sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Noite de terror em Paris - IV. A identidade dos terroristas


Uma semana depois dos ataques que mataram 130 pessoas em Paris e Saint-Denis, a investigação continua, revelando importantes vulnerabilidades de segurança.


16/11/2015 - 22:33

Le Monde.fr avec AFP | 20.11.2015 à 05h39

Dos sete bombistas suicidas:

  • Quatro são franceses: Ibrahim Abdeslam (31 anos) e Bilal Hadfi (20 anos) que se fizeram explodir no Comptoir Voltaire e no Estádio de França, respectivamente, Amimour Samy (28 anos) e Ismaël Omar Mostefai (29 anos), filho de mãe portuguesa, ambos no Bataclan.
  • Dois entraram na Europa, em Outubro, através da Grécia. Trata-se daquele terrorista que detonou o cinto de explosivos perto do Estádio de França e junto do qual foi encontrado um passaporte sírio de autenticidade duvidosa, porém, havendo uma correspondência entre as suas impressões digitais e as encontradas aquando de uma fiscalização na Grécia; e de um segundo formalmente identificado nesta sexta-feira.
  • Permanece por identificar um bombista suicida, o terceiro que estava no Bataclan.

A polícia continua na peugada de Salah Abdeslam, suspeito de pertencer ao comando terrorista que alvejou as esplanadas dos cafés e dos restaurantes em Paris com o seu irmão Ibrahim que, depois, se fez explodir no boulevard Voltaire. Ele terá sido ajudado a sair de Paris na manhã seguinte. Dois supostos cúmplices da fuga foram presos em Bruxelas na segunda-feira e indiciados por ataque terrorista. Também na Bélgica, um terceiro homem foi indiciado nesta sexta-feira por terrorismo.

Abdelhamid Abaaoud, o presumível instigador dos ataques, está morto: o seu corpo "crivado de projécteis" foi identificado pelos investigadores, na sequência do ataque policial a um apartamento em Seine-Saint-Denis na quarta-feira. A formação e como chegou a França permanecem desconhecidos.
Terão sido encontrados vestígios que lhe pertenciam numa das três Kalashnikovs descobertas no Seat abandonado em Montreuil, o que sugere que fazia parte do comando responsável pelos tiroteios nas esplanadas. Além disso, foi filmado pelas 22:00 de 13 de Novembro, por uma câmara no metro de Montreuil, perto do lugar onde o carro foi abandonado.


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Países com mais de 5% de população muçulmana
sunitas ████████ xiitas ████████


O Estado Islâmico do Iraque e da Síria (ISIS, no acrónimo inglês, ou Daesh, no acrónimo árabe) é uma entidade que defende o regresso aos primórdios do Islão, no séc. XVII, quando o profeta Maomé conquistava territórios, tomava os vencidos como escravos e ordenava decapitações. Praticam a versão mais fundamentalista do Islão, o Wahhabismo.

Origem

Tudo começou com a invasão do Iraque pelos EUA e aliados em 2003. Afastada do poder pelos xiitas, a minoria sunita a que pertencia Saddam Hussein gerou uma guerrilha baseada no noroeste iraquiano onde era dominante. O líder do grupo era Abu Musab al-Zarqawi e obedecia à al-Qaeda.
Em 2006, al-Zarqawi foi morto num ataque americano. O grupo reforçou-se com alianças entre tribos sunitas e o novo chefe, Abu Omar al-Baghdadi, proclamou o Estado Islâmico do Iraque (ISI). No entanto, ofensivas conjuntas das forças armadas iraquianas e americanas, foram dizimando a guerrilha e, em 2010, foi anunciada a morte ou captura de 80% dos líderes do ISI, incluindo al-Baghdadi, bem como de recrutadores e financiadores. A ligação com a al-Qaeda do Paquistão ficou cortada.
Abu Bakr al-Baghdadi, o novo líder, foi recrutar ex-militares e ex-funcionários dos serviços de informações do antigo partido Baath que tinham servido durante o governo de Saddam Hussein, quase todos saídos de prisões militares americanas, para promover o renascimento do ISI.

