quarta-feira, 23 de julho de 2014

Guiné Equatorial passou a fazer parte da CPLP


A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) mudou as normas do protocolo na X cimeira da organização, que decorre esta quarta-feira em Díli, capital de Timor-Leste, para dar protagonismo a Teodoro Obiang.



Desde o início, o protocolo da cimeira reservara o tratamento de Chefe de um Estado-membro para o presidente da Guiné Equatorial.

Estava prevista a sua presença imediata na tribuna de honra na sessão de abertura da cimeira, com Teodoro Obiang a ser chamado para a tribuna entre os aplausos dos presentes e dos outros chefes de Estado. Cavaco Silva não aplaudiu.

A tradicional foto de família dos mandatários dos oito países membros da CPLP foi agendada para antes da reunião plenária dos Chefes de Estado. Mas na fotografia já figurava Teodoro Obiang, presidente da Guiné Equatorial, ainda antes do órgão cimeiro da CPLP aprovar a entrada do regime de Malabo.

Também estava programada a presença do presidente da Guiné Equatorial na primeira parte da reunião plenária durante a qual os chefes de Estado iriam decidir a entrada do seu país na CPLP. Parece ter sido uma observação da delegação portuguesa chefiada por Cavaco Silva que evitou este absurdo.

Comentando com os jornalistas estas alterações do protocolo, o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros português, Rui Machete, afirmou não estar surpreendido. Na verdade, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Guiné Equatorial, Agapito Mokuy, já tinha figurado na foto de família dos chefes da diplomacia dos países membros da CPLP da reunião de 20 de Fevereiro, em Maputo. Uma reunião em que os ministros apenas tomaram a decisão de recomendar a entrada da Guiné Equatorial à cimeira de Díli.



23/07/2014 - 12:10

23 Jul, 2014, 08:21


Na primeira parte da reunião plenária da cimeira, Cavaco Silva introduziu a questão da adesão do regime de Malabo, tendo chamado a atenção para os princípios estatutários da CPLP no que refere ao respeito pelos Direitos Humanos. A intervenção do Presidente da República provocou um debate intenso, que demonstrou a relação de forças já conhecida, ou seja, o isolamento de Portugal se se opusesse à entrada da Guiné Equatorial.

Durante o almoço, o presidente de Timor-Leste e anfitrião da cimeira, seguindo uma sugestão de Cavaco Silva, propôs a Obiang que se referisse, na segunda parte da reunião plenária onde já ia participar como presidente de um Estado-membro da CPLP, ao cumprimento pelo seu país do roteiro imposto na cimeira de Luanda, em 2010. Um roteiro que previa alguma humanização do regime de ditadura da Guiné Equatorial, nomeadamente a abolição da pena de morte que foi contornada por Obiang pela adopção de uma moratória que se quedou apenas pela suspensão.

Para evitar constrangimentos para Portugal, a entrada do novo Estado-membro fez-se por consenso não submetido a votação. Foi assim que, nesta quarta-feira, em Díli, a Guiné Equatorial, país chefiado há 35 anos por Teodoro Obiang onde existe a pena de morte e se fala o espanhol, passou a fazer parte da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.


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23/07/2014 - 00:38

Os ex-ministros Martins da Cruz (PSD) e Severiano Teixeira (PS) debatem a entrada da Guiné Equatorial na CPLP.

Muito dinheiro sujo vem das antigas colónias, sobretudo de Angola, é lavado na banca portuguesa, entra na nossa economia e contribui para melhorar o nível de vida dos portugueses. A distribuição desta riqueza não é equitativa, obviamente, alguns são mais beneficiados do que outros, mas todos lucramos. Ora a Guiné Equatorial tem o maior Produto Interno Bruto per capita de África, cerca de 20 mil dólares, graças ao petróleo, além de ser um paraíso para a indústria de construção civil.

Cavaco Silva sabe-o, aceita-o, eventualmente até desfrui. No entanto, os políticos portugueses movem-se nos corredores da União Europeia. Há que fazer figura de estadista europeu, culto, avançado, legalista, respeitador de normas e defensor dos direitos humanos no seio de países primitivos. Há que exigir à CPLP um comportamento de organização respeitável e os outros países membros fazem-lhe a vontade, desde que cultivar as aparências não coarcte as negociatas.

Muitos portugueses fingem que não reparam nesta vergonha, tudo o que vier à rede é peixe. A notícia do Público mereceu apenas uma dezena de comentários. Destacamos estes:


A Antunes
Investigação Científica 23/07/2014 10:30
O primeiro critério para entrar na "Comunidade dos Países de Língua Portuguesa" devia ser falar a Língua Portuguesa. Se não, trata-se apenas de uma palhaçada. Só não percebo qual o ganho da Guiné Equatorial para querer entrar na CPLP.

vitor pereira
23/07/2014 12:27
A entrada da Guiné Equatorial para a CPLP é a maior vergonha e escândalo desde o nosso 25 de Abril!
Admitem um País de língua espanhola, com um ditador da pior espécie que tem um filho que é pior que ele, onde há pena de morte, ..., só porque a Guiné Equatorial tem petróleo? Isso justifica as barbaridades, assassinatos, roubos e miséria naquele Pais e recebem o presidente de mãos abertas? Portugal devia pura e simplesmente, já que a sua oposição é mínima, suspender como membro até que esse país saia da CPLP.
Aliás Portugal só gasta dinheiro com isso tudo e ninguém vê quaisquer proveitos em ser membro da CPLP. O Governo nunca reconheceu os golpistas da Guiné-Bissau, que foi nossa colónia, e agora aceita a entrada desse país miserável? Políticos metem nojo!

Antonio Silva Ferreira
23/07/2014 23:56
Caro A Antunes,
A Guiné Equatorial tem tudo a ganhar. Trata-se um país ostracizado que, por isso, necessita de aproveitar todas as plataformas possíveis "para dizer que existe". É lamentável que todos os países da CPLP se tenham prestado a ser esse veículo, não respeitando, inclusive, aquilo que é o fio condutor de tal Comunidade: a língua portuguesa.
E Portugal não tem as suas responsabilidades diminuídas, como parece ser a ideia que se quer criar junto da opinião pública. Há que lembrar que o cidadão português que mais se empenhou nesta adesão da Guiné Equatorial foi o ex-ministro dos negócios estrangeiros Luís Amado. Hoje é presidente do Banif. Coincidência? Não creio...


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