segunda-feira, 6 de junho de 2011

Paulo Portas começa mal


Dispondo o PSD de apenas 105 mandatos na Assembleia da República a que, eventualmente, acrescerão os 4 dos círculos eleitorais da Europa e Fora da Europa que só serão escrutinados em 15 de Junho, é óbvio que os 24 mandatos do CDS vão ser essenciais para estabilizar o próximo governo de Passos Coelho.

Daí voltarmos a abordar este assunto, distinguindo os dois modos de actuação possíveis:
  • o CDS pode formar um governo de coligação com o PSD
  • ou pode estabelecer um acordo parlamentar onde são definidas as medidas económicas, financeiras e sociais em que apoia o Governo do PSD
Existe alguma diferença na prática? Existe, porque definir as ideias de um programa político é uma coisa, implementá-las é outra, a implementação exige o exercício do poder que tem como consequência o tráfico de influências, os subornos e a corrupção.
Abundam, infelizmente, os exemplos: recordemos os processos Freeport e Face Oculta para o PS, o processo BPN para o PSD e os processos Portucale e dos submarinos para o CDS.
Faz parte da idiossincrasia do português o clientelismo, desde a cunha para um emprego ou uma benesse ao nível das autarquias até ao contrato entre empresas privadas e o Estado com as contrapartidas financeiras para os políticos que exerçam funções governativas.

A sociedade portuguesa habituou-se a gastar mais do que produz e necessita de uma cura de emagrecimento de quatro anos que o CDS poderia guiar a nível legislativo, no parlamento, mas sem se envolver directamente na sua execução. É, por isso, de louvar as (poucas) vozes que se levantam no CDS contra o governo de coligação já decidido por Paulo Portas:

"Eu respeito a posição do Artur Lima [vice-presidente do partido que defende que o CDS não deveria formar coligação de Governo com o PSD]. Evidentemente, como é próprio de um partido democrático, nós faremos as nossas reuniões institucionais, da Comissão Executiva, da Comissão Política e por fim do Conselho Nacional."

Portas não é um político ingénuo e exerceu funções governativas no período 2002-04. Tem a sua própria experiência e o exemplo recente de José Sócrates que deixou atolar o PS no pântano político-económico que alastrou pelo nosso País desde o estabelecimento da democracia.
Sabe que vai suceder o mesmo ao CDS, sabe que o eleitorado irá penalizar o partido nas legislativas do Outono de 2015, mas não se importa.

Embora termine a lembrar as dificuldades financeiras que as famílias atravessam e a esfriar a euforia dos militantes, o seu discurso eleitoral mostra um duro negociante de uma futura coligação governativa.
Recorda que, na negociação para o governo Durão Barroso, a relação de forças entre o CDS e o PSD era de 1 para 7,5 e exige agora um aumento de pastas governativas com base na relação actual que é substancialmente melhor.

Das duas, uma, ou está cego pela ganância do poder ou prevê que o empréstimo do FMI/BCE/UE vai ser desbaratado, vai haver uma reestruturação da colossal dívida pública, daqui a quatro anos só haverá ossos e quer recolher o seu quinhão antes que seja demasiado tarde.
Parece não ter perfil de estadista.


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