quarta-feira, 26 de março de 2014

Restrições de acesso à Internet nas escolas vão dar polémica


A Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência enviou uma comunicação às escolas em que anuncia:
  • restrições à entrada no Facebook, Tumblr, Instagram e lojas Android e Apple, entre as 08h30 e as 13h30. No resto do dia há um limite máximo de utilização;
  • o YouTube não terá limitação horária mas fica abrangido por um limite máximo de utilização;
  • actualizações do sistema operativo Windows só serão possíveis entre as 17h e as 8h do dia seguinte.
Estas limitações abrangem alunos, professores e pessoal administrativo ou auxiliar e têm o objectivo de “melhorar a qualidade do acesso à Internet”.

Entretanto o Ministério da Educação e Ciência (MEC) justificou estas medidas com a necessidade de responder à “pressão sobre a rede” que decorre do acesso a páginas que, “de um modo geral, não se revestem de carácter pedagógico”.
Antecipando-se às críticas, o MEC negou que as restrições agora decididas tenham objectivos de poupança ou de atribuir “qualquer ganho para a PT”, o operador de telecomunicações que fornece o acesso à Internet nas escolas desde 2008.

Os directores dos agrupamentos de escolas aplaudem estas medidas, ao invés dos professores de informática que as contestam.

*

Todos sabemos que o Facebook e o Tumblr são redes sociais que as pessoas usam para sociabilizarem, a primeira mais usada por adultos e a segunda por crianças e adolescentes. Há utilizadores que divulgam conteúdos científicos no Facebook, como por exemplo a NASA, mas apenas para captarem público para os seus próprios websites e os docentes já os conhecem.
O Instagram é um sítio na Internet que permite aplicar filtros digitais a fotografias e compartilhá-las naquelas redes sociais e noutras como o Twitter e o Flickr.

Os directores das escolas manifestaram a sua concordância com estas restrições porque a Internet nas escolas vai funcionar melhor e vão ter facturas menos astronómicas para pagar, mas em Outubro vão receber um choque quando receberem as dotações do MEC.

Por outro lado, os professores de informática contestam estas medidas porque os alunos adoram as redes sociais e, além disso, adoram os professores que os deixam brincar nas redes sociais. Como é que agora vão entreter os miúdos do 1º ciclo nas actividades de enriquecimento curricular que tanto dinheirinho lhes dão a ganhar e às associações de pais?

No entanto, os professores de TIC são apenas a ponta do iceberg, outros se vão manifestar. Não podemos esquecer que há professores e professores e se alguns trabalham imenso, há outros que fazem sempre os mesmos testes e de resposta múltipla para se corrigirem rapidamente.
Além de que certas disciplinas, como Educação Visual e Tecnológica do 2º ciclo, Educação Tecnológica do 3º ciclo, Educação Física dos 2º e 3º ciclos e aquelas disciplinas que o MEC autorizou os directores a criar para não haver horários zero, como seja Cidadania, não têm testes.

Portanto há docentes que pouco têm de fazer na componente não lectiva, ou seja, em 40–22=18 horas semanais do seu horário. Descontando duas horas, em média, de reuniões por semana, isto significa 16 horas livres semanais, algumas das quais têm de ser passadas nas escolas porque nem todas as actividades são seguidas.
Ora os professores são especialistas em crianças e criaram imensos negócios rentáveis no Facebook, desde venda de bonecas a roupas de criança, passando pela confecção de bolos e organização de festas de aniversário. A história de Cláudia Praça aqui narrada é paradigmática: de um perfil com fotos no Facebook nasceu um negócio e, diga-se de passagem, as suas bonecas são encantadoras.
Obviamente estes negócios também são geridos à hora de almoço e nos tempos livres entre actividades que têm de ser passados nas escolas.

Finalmente onde é que se preparam muitas manifestações contra o governo de Passos Coelho? Se o leitor respondeu “No Facebook dos computadores das escolas”, então acertou. De modo que ainda vamos ouvir o inefável Mário Nogueira bramar contra esta medida, alegando, como é óbvio, razões pedagógicas e a defesa da liberdade de expressão.

Mas não se pense que só os docentes usam o Facebook nas escolas. Desde o governo de Guterres há aulas de 90 minutos. Com os alunos metidos nas salas de aula há assistentes operacionais que prestam serviço na biblioteca, no bar, e não só, que se entretêm no Facebook a fazer likes, justamente na altura em que os docentes mais precisam de largura de banda para actividades pedagógicas.

Há também que contar com a reacção negativa dos paizinhos que estão habituados a fazer todas as vontades aos meninos que vão ficar furiosos por deixarem de ter as redes sociais até às 13h30.

E não falámos naqueles vídeos tão interessantes do Youtube cujos links se recebem no e-mail e, depois de visionados, se enviam para uma lista de endereços. Com limite máximo de utilização, o Youtube só vai poder ser usado em actividades pedagógicas.

Donde se pode concluir que a procissão ainda vai no adro...


Sem comentários:

Enviar um comentário