sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Não há pequenos-almoços grátis


O país tem três graves problemas para resolver: a mediocridade da educação, a morosidade da justiça e a estagnação da economia. Na economia avulta a dependência do exterior para satisfazer as nossas necessidades alimentares.
É do negócio da alimentação e, mormente, da nossa carência na produção de alimentos, que se fala em Não há pequenos-almoços grátis:


"Um produtor alentejano vende hoje uma saca de trigo mais barata do que há 20 anos. Mas um papo-seco custa várias vezes mais.
(…)
A alimentação é um dos grandes sectores económicos do século XXI. O mundo não está apenas a exaurir os seus recursos financeiros e ambientais — mas também os alimentares. Porque somos cada vez mais. Porque os alimentos estão mal distribuídos, entre países e entre classes sociais. Mas, sobretudo, por causa do crescimento das classes médias nos países emergentes (centenas de milhões de chineses, brasileiros, etc. saíram da pobreza nos últimos anos). As suas dietas tornam-se mais exigentes, em quantidade e em proteínas. A carne, os cereais, tudo está mais caro.
(...)
A economia agrícola é dos fenómenos mais fascinantes de estudar. Salazar doutorou-se nos fluxos do trigo, Cunhal especializou-se na questão agrária. Mas os parolos dos governantes portugueses de há 20 anos decidiram que não era "cool" investir em Agricultura. Depois do desinvestimento com a reforma agrária dos anos 70 e das políticas de rendimento dos anos 80, com Cavaco a aceitar a iniquidade da subsidiação europeia, ficámos sem agricultura. Hoje, não temos factor trabalho nem capital (a maquinaria está obsoleta), e a produção que sobrou liquidou-se perante a concentração da distribuição. E assim estamos de fora de um dos grandes negócios do século: a alimentação.
"


carlos.gaspar 10 Dezembro 2010 - 15:11
CG - A saca de trigo efectivamente vale menos do que há 20 anos
Cada vez é mais barato e fácil alimentar a população mundial.
Uma das causas é a automatização e processos de produção tecnologicamente mais avançados.
A verdade é que a matéria prima é cada vez mais barata no produtor agricultor, mas depois de passar por vários cartéis fica escandalosamente cara no consumidor.
Um dos cartéis a funcionar em Portugal é o cartel do pão, já várias vezes condenado na justiça. Este cartel faz com que a saca de trigo, paga ao produtor alentejano, se torne em 12 cêntimos por menos de 50 gramas quando se junta água, fermento e sal...

Como se pode, sequer, falar em escassez de cereais? Por exemplo, os EUA, onde nos anos 60 mais de metade da população vivia da agricultura, hoje em dia, depois de aumentos de produção enormes e de pouco mais de 1% da população conseguir abastecer os habitantes locais, ainda exportam quantidades enormes para todo o mundo.
O que acontece é que a escassez provoca o aumento do valor dos produtos... O cartel que conseguir criar a ideia de escassez vai obter lucros enormes, pois vai produzir menos e vender mais caro, apesar de todas as inovações tecnológicas ditarem a diluição de preços.

Não existe crescimento de consumo no mundo que se sobreponha ao enorme aumento de produtividade dos últimos anos, onde todos temos no imaginário enormes tractores que plantam e colhem o trigo, e outros cereais, com um nível de automatização assombroso.

Quanto ao aumento de população, é evidente que esse motivo ainda não é válido, apesar do argumento poder vir a ser preocupante. Neste momento, se puséssemos todos os humanos habitantes da terra num país como a Austrália, cada humano teria direito a mil metros quadrados para viver. Uma família de quatro pessoas teria direito a 4 mil metros quadrados e ainda teríamos os recursos do resto do mundo para explorar.

A escassez é um conceito frequentemente utilizado por monopólios ou cartéis para produzir lucro.
A verdade foi dita no fim "[este é] um dos grandes negócios do século", pois foi permitida a concentração da produção e altos níveis de cartelização do sector.
Hoje em dia a produção de certos alimentos é de valor negligenciável devido às tecnologias empregues.
E mais, o valor do pão é desprezável... A semana passada conseguíamos comprar 1kg de bolo-rei no LIDL mais barato que o valor do pão carcaça ou papo-seco na maioria das padarias. Isto diz alguma coisa não?




Speeding 10 Dezembro 2010 - 15:27
Bom artigo
Pior do que estar fora do negócio é a dependência alimentar implícita (70%)!
Que mais é preciso para julgar os resultados das teorias levadas à prática durante os últimos trinta anos?
Ah! Peço desculpa, não há que julgar os resultados, mas sim as teorias ... "Não olhes para o que faço, mas sim para o que digo"
E assim continuamos a cavar a própria sepultura, enjeitando responsabilidades e culpando o resto do mundo.
Persistimos nos erros e pomposamente chamamos-lhes convicções. Persistimos na demagogia e habilmente chamamos-lhe "ideais políticos".


luisptavares 10 Dezembro 2010 - 15:59
A política do subsídio
O grande erro consistiu no pagamento para produzir, ao invés de pagamento por produto produzido...


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