quinta-feira, 2 de julho de 2015

A Grécia em default parcial - I b. Quem paga um terceiro resgate?


A Grécia pediu aos seus credores da Zona Euro para negociar um terceiro resgate estimado em, pelo menos, 36 mil milhões de euros.

Imediatamente os contribuintes dos países da Zona Euro começaram a fazer contas para saber com quanto terão de contribuir. Veja um conjunto de perguntas e respostas sobre o processo e qual o impacto para Portugal.


Como o fundo de resgate do euro obtém capital e financiamento?
O fundo que tem actualmente a responsabilidade de financiar novos resgates ou outros apoios a Estados-membros da Zona Euro que enfrentem dificuldades — Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) — tem o capital de 80 mil milhões de euros que já foi subscrito pelos vários Estados-membros, incluindo Portugal.

Este dinheiro serve como garantia para os investidores aceitarem comprar obrigações emitidas pelo MEE, permitindo-lhe endividar-se nos mercados financeiros até 500 mil milhões de euros, dos quais 47 mil milhões foram aplicados. No final de 2014 restavam 453 mil milhões de euros.

Depois o MEE usa este financiamento para emprestar a Estados-membros que precisem de ajuda financeira, cobrando uma taxa de juro igual ao custo de financiamento mais um spread.

Portugal terá de gastar mais dinheiro num terceiro resgate à Grécia?
Em princípio, não. O MEE tem um capital de 80 mil milhões de euros já subscrito pelos Estados-membros da Zona Euro, dos quais 2 mil milhões de euros saíram de Portugal, de acordo com a nossa participação no capital do BCE que é 2,5%.

No entanto, além dos 80 mil milhões de euros já subscritos, os Estados-membros da Zona Euro comprometeram-se a reforçar o capital do MEE até mais 625 mil milhões de euros, em caso de necessidade. Isto obrigaria Portugal a contribuir com mais 15,6 mil milhões de euros.

Qual o valor do terceiro resgate?
Na carta que dirigiu a MEE a pedir um novo programa de financiamento, o primeiro-ministro grego disse que esse financiamento seria somente para cumprir o pagamento de dívida e custos associados, tendo indicado que o montante de dívida (excluído títulos de curto prazo como bilhetes do Tesouro) que chega à maturidade até ao final de 2017 ascende a 29,1 mil milhões de euros.

No entanto, o programa anterior — que expirou a 30 de Junho sem que o governo liderado por Alexis Tsipras e os credores tenham chegado a acordo —, além de dinheiro para financiar dívida que chegava à maturidade, tinha disponíveis 10,9 mil milhões para financiar a recapitalização de bancos. Dinheiro que provavelmente será incluído num terceiro resgate.

O terceiro resgate vai mesmo acontecer?
O que houve até agora foi apenas um pedido formal da Grécia ao MEE a solicitar este programa com duração de dois anos (sem intervenção do FMI).

Os ministros das Finanças do Euro, na reunião de 30 de Junho, mostraram abertura para o negociar, mas um financiamento estará sempre associado a um programa de reformas que dêem a garantia de que será reembolsado.

Os outros líderes europeus já salientaram que não haverá negociações sobre um terceiro resgate antes do referendo de 5 de Julho, no qual os gregos vão ser chamados a pronunciar-se sobre a proposta dos credores que o Governo grego recusou.
Esta quarta-feira, 1 de Julho, foi notícia a carta que o primeiro-ministro grego enviou ao BCE, Comissão Europeia e FMI, disponibilizando-se para aceitar esta última proposta, embora com alterações.

Mas há risco para Portugal num terceiro resgate à Grécia?
Sim, como em todos os empréstimos, há juros e risco.

Se, no futuro, a Grécia não pagar os empréstimos ao MEE, este fundo europeu de resgate terá de abater as perdas no capital já subscrito.

Depois terá de solicitar aos Estados-membros que reforcem esse capital para garantir que a relação entre capital subscrito (actualmente 80 mil milhões de euros) e a capacidade de financiamento (os actuais 500 mil milhões de euros) é de, pelo menos, 15%.

Quando dinheiro é que Portugal já emprestou à Grécia?
Em 2012, Portugal estava sob um programa de resgate e, por isso, não teve de participar no empréstimo feito pelo Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) que financiou o segundo resgate grego com 141,9 mil milhões de euros.

Ao abrigo do primeiro programa de resgate grego que foi financiado por empréstimos bilaterais, num total de 52,9 mil milhões de euros, o nosso País entrou com 1,1 mil milhões de euros.

A este montante junta-se uma exposição indirecta via BCE com duas componentes:
  • cerca de 0,7 mil milhões de euros das obrigações gregas compradas pelo banco central no pico da crise europeia ao abrigo do programa SMP (2,5% dos 27 mil milhões que estão no balanço do BCE)
  • e ainda 2,8 mil milhões de euros dos empréstimos do BCE aos bancos gregos através das operações regulares de liquidez (2,5% dos 110 mil milhões de euros).
    Este valor só estará em risco, se a Grécia sair da Zona Euro, tendo o BCE a possibilidade de descontar o colateral com valor em sua posse (dívida grega terá reduzido valor).


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Um comentário certeiro lido no Negócios:

Anónimo
02 Julho 2015 - 17:49
Eu acho que agora todos os países do euro deviam fazer um referendo para saber se os europeus aceitam fazer um terceiro resgate à Grécia.
Se eles podem escolher estar ou sair, nós devíamos escolher se queremos continuar a ajudar um país que é um saco sem fundo.


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