quinta-feira, 27 de julho de 2017

Tragédia em Pedrógão Grande - IV. O SIRESP


A “caixa negra” do incêndio do Pedrógão Grande mostra que pedidos de ajuda de várias pessoas não chegaram ao posto de comando devido a falhas nas comunicações.

O Sistema de Apoio à Decisão Operacional (SADO) — a chamada "caixa negra" da Protecção Civil — regista todos os passos dados no combate aos incêndios: data, hora da ocorrência e medidas tomadas como resposta.

De acordo com o registo da "caixa negra", divulgado hoje pela comunicação social, ocorreram várias falhas graves de comunicação nos incêndios em Pedrógão Grande. Este vídeo da SIC transcreve os registos da fita do tempo:




Durante cinco horas não há qualquer comunicação. No entanto, o membro do governo que estava no terreno garantiu, à noite, que as comunicações SIRESP funcionaram "com regularidade".

Às 19.45 de sábado, dia 17, chegou o primeiro pedido de ajuda. O 112 foi alertado para a situação de três pessoas que se encontravam dentro de uma casa cercada pelas chamas, no Casalinho. Mas as comunicações falharam, não sendo possível avisar o posto de comando.

Nesse mesmo dia 17, às 21.47, está registado o pedido de ajuda de um homem de 75 anos com problemas respiratórios, residente em Sarzedas do Vasco. Está sozinho em casa, que já está a arder por baixo, não tem água porque o poço está avariado, mas também não se consegue contactar o posto de comando.

Pelas 22.15 são encontrados 47 mortos na estrada nacional 236-1, mas não há registo na fita do tempo da Protecção Civil.
O CDOS de Leiria contacta o CNOS às 23.15 para alertar que não conseguem contactar o comandante dos bombeiros de Pedrógão nem de Castanheira de Pêra.

Pelas 23.23, o secretário de Estado da Administração Interna Jorge Gomes diz à comunicação social que não está confirmada nenhuma vítima mortal. No entanto, às 21h28 fora encontrada a primeira vítima mortal em Vila Facaia.

O registo da "caixa negra" continua a mostrar falhas no sistema de comunicações até às 3.30 de segunda-feira, dia 19: são "dificuldades de comunicações SIRESP" ou situações como "devido a avaria, o veículo repetidor SIRESP/PSP ficou imobilizado".

A implementação, o funcionamento e a manutenção do Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal (SIRESP) já custou mais 13,6 milhões de euros do que os 485,5 milhões previstos na adjudicação feita em 2006 pelo Ministério da Administração Interna, à data liderado por António Costa.

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Será incompetência, será corrupção, ou ambas as coisas? Os “barões assinalados” do século XVI enaltecidos por Camões transformaram-se em charlatães.

Portugal é Lisboa, Porto, Setúbal e Braga. O resto é paisagem da qual os portugueses só se lembram durante as escassas semanas de férias. Quando acordarmos deste longo sono em que mergulhámos há quase meio século, em vez de cantarmos “Verdes são os campos De cor do limão: Assim são os olhos Do meu coração” diremos que “Cinzentos são os campos De cor da lama: Para os políticos serventuários Que elegemos fazeram a cama”.


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