quinta-feira, 20 de março de 2014

Votamos nas cabras


Vivemos numa época em que todas as semanas aparece mais um grupo profissional a exigir verbas que proporcionem melhores condições salariais e do ambiente de trabalho para os seus membros, sem se preocuparem com as consequências que a satisfação dessas reivindicações teriam na economia e nas depauperadas finanças do País.

No entanto, temos graves problemas nacionais para resolver, como sejam os fogos que anualmente devastam milhares de hectares das florestas portuguesas, pondo em risco as habitações das famílias que vivem nas povoações rurais e a vida dos bombeiros, além de empobrecerem o País.
É, por isso, uma lufada de ar fresco quando um arquitecto paisagista, com experiência nesta área, vem propor um projecto exequível para solucionar, pelo menos parcialmente, o problema dos fogos florestais, sem exigir qualquer despesa adicional por parte do Estado. Aqui fica a sua carta aberta divulgada no Público:


"Antes cabras que aviões

HENRIQUE PEREIRA DOS SANTOS 20/03/2014 - 13:32

Inteligente é sermos capazes de gerir o fogo e não precisar dos melhores meios possíveis para o tentar combater.


Exmo. senhor ministro da Administração Interna,

Li que tenciona gastar 27 milhões de euros em cada um dos aviões para os fogos.

Tenho uma proposta para lhe fazer: entregue-me os 27 milhões que custa um Canadair e deixe-me geri-los, absolutamente pro bono.

Explico-lhe o que farei com eles. Faço um concurso para projectos que tenham as seguintes características:

1) Terem uma área geográfica definida; 2) Usarem, de forma integrada, fogo, cabras e sapadores para gerirem o mato; 3) As mesmas pessoas responsáveis por gerir o mato serão responsáveis pelo combate nessa área geográfica (usando ferramentas com cabos de pau e pinga-lume, como alguém dizia um dia destes, judiciosamente).

Os projectos poderiam ser de proprietários, associações de proprietários, ONG, associações de bombeiros, qualquer pessoa ou instituição, excluindo o Estado e qualquer associação em que o Estado tivesse mais de 15% do capital.

Da experiência que tenho por gerir um projecto que tem algumas semelhanças com o descrito (financiado, veja lá, com o Fundo EDP de Biodiversidade, porque o Fundo Florestal Permanente é gerido como sabe), eu diria que tipicamente um financiamento de 500 mil euros seria suficiente para financiar cinco anos a gestão de qualquer coisa como 2500 a cerca de 5000 hectares, incluindo um rebanho de 200 cabras e apoio técnico, em especial para o uso do fogo, quer na prevenção, quer no combate.

O seu Canadair financiaria cerca de 50 projectos, ou seja, a gestão e combate em 100 a 200 mil hectares. Não ficaria o problema dos fogos resolvido, isso é certo, mas também não fica com o Canadair.

E repare na diferença. O Canadair é importado, as cabras são de fabrico nacional. O Canadair usa combustíveis fósseis, as cabras são recursos renováveis. O Canadair cria custos de manutenção, as cabras criam cabritos. O Canadair não altera os dados do problema, as cabras estrumam o solo e aumentam a produtividade. E, last but not the least, no fim do seu tempo de vida útil o Canadair dá ainda despesa para o seu desmantelamento e tratamento dos resíduos e as cabras dão chanfanas.

Não falo sequer na diferença de criação de emprego, não falo da presença de gente no território, não falo da diferença no equilíbrio territorial, não falo da transferência de recursos entre o litoral e o interior.

E não falo da sustentabilidade futura: o Canadair não cria riqueza e vai ser preciso de novo gastar mais 27 milhões qualquer dia, as cabras reproduzem-se e criam oportunidades de negócio incríveis, como pode imaginar, por exemplo, pensando na grande distribuição a fazer promoções de cabrito como forma de apoiar o esforço colectivo de gestão do fogo.

Pense nisto, senhor ministro, porque talvez estejamos de acordo num ponto essencial: inteligente, inteligente é sermos capazes de gerir o fogo e não precisar dos melhores meios possíveis para o tentar combater.

Até porque o fogo teima em se rir dos Canadair e outras sofisticações tecnológicas, continuando só a obedecer a quem o combate com os pés no chão, com as mãos em cabos de madeira e com uma cabeça fria que saiba usar o fogo contra o fogo."



Mais um que não vota nos políticos portuguesas mas, sim, nas cabras:

Arons Vale E Cunha
17:28
Esqueceu-se do queijo, amigo Henrique Santos, as cabras dão um queijo excelente e consequentemente um enorme mercado, imensos postos de trabalho e até, para fazer jus à grande bandeira deste governo, um enorme potencial para a exportação. O seu projeto vale incomensuravelmente mais que os "vistos Gold" e todas as patranhas tecnológicas dos tempos modernos mas, tem um handicap, não distribui luvas nem prestígio aos promotores e, está, por isso condenado à inenarrável traição destes fedelhos que trazem a bandeira na lapela. O seu projecto tem tudo para emendar o desnorte e o despesismo irresponsável que se tem verificado no país. Sonho com o dia em que os cidadãos sairão à rua, não para reivindicar privilégios, mas para acertar contas com o bom senso, O seu projeto é puro bom senso.


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