Março 2012 - 12:17
Um regime
Temos sido saqueados e estamos a pagar para dois gangs, o socialista e socrático dos varas e das PPP’s, rendas e negociatas, e o cavaquista dos isaltinos, miras, hortas, dias loureiros, duartes limas, o das negociatas dos bancos que levaram à falências e das pescas que estoiraram e da agricultura que destruiram. A cambada que acumula reformas por meses de trabalho enquanto o povo morre à míngua. Isto é que é o fascismo, ainda não viram?

Bodas 22 Março 2012 - 12:24
Ui, VMBraga, tanta asneirinha
Nós não vivemos nos "States". Nós não somos despedidos de um dia para o outro. Nós não temos todos seguros de saúde, and so on... Meu caro, sou bancário, dos pequeninos, claro, e te garanto: se o BPN tivesse fechado portas, com o dinheirinho da malta a ir todo para o galheiro, como estava o povo na altura, no dia a seguir tínhamos filas em todos os Bancos, com o pessoal a querer o dinheiro em nota. Não existiu qualquer falência e, mesmo assim, foram muitos os que deixaram de ter contas em Bancos.


Atento 22 Março 2012 - 12:44
Ora vamos lá ver
Caro PSG,
Eu também fui contra a nacionalização só do BPN e explico: já que estamos a falar do sector financeiro da SLN porque é que ficou de fora a companhia de seguros adjacente, a saber, a Real Seguros? É que esta companhia estava bem financeiramente e já que estamos a falar de um caso de polícia, afirma PSG e eu concordo, a reprivatização da mesma seria rentável e serviria para atenuar os eventuais, certos, prejuízos decorrentes da nacionalização do BPN.
Donde concluo que o processo de nacionalização foi feito de modo a garantir que os activos bons ficariam ao serviço dos accionistas da SLN e os prejuízos e roubos seriam de todos... Enfim foi uma PPP com a SLN.

Não tenho por adquirido que o plano Cadilhe não fosse possível, até porque a voz do Governador do Banco de Portugal levantou-se contra, mas na comissão de inquérito esse mesmo Governador disse que nada viu, sabia e fez, logo a conclusão pode estar errada.
Mas PSG afirmar que no Governo anterior a única alternativa, depois do chumbo do plano Cadilhe, era a nacionalização do BPN parece-me, e desculpe, uma defesa a mais uma medida desse governo, que se veio revelar ruinosa e que todos deviam ter antecipado o resultado final, incluindo PSG.
E ainda lhe acrescento outra má medida: considera, ou não, ruinoso o aval do Estado aos 400 milhões de euros para o BPP, que na altura todos sabiam que não iriam ser pagos, e que esse dinheiro serviu para alguns dos clientes mais sonantes poderem ir buscar o que lá tinham enquanto os outros ficaram a arder?

Mantemos no horizonte que o BPN é um caso de polícia.
Assim, e concordando com o âmago do seu artigo e até com algumas, quase todas, conclusões que tira do processo de reprivatização, deixe-me dizer-lhe que ao ler o mesmo fico com a sensação que esta forma de reprivatizar é mais grave que a nacionalização. Por maioria de razão estou convicto que o mais grave foi o roubo, e a reprivatização fica em pé de igualdade com esta nacionalização, ruinoso para o Estado e ainda serve alguns interesses privados.
Também não dou por adquirido que existiria uma corrida aos bancos e que o risco era sistémico, existem bancos muito maiores e com maior posição no mercado (BCP, BES, BPI, DB, Santander). Mas a existir, bastava o Governo ter anunciado que todos os clientes BPN passariam a ser clientes CGD, mantinham a garantia dos mesmos nos limites actuais e a esses clientes criariam, nos primeiros três meses, tectos de levantamento de activos. Basicamente foi isto que a CGD fez ao transferir verbas para o BPN.
Sobre a Gestão, desde a nacionalização à reprivatização, concordo consigo, sobre as considerações políticas também. A verdade, o Sr. PSG também a disse: julgados e condenados 0, mesmo 0. E nós vamos continuar a pagar.


Atento 22 Março 2012 - 13:14
Posso consultar?
Caro Bodas,
Concordo com a 1ª parte do seu post. De facto não somos os "States".
Sobre a 2ª e o risco sistémico, sou daqueles que não tem por adquirido que existisse mas, antes de me dar a sua opinião pessoal sobre as asneiras que os outros escrevem, faço-lhe dois pedidos:
  1. Se possível, diga-me qual as fontes que consultou para afirmar que o risco sistémico era inevitável?
  2. Onde posso ler a estatística do número de pessoas que deixaram de ter conta bancária no auge da Crise do BPN em 2008? Ou de 2008 para cá?
Não duvido das suas afirmações mas, na minha incultura, gosto de aprender e mudar de opinião, se justificado, e certamente a acusar os outros de escreverem asneiras, sei que terá dados seguros, mais que a sua experiência pessoal, que eu possa consultar de modo a que concorde consigo. É que os dados que eu tenho são: só existiu corrida a dois bancos — BPN e BPP — a outra banca teve mais trabalho, é verdade, mas fecharem contas bancárias não me pareceu e até me recordo de declarações do Dr. Ulrich e do Dr. Ricardo Salgado em sentido contrário.

Legru 22 Março 2012 - 15:02
Complicado
Há duas situações neste processo do BPN que não consegui ainda entender:
  1. Porque se nacionalizou o BPN e não a SLN, detentora do capital?
  2. Após a nacionalização não seria mais razoável a integração deste banco na CGD?
É que pelo preço que vai ser vendido, penso que para a CGD seria perfeitamente comportável, contribuiria para a sua expansão e evitar-se-ia que este banco venha a ser "ponta de lança" de actividades obscuras vindas de estrangeiros.

Miguel Guerreiro 22 Março 2012 - 16:50
E o auditor?
Por que razão não atacam a BDO?
A PWC fez reservas às contas de fazer corar alguém com um escaldão. Mudaram de auditor para a Deloitte. Esta repetiu as reservas e ainda acrescentou novas. Mudaram para a BDO. Estes silenciaram tudo. E o BdP a ver...
O auditor passa por entre as gotas da chuva? A imprensa deixa? Por menos faliu a Andersen.


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