sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Estaleiros Navais de Viana do Castelo: morte ou renascimento?


Decorreu hoje, no Forte de São Julião da Barra, em Oeiras, a sessão de assinatura do contrato de subconcessão dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) entre o Estado e a empresa West Sea do grupo Martifer.





O ministro da Defesa Nacional, Aguiar Branco, recordou as privatizações da PT e da OGMA que actualmente são empresas que dão lucros, assim garantindo estabilidade aos seus trabalhadores:
"O Estado não tem de saber construir navios, nem produzir cervejas, nem gerir empresas do sector das telecomunicações ou reparar aviões", afirmou o governante, definindo o evento como o "renascimento" da construção naval em Viana do Castelo.

Aguiar-Branco recordou que, nos últimos 12 anos, os ENVC tiveram 12 conselhos de administração, 25 navios construídos e prejuízos acumulados de 100 milhões de euros, concluindo que "o Estado não é solução para os ENVC, nem para a construção naval em Portugal".

Carlos Martins, administrador da Martifer, embora preocupado com hipotéticas resistências à tomada de posse das instalações em Viana do Castelo, afirmou que está convencido do sucesso da subconcessão: "Não vamos desistir, temos o direito de entrar nos estaleiros. Se isto caísse tudo, com algum investimento íamos para Aveiro [para o estaleiro Navalria]."

Sobre as condições que vai oferecer aos trabalhadores, Carlos Martins assegura que os salários serão idênticos aos até agora praticados. No entanto, as actuais regalias dos trabalhadores dos ENVC não se manterão porque serão ajustadas às do grupo Martifer.
Por fim, revelou que, dos 400 trabalhadores dos ENVC de que a empresa West Sea precisa para laborar, dois já assinaram contrato.

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Do justo e duro Pedro nasce o brando
(Vede da natureza o desconcerto!)
Remisso e sem cuidado algum, Fernando,
Que todo o Reino pôs em muito aperto;
Que, vindo o Castelhano devastando
As terras sem defesa, esteve perto
De destruir-se o Reino totalmente,
Que um fraco rei faz fraca a forte gente.

Luís de Camões, Lusíadas, canto III, estância 138.


Antes do início da sessão, o presidente da Câmara de Viana do Castelo depositou uma coroa de flores sobre a mesa. Uma fantochada socialista.
Devia tê-la depositado no navio Atlântida que está a apodrecer no cais do Alfeite, depois de ter sido rejeitado, em 2009, pelo governo socialista da região autónoma dos Açores quando, no continente, estava em funções o governo socialista de Sócrates.
Devia tê-la depositado nos estaleiros quando, em Junho de 2011, a administração nomeada pelo governo do PS decidiu despedir 380 dos 720 trabalhadores dos ENVC.


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As armas e os barões assinalados
Que, da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo reino, que tanto sublimaram;

Luís de Camões, Lusíadas, canto I, estância 1.


"Os Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) foram fundados em Junho de 1944, no âmbito do programa de um Governo de Salazar para a modernização da frota de pesca do largo, por um grupo de técnicos e operários especializados oriundos dos Estaleiros Navais do Porto de Lisboa, encabeçados por Américo Rodrigues, seu mestre geral.
Tinha a forma de uma sociedade por quotas de responsabilidade limitada com o capital de 750 contos e como sócios capitalistas Vasco D'Orey e o vianense João Alves Cerqueira da Empresa de Pesca de Viana, proprietária de navios para a pesca do bacalhau."

Há 69 anos, trabalhadores qualificados da construção naval apoiados por empresários empreendedores conseguiram criar uma empresa de sucesso em Viana do Castelo.
Ao longo de várias décadas de actividade, os ENVC construíram mais de 220 navios: batelões, rebocadores, ferryboats, navios de pesca, de carga a granel e porta-contentores, navios tanques, transportadores de produtos químicos, petroleiros e metaneiros, cimenteiros e vasos de guerra.

Em 1975 os estaleiros foram nacionalizados. Políticos e sindicalistas foram enfraquecendo a lusa gente. Políticos e sindicalistas que não sabem construir navios.

Mas há gente que sabe. Ainda há gente, entre os trabalhadores dos ENVC, com a determinação, a audácia e o valor profissional da ínclita geração dos fundadores. O caminho não está isento de perigos, mas há que dar uma oportunidade aos novos empresários e vestir a camisola da West Sea.


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