sexta-feira, 24 de junho de 2011

Estaleiros Navais de Viana do Castelo querem despedir mais de metade dos trabalhadores


1. História

Os Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) foram fundados em Junho de 1944, no âmbito do programa de um Governo de Salazar para a modernização da frota de pesca do largo, por um grupo de técnicos e operários especializados oriundos dos Estaleiros Navais do Porto de Lisboa, encabeçados por Américo Rodrigues, seu mestre geral.
Tinha a forma de uma sociedade por quotas de responsabilidade limitada com o capital de 750 contos e como sócios capitalistas Vasco D'Orey e o vianense João Alves Cerqueira da Empresa de Pesca de Viana, proprietária de navios para a pesca do bacalhau.

No início da actividade ocupavam uma área de 35.000 m² concessionada pela Junta Autónoma dos Portos do Norte onde foram construídas duas docas secas com 151 x 18,5 m² e 127 x 18,5 m² respectivamente e as demais infraestruturas necessárias ao desenvolvimento da actividade de construção e reparação naval. Todas as infraestruturas da Empresa foram construídas a partir deste núcleo cujo prazo de concessão foi, em 1948, aumentado por 35 anos.
Seriam arrastões para a pesca do bacalhau os três primeiros navios construídos pelos ENVC: o "Senhor dos Mareantes" e o "Senhora das Candeias" para a Empresa de Pesca de Viana e o "São Gonçalinho" para a Empresa de Pesca de Aveiro, todos entregues em 1948 e com 1480 TDW.

Em 1949 os ENVC transformaram-se em Sociedade Anónima de Responsabilidade Limitada (S.A.R.L.) e um ano depois a empresa H. PARRY & SON, LDA tornou-se a principal accionista, passando Jacques de Lacerda a exercer as funções de Administrador-Delegado. Em 1957 juntou-se às instalações existentes, também em regime de concessão, a Doca Eng. Duarte Pacheco e, nos anos seguintes, aumentou a área de oficinas, sendo a Doca 1 alargada para 25,5 m de modo a fazer face a novas encomendas em carteira.

Em 1971, o Grupo CUF, dono da LISNAVE, tornou-se accionista maioritário e foi elaborado um Plano Director de Desenvolvimento a ser cumprido em duas fases, das quais, a primeira, foi praticamente realizada.
Foi novamente ampliada a Doca 1, para as suas actuais dimensões de 203 x 30 m². Construiu-se a bacia de aprestamento com 190 x 65 m², adquiriu-se o guindaste de 100 toneladas, e construíram-se as oficinas de Pré-Montagem, Encanamentos e Caldeiraria Ligeira.
No entanto surgiu uma crise internacional, acentuada a nível nacional pelo 25 de Abril de 1974, que impediu a concretização da segunda fase deste plano, uma fase muito ambiciosa que levava a Empresa para o mercado das 100.000 toneladas.

Em 1975 a Empresa foi nacionalizada, passando a Empresa Pública e o seu capital social aumentado para 330.000 contos e, em 1987, fixado em 3.000.000 contos.
Em 1988 terminou a construção da plataforma de instalação com 140 x 30 m² no enfiamento da Doca 1, investimento destinado a melhor rentabilizar a exploração desta doca na actividade da reparação naval e, também, a ampliação da oficina Pré-Montagem de 80 para 140 m de comprimento.
Em Dezembro de 1988 o prazo de concessão dos terrenos incluídos no domínio público marítimo foi alargado até Abril de 2031 e a sua área acrescida para 270.000 m².

Em 1991 os ENVC são transformados em Sociedade Anónima de Capitais Maioritáriamente Públicos.
Em 1993 ficou concluída a construção do novo Cais de Amarração do Bugio, com 300 m de comprimento e fundos à cota -6,5 m e das novas oficinas de apoio às docas, com uma área total de 360 m².
Em 1995 ficaram concluídas as novas oficinas do Pólo do Aço, com uma área total de cerca de 6100 m² e compreendendo Oficina de corte por plasma, Linha de fabrico automático de painéis, Fabrico de pequenos conjuntos e Processamento de perfis.


Estas infra-estruturas permitem aos ENVC construir, reparar e converter navios até 30.000 TDW e 180 metros de comprimento.