Em 2011, a monarquia wahhabita que governa a sunita Arábia Saudita decidiu desestabilizar a Síria governada pelo alauita (um ramo do xiismo) Bashar al-Assad, com o apoio do aliado americano e a anuência tácita de ingleses e franceses.
Em poucos meses, os protestos civis deram lugar à guerra. Em Agosto, al-Baghdadi começou a enviar elementos iraquianos e sírios do ISI para a Síria para aí estabelecerem uma organização. Liderados pelo sírio Abu Muhammad al-Julani, este grupo recrutou combatentes e estabeleceu células em todo o país. No início de 2012, o grupo anunciou a formação da Frente al-Nusra, uma força de combate que contou com o apoio da oposição ao governo de Assad, bem como de muitos muçulmanos radicalizados na Europa que foram atraídos para a Síria por uma "jihad" onde descobriam uma identidade estimulante.
Em Abril de 2013, al-Baghdadi anunciou a fusão entre o ISI e a Frente al-Nusra sob o nome "Estado Islâmico do Iraque e Levante", mais conhecido por "Estado Islâmico do Iraque e da Síria". O anúncio provocou-lhe divergências com al-Julani e o líder da al-Qaeda, al-Zawahiri, mas este último mandou cessar os ataques da Frente al-Nusra ao ISIS.

Em Junho de 2014, além do oeste iraquiano, o ISIS já controlava a maior parte do território sírio. Depois de conquistar a cidade iraquiana de Mossul, al-Baghdadi proclamou o califado e declarou-se califa, transformando-se no guia espiritual dos muçulmanos de todo o mundo.

Os Governos ocidentais, obcecados pela "Primavera árabe" e pelo derrube de ditadores, como Mubarak, Kadhafi ou Assad, permitiram ao Estado Islâmico o controle de partes do Iraque, da Síria, da Líbia e da África central. A capacidade de atracção de novos voluntários para as suas forças nos países ocidentais permite-lhe criar raízes para o futuro. O Estado Islâmico descreve a sua estratégia militar como a capacidade de se mover como uma serpente entre as rochas, ou seja, usa forças militares flexíveis que atacam alvos fáceis, nunca entrando em conflitos prolongados.

Financiamento

Para a guerra o EI precisa de dinheiro. Uma das fontes é o petróleo das refinarias que é vendido no mercado negro. As mais recentes estimativas dizem que o EI recebe mensalmente 40 milhões de dólares pela venda do petróleo dos campos que controla na Síria e Iraque.

Outra fonte de receitas são os donativos de milionários árabes que defendem a guerra santa contra os xiitas e o Ocidente. Além disso o EI apropriou-se do dinheiro dos bancos das zonas controladas, vendendo também muitas das obras de arte que saqueou em cidades históricas.

Nos últimos tempos, o EI conseguiu obter duas novas fontes de receitas: a circulação de refugiados, que têm de pagar uma taxa para emigrarem para a Europa, e os raptos de sírios ricos ou de ocidentais.
No caso dos refugiados que emigram para a Europa as receitas do EI terão ascendido a cerca de 100 milhões de euros. No regresso, os camiões que levam os refugiados voltam com contrabando que é vendido no mercado negro das áreas controladas.
Os reféns podem render politicamente, como sucedeu com os decapitados, ou economicamente, quando os Estados estrangeiros pagam o resgate. Sabe-se que os negociadores europeus pagam entre um e seis milhões de dólares pela libertação de cada refém. São perto de 70 milhões de dólares que entram nos cofres do EI que apresenta relatórios das suas actividades como se fosse uma empresa.

Em 2014, as receitas totais do EI terão rondado os 1,2 mil milhões de dólares. É com elas que pagam o armamento e também os salários dos "jihaddistas" europeus recrutados, sobretudo, através da Internet.




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