segunda-feira, 31 de março de 2014

Manuel Valls vai governar a França


Após a derrota do partido socialista nas eleições municipais, esperava-se que François Hollande anunciasse uma profunda alteração governativa na sua alocução televisiva desta noite.
O presidente francês começou por prestar homenagem ao seu ex-primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault que teve de executar a tarefa difícil de fazer reformas. De seguida, e tal como se previa, Hollande confirmou a nomeação do ministro do Interior, Manuel Valls, como o novo primeiro-ministro:


Dailymotion/Le Monde.fr 31.03.2014

Hoje é o momento de abrir uma nova etapa. Por isso confiei a Manuel Valls a missão de conduzir o Governo de França. Tem o perfil adequado. Vai ser uma equipa muito compacta, coerente e unida, um governo de luta."

A este governo confiou a tríplice missão de reanimar a economia, garantir a justiça social e criar a coesão. Para apaziguar a ala esquerda do PS, Hollande vai propor um pacto de solidariedade:
"Ao Pacto de Responsabilidade deve corresponder um Pacto de Solidariedade. O primeiro pilar é a educação e a formação da juventude; o segundo é a segurança social com a prioridade dada à Saúde e, finalmente, o terceiro é o poder de compra com uma diminuição dos impostos dos franceses até 2017 e uma redução rápida das contribuições pagas pelos assalariados."

Terminou a alocução deplorando a "crise cívica e até moral" que a França atravessa:

"Ela sofreu uma contestação das instituições, incluindo recentemente a justiça. Ela perde a sua energia com muita frequência em discussões vãs. Ela cultiva uma ansiedade que os extremistas usam para atiçar ódios e rejeições. A República é o nosso bem comum. Não vou deixar nenhum dos seus valores ser lesado, atacado ou ofendido, em qualquer lugar do país."

"Nenhuma forma de exclusão, estigmatização ou comunitarismo será tolerada. O diálogo e o respeito são, mais do que nunca, a melhor maneira de reunir os franceses e os seus representantes. (...) Este método de diálogo é o meu."


*

Manuel Valls pertence à ala direita do PS e o seu pensamento enraíza na social-democracia alemã e escandinava. Defende um discurso político "economicamente realista" e desprovido de "demagogia".
Ao contrário dos seus pares socialistas, aposta na responsabilidade individual: "A nova esperança que a esquerda deve trazer é a auto-realização individual: permitir a cada um tornar-se naquilo que é". Considerando-se "mais reformista que revolucionário", pretende "reconciliar a esquerda com o pensamento liberal".

Em França, é um político mais popular entre a direita do que entre os próprios socialistas. Numa sondagem realizada antes da segunda volta das eleições municipais, 31% dos franceses gostaria de o ver como primeiro-ministro, enquanto Jean-Marc Ayrault apenas agradava a 11% dos franceses.

Valls defende a existência de quotas de imigração e declarou que os ciganos, que insistem em viver em acampamentos ilegais, não desejam integrar-se e têm a vocação de regressar ao país de origem.
Sendo a Frente Nacional um partido de extrema-direita e anti-imigração que ficou em terceiro lugar nas eleições municipais, a presença de Valls no palácio do Matignon vem desviar-lhe eleitorado. Daí Marine Le Pen, líder da Frente Nacional, ter-se lançado ao ataque: “Este homem é perigoso. Há que temer o seu domínio. É um homem de autoridade nas palavras. Valls é um homem da comunicação”.




Sem comentários:

Enviar um comentário