Alexandre Soares dos Santos no Grande Jornal da RTP Informação:
"Nos últimos quatro meses do ano passado, a Jerónimo Martins teve de criar um fundo de 3 milhões de euros para acudir a 2 mil funcionários em dificuldades. Foi praticamente todo gasto. (...)
A responsabilidade social de uma empresa justifica-se quando as pessoas precisam dela.
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A empresa teve 240 milhões de euros de lucros no ano passado. Este ano vamos aumentar porque 70% dos resultados da Jerónimo Martins foram feitos na Polónia.
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Só tenho o total de impostos da holding. Mas devo pagar mais impostos em Portugal porque na Polónia a taxa dos impostos é muito mais baixa do que aqui.
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Nós trabalhamos a um prazo de 10 anos. E neste prazo Portugal vai ser 5% da Francisco Manuel dos Santos. O tempo em que a Sociedade Francisco Manuel dos Santos dependia da Jerónimo Martins acabou. A quarta geração da minha família decidiu que temos de diversificar e para isso temos de nos deslocar para o exterior. Por diversas razões: políticas fiscais constantes, defesa da iniciativa privada e facilidade no financiamento. A Holanda oferece isto, por isso foi decidido transferir a Sociedade Francisco Manuel dos Santos SGPS para Sociedade Francisco Manuel dos Santos BV.
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Não queira saber o que pagamos a advogados por causa das constantes mudanças fiscais em Portugal. E pior do que isso é o não cumprimento pela fiscalidade daquilo que foi julgado em tribunais contra o governo. É de loucos! Dizem-nos que temos de pagar, pomos em tribunal, ficamos à espera 10 a 12 anos. Uma empresa não pode estar à espera 10 a 12 anos por uma decisão.
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Quando se chega a um País precisamos de saber se aceitam ou não a iniciativa privada. Aqui em Portugal metade do tempo só se diz mal da iniciativa privada. Depois vamos ver com os advogados que tipo de política fiscal existe. Pode-se favor acordos de longo prazo, ou não, com o governo, em que eu assumo responsabilidades e o governo colombiano também. Aqui não há diálogo.
Há uns anos consegui convencer o presidente da Unilever a trazer a sede da empresa para Portugal, para dar empregos a portugueses e permitir-lhes ter uma visão global do mundo. Estiveram cá dois anos a discutir e nunca houve uma decisão. Foram-se embora.
Outra vez fui procurado por uma empresa dinamarquesa fabricante de pregado. Perguntei-lhes porque vieram ter connosco. Disseram que queriam ter um sócio português porque em Portugal as coisas são muito complicadas, estavam em Sines há quatro anos para obter um terreno.
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Já falei uma vez com Álvaro Santos Pereira e, contrariamente ao que se diz, gostei muito dele. Sabe o que pretende fazer, facilita o diálogo e tenho muita dificuldade em compreender porque é tão atacado.
A administração pública está infiltrada de políticos e já não tem a carreira que caracterizava o funcionalismo público. É preciso limpar tudo, recomeçar do zero, seleccionando os melhores e pagando bem àqueles que merecem.
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Sobre o corte dos subsídios, não percebi porque é que não tiraram aos privados. Em relação à minha empresa, não vai haver cortes salariais, nós vamos aumentar os salários. Temos lucros. Se os lucros dependem das pessoas que estão, eles têm de ter parte dessa melhoria.
Para aqueles que são no-managers o prémio passou de 250 para 300 euros que será pago no mês de Abril. (...) O aumento salarial será, pelo menos, 2%.
A política da Jerónimo Martins não é fazer despedimentos. Se a crise agudizar, há outras maneiras: podemos recorrer à Polónia, já foi feito ao contrário; posso começar por cortar o meu salário porque equivale ao de vários operários; pode cortar-se o salário de todo o sector manager da companhia.
Mas não vai ser necessário porque temos um balanço financeiro muito forte, a dívida da Jerónimo Martins são 200 milhões, o que em 10 mil milhões de vendas não é nada.
Vamos continuar a investir em Portugal num campo que vai ser uma surpresa quando anunciarmos, lá para Maio, se Deus quiser."
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