"Estamos mais isolados do que queremos admitir. A saída do euro seria uma catástrofe para Portugal mas estamos a usar o argumento errado para nos garantirmos: que seria uma catástrofe também para os outros. Isso pode não ser verdade. O euro é mais importante para nós do que nós somos para o euro.
O argumento de que seremos socorridos porque temos dívida colocada em bancos estrangeiros é falacioso: se alemães, franceses e espanhóis nos ajudarem com dinheiro por causa dos seus bancos, podem preferir ajudar directamente esses bancos. E o argumento de que o ideal da União seria traído, sendo verdade, é apenas uma súplica final. De um dia para o outro, outros dirão que fomos nós que traímos esses ideais ao produzirmos as nossas falências depois das suas subsidiações. É uma visão egoísta? É. Mas não deixará um grama nas suas consciências.
(...)
O plano da troika é, mesmo, mas mesmo, uma última oportunidade, que temos de agarrar sem submissão mas com humildade. Só nós nos salvaremos, os outros apenas nos emprestam dinheiro. É bom acabar com a ilusão de que jamais nos deixarão cair e, em vez disso, olharmos para os compromissos brutais de redução dos défices."
carlos.gaspar 16 Maio 2011 - 17:30
CG - A reestruturação da dívida para um garoto de 5 anos
Será que aquilo a que chamamos "Economia" não funciona em Portugal?
Vejamos o que acontece quando a Deco aborda o problema do sobre endividamento de uma família.
Vamos usar como exemplo uma família com a prestação da casa e carro para pagar e que chega ao fim do mês sem dinheiro para pagar uma das prestações, a título de exemplo a prestação do carro.
A opção errada e desaconselhada pela Deco seria utilizar por exemplo um cartão de crédito para pagar a prestação em falta.
Ao se pagar um crédito com outro crédito estamos pagar uma dívida com uma nova dívida que estaremos obrigados a pagar. Assim rapidamente esta família poderá entrar em incumprimento de agora três contratos em vez de dois e perder o acesso não só ao carro mas também à casa pois os montantes em dívida ao aumentarem poderão vir a superar o valor dos seus activos ou bens já pagos ou seja a família vir a ser privada da sua casa e carro já parcialmente pagos.
A opção correcta e aconselhada pela Deco e seus economistas passa sempre por uma renegociação da dívida.
Esta opção passa pelo passo dado pela família reconhecer ao banco credor que se está a tornar difícil senão impossível, face aos rendimentos disponíveis pagar as suas dívidas nos modelos contratados inicialmente. Então o banco vai propor a renegociação da dívida em falta ou seja alargar os prazos de pagamento baixando assim as prestações mensais ainda que o valor da dívida aumente, as prestações ficarão dentro dos rendimentos disponíveis dessa família.
Se apesar deste alargamento dos prazos a prestação for ainda elevada procede-se à venda do carro ou mesmo da casa para se saldar dívidas com o intuito de se poder comprar uma casa ou carro mais económico e não se perder o direito a eles por acumulação de dívidas.
O que é que se está a fazer neste momento em Portugal?
Em Portugal foi reconhecido pelo governo, PS, PSD e CDS que não tínhamos capacidade de honrar os nossos compromissos de pagamento de dívida com os credores, basicamente bancos e sucedâneos, e como solução para o pagamento de uma dívida foi-nos apresentado como inevitável o recurso a um novo crédito. Ou seja pagar uma divida recorrendo a uma nova dívida.
Ora este é exactamente o modelo que todos os economistas denunciam como errado e meus Srs. e Sras. não existem dois modelos "certos" diferentes na economia!
No final de 2010 a nossa divida externa segundo alguns seria de aproximadamente 94% do PIB ou seja aproximadamente 160 mil milhões de euros e para honrarmos o pagamento das “prestações” desta dívida vamos contratar uma nova dívida de 78 mil milhões de euros ao que vai acrescer cerca de 30 mil milhões de euros em juros num total de nova potencial dívida de 110 mil milhões de euros potenciando uma quase duplicação da nossa dívida actual.
Esta pergunta impõe-se, na altura em que tivermos de pagar efectivamente mais de 200 mil milhões de euros e os seus juros, iremos imediatamente para a bancarrota? Teremos a hipótese de renegociar a dívida? Teremos a hipótese de apoiar o correcto funcionamento da economia? Ou teremos de recorrer a ainda mais créditos?
Estará tudo doido em Portugal? Será que só o PCP e o Bloco de Esquerda é que se opõem a uma opção deste tipo, que é extremamente danosa para a nossa sustentabilidade económica?
Eu não sou apoiante do BE ou do PCP, quem me conhece sabe que nunca fui, nem venho para aqui incitar ao voto, faço parte de um sem número de cidadãos, de entre os quais muitos economistas, que advogam que este acordo com o FEEF/FMI é um desastre e que este desastre pode ser explicado a qualquer pessoa mesmo que seja leigo em economia.
O acordo com o FEEF/FMI não faz sentido e é fraudulento para as expectativas dos portugueses pois só induz a mais e maiores "prestações" aos nossos credores que teremos de pagar com o nosso suor e trabalho, via impostos de todo o tipo sejam eles directos ou indirectos.
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