sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

"This little piggy went to the market"


"Temos mesmo de passar por isto?"

14 Janeiro 2011, 11:00 por Camilo Lourenço

"Na quarta-feira, depois do leilão de Obrigações Tesouro, procurei saber o que a Imprensa internacional pensava da operação.

A menos que não fosse para perceber se o pessimismo com que interpretei o leilão, não era mau feitio... (obrigado Paul Krugman!). Ao "folhear" a prestigiadíssima "The Economist", dei com o título "This little piggy went to the market". A brincadeira pretendeu associar Portugal a "porquinho", usando o título de uma canção para crianças e o acrónimo "PIGS", encontrado pelos anglo-saxões para qualificar os países afectados pela crise de dívida soberana: Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha (Spain).

Vale a pena ligarmos ao insulto (é de insulto que se trata)? Não. Venha ele de onde vier. Porque, como nos ensinam em miúdos, o insulto só desqualifica o autor.
Mas vale a pena perguntar se não podemos fazer nada para evitar aparecer, ciclicamente, nas bocas do mundo… pelas piores razões. Um antigo colega de faculdade, jornalista do "The Wall Street Journal", dizia-me há semanas que nunca pensou ouvir falar tanto de Portugal... pelas más razões. Uma alusão à performance do País nos primeiros dez anos pós-integração europeia, que levava a pensar que embalaríamos para uma segunda década de prosperidade (1995-2010).

É nisto que devemos meditar. Não há em Portugal talentos que ajudem a traçar um rumo que poupe o País às humilhações das últimas décadas? Há. As empresas de sucesso que temos confirmam-no. O problema é que há uma divergência galopante entre a qualidade da gestão empresarial e... a gestão política. Time for a generation change?"


*




Para os políticos, primeiro a carreira, depois o país

O título é insultuoso mas o conteúdo da notícia publicada no The Economist é, infelizmente, verdadeiro e o gráfico anexado mostra a colagem das taxas de juro das obrigações do tesouro a 10 anos às taxas da Irlanda, entre Abril e Outubro de 2010.

Grudado ao cargo de primeiro-ministro, José Sócrates deixou a execução orçamental derrapar em 2009 e mentiu sobre o valor do défice orçamental — 5,9% quando, na verdade, atingia 9,4% do PIB.
No início de 2010 absteve-se de tomar as medidas que se impunham, deixando arrastar a situação até ao último trimestre de 2010. E o presidente da República alinhou.

Nos próximos anos os portugueses vão pagar as altas taxas de juro a que estamos a financiar a dívida pública, as quais, aliadas ao desinvestimento na economia, vão mergulhar o país numa recessão. Além de passarmos pela vergonha de ver os nossos governantes a mendigar que nos comprem dívida:



Bill Gross:
We do not blame Prime Minister Socrates for touting his market. That’s the name of the game in these days, not just in Portugal, but in other countries. They’re not like Greece, in other words. And yes, I guess we can give it to him in terms of 80% foreign participation and yes, we can give it to him in terms of a well-bid auction, but basically these auctions are prearranged sales. They are not really auctions.
They are bought by domestic banks within euro land and then they’re rediscounted to the central bank. So it is internal buying. There are claims of Japan and China and so on, but they’re really looking for the private institutions like PIMCO and other insurance companies to buy, and we just have not done that yet.



A opinião dos outros:

xibantinha 14 Janeiro 2011
Necessitamos dos Ronaldos todos
Completamente de acordo, chamar para a política os bons técnicos, e pagar-lhes devidamente, fica sempre mais barato do que pagar pouco a maus técnicos, evidentemente. Com as devidas diferenças, perguntem a Florentino Perez se Ronaldo não acaba, apesar de caro, por ficar barato. Pois é!

femur 14 Janeiro 2011
Nós por cá ...
... para pagar a dívida ao juro leiloado precisávamos de crescer 5% por ano. Para o ano vamos ter recessão, vamos lá a ver como estes políticos se safam. Isto é, não se safam. Mobilizar o país em torno do FMI é má política porque nós é que precisamos, não eles. E esperem pelas contas das PPP daqui a dois anos e depois é que elas mordem. Nós é que nos colocámos a jeito. Estes criminosos vão safar-se como sempre e até irão para lugares de destaque. A culpa é da democracia à portuguesa.