Serviço de Processamento de Aço


Serviço de Pré-Fabricação


Serviço de Montagem e Instalação


Serviço de Soldadura


Serviço de Encanamentos


Serviço de Mecânica


Serviço de Electricidade


Serviço de Apoio Fabril


Serviço de Ensaios e Provas (à muralha, de estabilidade e de mar)


No decurso dos 67 anos de actividade houve uma evolução natural dos mercados-alvo da Empresa, distinguindo-se claramente 4 etapas:
  • De 1944 a 1974 cerca de 90% do total de unidades construídas destinaram-se a armadores nacionais, incluindo as ex-colónias, sendo cerca de 50% destinadas ao reforço ou substituição da frota pesqueira;
  • Na 2ª metade da década de 70 e nos anos 80, o principal mercado foi a Ex-URSS, para o qual foram produzida algumas grandes séries;
  • Nos anos 90 os ENVC passaram a construir fundamentalmente para o mercado Alemão.
  • A partir de 2000 o mercado tem sido mais diversificado, contando com uma carteira de encomendas para renovação da frota da Marinha Portuguesa.

Entre as mais de 200 unidades entregues desde a sua fundação, contam-se batelões, rebocadores, ferry-boats, navios de pesca, de carga a granel e porta-contentores, navios tanques, transportadores de produtos químicos, transportadores de gás (LPG), cimenteiros e vasos de guerra.





2. Avaliação dos trabalhadores

Vejamos alguns dos navios construídos desde 1995:


nº 212, FS Thais, França, transportador de produtos químicos, 134 m, 19.117 TDW, ano 2003


nº 214, Carmel Bio-Top, Alemanha, reefer, 174 m, 15.000 TDW, ano 2004


nº 254, Industrial Eagle, Alemanha, porta-contentores, 132 m, 10.000 TDW, ano 2008


nº 258, Atlântida, Ro-Ro Day Car & Passengers Ferry, 86,7 m, 630 TDW, ano 2009


nº 238, NRP Viana do Castelo, Portugal, navio de patrulha oceânica, 76,8 m, 1600 TDW, ano 2011



3. Avaliação dos gestores e políticos

No discurso de tomada de posse, o presidente da República apontou o mar como uma via de desenvolvimento económico para o País:
"É crucial aprofundar o potencial competitivo de sectores como a floresta, o mar, a cultura e o lazer, as indústrias criativas, o turismo e a agricultura, onde detemos vantagens naturais diferenciadoras. A redução do défice alimentar é um objectivo que se impõe levar muito a sério, tal como a remoção dos entraves burocráticos ao acesso da iniciativa privada à exploração económica do mar."

Ora a força de trabalho dos ENVC é composta por técnicos de nível médio e superior com larga experiência na construção, conversão e reparação naval como mostra a obra feita.
No entanto, a actual administração desta empresa pública, que foi nomeada pelo governo Sócrates, elaborou um plano de restruturação onde preconiza que, dos 720 trabalhadores, 380 sejam despedidos:




A comissão de trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo decidiu contactar os partidos políticos.

Os deputados do PCP e BE pedem a suspensão do plano de reestruturação da empresa e ficam à espera que o dinheiro caia do céu, enquanto o PS manobra na sombra.
Os do PSD e CDS prometeram acompanhar a situação dos estaleiros junto do Governo, tendo este último apontado a solução óbvia — arranjar clientes para viabilizar a empresa. Solução essa que compete trabalhar aos administradores da empresa, em ligação com os ministros dos Negócios Estrangeiros, da Economia e da Defesa.
Comecem a trabalhar e mostrem resultados.


1 comentário:

  1. Desconhecia o grave problema de segurança criado pela construção de um terminal de gás em Mugardos, em plena Ria de Ferrol, na Galiza.
    Se ocorrer um incêndio ou uma explosão no terminal da Reganosa, o facto dos navios transportadores de gás só poderem sair para o mar durante a maré cheia vai agravar tragicamente o sinistro e pôr em risco a população que habita naquela área.

    A solução é, obviamente, a construção de um porto exterior. O facto da Mota-Engil ter ganho a construção e gestão do terminal de contentores do Porto Exterior de Caneliñas, em Ferrol, no valor de 90 milhões de euros é, portanto, uma boa notícia tanto para os galegos como para nós.

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