sexta-feira, 11 de julho de 2014

Banco Espírito Santo esclarece exposição ao Grupo Espírito Santo


A Espírito Santo Financial Group (ESFG), a maior accionista do Banco Espírito Santo, solicitou ontem a suspensão da cotação na bolsa de Lisboa.
Face à queda das bolsas europeias e à subida dos juros dos títulos da dívida pública de Portugal, consideradas como uma consequência do desconhecimento da solidez financeira do Banco Espírito Santo (BES), a CMVM decidiu suspender a negociação das suas acções pelas 12:32 de ontem e exigiu um esclarecimento ao banco sobre a sua exposição ao Grupo Espírito Santo (GES).

O comunicado do banco surgiu pouco antes da meia-noite e começa logo por esclarecer que tem uma almofada de capital de 2100 milhões de euros:

O Banco Espírito Santo detinha em 31 de Março de 2014, em base consolidada e considerando o montante do aumento de capital realizado em Junho, um buffer de capital de 2.1 mil milhões de euros acima do rácio mínimo regulamentar Common Equity Tier I (8%).

Depois dos membros da família Espírito Santo — Ricardo Salgado, José Manuel Espírito Santo e José Maria Ricciardi — e do representante do Crédit Agricole (Stanislas Ribes), se declararem impedidos de tomar decisões sobre a ESFG e o GES,
Os membros que renunciaram às funções de Administradores do BES, mas que ainda não tenham sido substituídos, declaram-se impedidos de participar na discussão e/ou deliberações de questões relativas ao Grupo ESFG e ao Grupo Espírito Santo. Mais se informa que tais membros serão substituídos após a assinatura das contas de 30 de junho, o que se prevê ocorrer até 28 do corrente mês de julho.

O Banco Espírito Santo compromete-se a não aumentar a exposição total ao Grupo Espírito Santo.
surge a informação exigida pela CMVM:


Exposição directa do BES ao Grupo Espírito Santo



Portanto o banco apresentava em 30 de Junho uma exposição directa de 1183 milhões de euros às empresas do GES.
O comunicado faz questão de sublinhar que, neste total, está uma exposição de 858,1 milhões de euros à ESFGholding da área financeira do GES — e bancos subsidiários e 224,3 milhões de euros à Rioforte — holding da área não financeira do GES — e suas subsidiárias.

Adicionalmente, e não referida no quadro anterior, existe uma exposição de 297 milhões de euros à ESCOM que, segundo informação do GES, terá sido vendida embora o processo ainda não esteja concluído.

O banco detalha também a exposição que os seus clientes de retalho têm ao GES, que totaliza 853 milhões de euros:
O montante de títulos de dívida emitidos por entidades do Grupo Espírito Santo e detidos diretamente pelos clientes de retalho do Grupo BES, à data de 30 de junho, era o seguinte:
- Papel comercial emitido pela Espírito Santo International: 255 milhões de euros;
- Papel comercial emitido pela Rioforte: 342 milhões de euros;
- Papel comercial emitido por subsidiárias da Rioforte (ES Saúde e ES Property): 44 milhões de euros;
- Papel comercial e obrigações emitidas pela ESFG e suas subsidiárias: 212 milhões de euros.
Recorda ainda que a ESFG emitiu uma garantia incondicional e irrevogável no montante de 700 milhões de euros para que a Espírito Santo International possa cumprir os compromissos relativos à dívida emitida e colocada através do Grupo BES junto dos seus clientes de retalho. Esta garantia abrange actualmente instrumentos de dívida emitidos por outras entidades do Grupo Espirito Santo, nomeadamente a Rioforte.

Mas o BES não tem responsabilidade pelos títulos de dívida emitidos por empresas do GES e detidos directamente por clientes institucionais, que ascendem a 2011 milhões de euros:
O montante de títulos de dívida emitidos por empresas do Grupo Espírito Santo detido diretamente por clientes institucionais e em custódia no Grupo BES, a 30 de junho de 2014 era como segue:
- Emitidos pela Espírito Santo International: 511 milhões de euros
- Emitidos pela Rioforte e subsidiárias: 1.5 mil milhões de euros.
Estes investidores são considerados investidores qualificados de acordo com os critérios legais aplicáveis, e portanto com maior capacidade de avaliação de risco.

A estrutura accionista do BES é actualmente a seguinte:


Notas: Participação da BlackRock anunciada em 8 de Julho de 2014, participação da Baupost anunciada em 10 de Julho de 2014, restantes participações qualificadas à data de 17 de Junho de 2014.


*


Nada é dito neste comunicado sobre os quase 900 milhões de euros que, em Abril, a Portugal Telecom (PT) aplicou em papel comercial da Rioforte — dívida que vence nos próximos dias 15 e 17 de Julho e está a atirar a cotação da PT para mínimos históricos — mas devem estar englobados nos 1,5 mil milhões detidos pelos clientes institucionais.

Como a almofada de capital do BES — 2100 milhões de euros — é superior à soma da exposição directa (1183 milhões de euros) com a exposição dos clientes de retalho (853 milhões de euros) ao Grupo Espírito Santo, certamente as acções do banco vão voltar hoje a ser negociadas em bolsa.

O Banco de Portugal já tinha reiterado esta quinta-feira: "A situação de solvabilidade do BES é sólida, tendo sido significativamente reforçada com o recente aumento de capital".

Sobre a garantia de 700 milhões de euros emitida pela ESFG para proteger os pequenos clientes do BES, temos de dar os parabéns ao governador do Banco de Portugal Carlos Costa. O seu a seu dono.
E, pelos vistos, a situação financeira do BES é sólida por obra de um aumento de capital providencial. Folgam os bolsos dos portugueses.


Sem comentários:

Enviar um comentário