bcarlos 14 Janeiro 2011 - 14:32
Caro Camilo, ouviu o que Bill Gross disse sobre o leilão de dívida?
Como sabe, Bill Gross da Pimco é o gestor de uma dos maiores e melhores fundos de obrigações do mundo. Esta semana, após o leilão, ele disse: foi tudo combinado para ser um êxito. Os bancos europeus compraram as obrigações e em seguida entregaram-nas como colateral no BCE para obtenção de financiamento.

jalminha 14 Janeiro 2011 - 14:45
Estou pasmado...
Caro Sr. Xibantinha,
Vou recordar-lhe a frase que citou: "Completamente de acordo, chamar para a política os bons técnicos e pagar-lhes devidamente, fica sempre mais barato do que pagar pouco a maus técnicos, evidentemente".
Deve com certeza pertencer à classe dos gestores públicos que já são pagos a peso de ouro e ainda querem mais! Só assim entendo esta sua afirmação. Pagar mais aos gestores públicos? Mais reformas cumulativas desses energúmenos? Mais ajudas de custos para os city boys?
Mais despesa pública concentrada em três dúzias de imbecis? Tenha bom senso e vá ao âmago da questão sem tapar o sol com peneiras.

CarlosCostaTeixeira 14 Janeiro 2011 - 14:55
Guerra é guerra
Lamento que os respeitáveis economistas deste burgo ainda não tenham percebido o que se passa. É um facto que Portugal está endividado até à medula, mas faço uma pergunta: estão os USA melhor? Não, mas têm uma vantagem, podem pôr as rotativas a trabalhar na impressão de dólares.
O problema é que com o Euro este modelo, tão usado no passado, já não resulta e então pode-se pressionar os Países mais fracos da zona Euro para dar cabo desta moeda. Ou têm dúvida que depois de Portugal se seguirão a Espanha, Bélgica e Itália?
O que lhes doeu desta vez foi o acordo com os chineses que são os principais competidores para a liderança económica mundial num futuro próximo. E eu estou-me nas tintas para quem me compra dívida e me dê trabalho, sejam chineses ou dinamarqueses.

abc1945 14 Janeiro 2011 - 15:23
Gestores/Patrões
O problema se calhar não está nos gestores mas está, de certeza absoluta, num número muito elevado de patrões que se habituaram a não pagar as suas contribuições ao Estado. Se todos os anos se tem conseguido recuperar milhões e milhões atrasados, é porque não tinha sido pago na altura devida.
Gostava que o Sr., como jornalista, fizesse um trabalho sobre este assunto, porque provavelmente chegaria à conclusão de que estamos na situação em que estamos por causa destas dívidas vergonhosas. Num país civilizado os patrões com dívidas são olhados de lado, cá são vistos como chicos-espertos e invejados pela imensa maioria de analfabetos ou semi-analfabetos.

xibantinha 14 Janeiro 2011 - 16:20
Caro Sr. Jalminha,
Sem querer desiludi-lo, devo dizer-lhe que não pertenço à turma do Rui P.S, olhe mas nem por sombras.
Dito isto, vou-lhe lembrar respeitosamente, claro, o seguinte: Havia um director-geral dos Impostos que ganhava 23.000€ por prestar os seus préstimos ao País. Caiu o Carmo e a Trindade que não podia ganhar mais que o primeiro-ministro, não sei quê, não sei que mais... Dizem também que saiu do BCP onde ganhava isso.
Não tenha dúvidas, meu caro, quem é o bom técnico que quer andar de cavalo para burro? Ninguém. E mais, sem ter a exposição mediática que se tem na política, ou seja, sem ter que responder a jornalistas e dar satisfações frequentemente na Assembleia. É evidente que, se quer chamar para a causa pública bons técnicos, tem que se lhes pagar devidamente, pelo menos, ao nível do que se ganha nas empresas honestas, doutra forma estamos condenados a levar com o refugo.
Cumprimentos


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