sexta-feira, 8 de maio de 2015

Resultados da componente específica da PACC 2015


O Instituto de Avaliação Educativa (IAVE), responsável pela elaboração das provas que compõem a Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades (PACC), divulgou os resultados da componente específica da PACC, que se realizou entre os dias 25 e 27 de Março de 2015. Fica assim concluída a última etapa da PACC do ano escolar 2014-2015 que, como previsto, teve uma componente comum e uma componente específica.

Realizaram a componente específica os candidatos que foram aprovados na componente comum que decorreu a 19 de Dezembro de 2014 e cujos resultados foram divulgados em 26 de Janeiro.

Em nota divulgada no Portal do Governo, o Ministério da Educação e Ciência (MEC) afirma (o negrito é meu):
O domínio de capacidades básicas tais como o raciocínio lógico e a capacidade de comunicação em língua portuguesa são transversais à leccionação de todas as disciplinas. Para garantir a qualidade do ensino dos nossos alunos, é importante que os candidatos a seleccionar e recrutar como professores demonstrem o domínio dessas capacidades básicas. Por outro lado, é fundamental o domínio dos conhecimentos e capacidades específicas e essenciais para a docência em cada grupo de recrutamento e nível de ensino. Como sempre temos dito, não se pode ensinar bem o que não se sabe muito bem.

Sendo a qualidade da docência fundamental para a qualidade do sistema educativo e, por conseguinte, do sucesso na aprendizagem dos alunos, o Ministério da Educação e Ciência tomou uma série de medidas no sentido de garantir que sejam os candidatos melhor preparados a ensinar os nossos alunos. A Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades é parte fundamental de um conjunto de medidas, no qual se enquadra também:

- a obrigatoriedade de realização de exames de Português e de Matemática para admissão aos cursos de licenciatura de Educação Básica;

- o reforço da componente científica nos cursos de formação inicial — através de alterações introduzidas no decreto-lei das habilitações para a docência;

- a formação contínua de professores.

É fundamental que, à medida que se renovem os quadros docentes das escolas, o que irá acontecer de forma acelerada na próxima década, se garanta a entrada de uma geração de professores altamente preparada e qualificada. É ambição do Ministério da Educação e Ciência que esta prova seja também um incentivo a uma maior exigência na formação inicial dos candidatos a professores.

Apresentamos a tabela de resultados da PACC, no ano escolar 2014-2015:



O número de candidatos admitidos à realização da componente específica da prova foi 1565, para um total de 2338 inscrições válidas a 24 disciplinas distintas.
E por que existem mais inscrições do que professores inscritos? Porque cada candidato pôde inscrever-se em mais do que uma prova, consoante os grupos de recrutamento para os quais tem habilitação profissional. Por exemplo, se um candidato tem habilitação profissional para leccionar Português (nível 2) e Francês, então podia fazer as provas das duas disciplinas.

As provas específicas, cujos enunciados e critérios de classificação se encontram aqui, realizaram-se em estabelecimentos de ensino da rede pública, em Portugal, e em outros estabelecimentos fora do território nacional.
Foram classificadas 2153 provas, porque houve 176 faltas, 6 desistências e 3 provas anuladas. Estas provas foram classificadas na escala de 0 a 100 pontos, sendo aprovados os candidatos que obtiveram uma classificação igual ou superior a 50 por cento da cotação total.
A reprovação de um candidato impede-o de candidatar-se a um lugar nas escolas no próximo ano lectivo, mas não o impede de realizar novas provas nos anos subsequentes.

Em comunicado de imprensa, o IAVE destaca, numa análise preliminar dos resultados, que as médias globais se situam entre os valores 41,8 da Educação Especial 2 e 88,2 da Educação Especial 3, distribuindo-se da seguinte forma:
  • igual ou superior a 70: Artes Visuais (nível 1 e 2), Educação Especial (1 e 3), Electrotecnia, Informática e Música;
  • entre 60 e 69: Alemão, Educação Pré-Escolar, Espanhol, Filosofia, Geografia, Inglês e Matemática (nível 2);
  • entre 50 e 59: Economia, Educação Física, Francês, História, Matemática (nível 1) e Português (nível 1);
  • entre 40 e 49: Biologia e Geologia, Educação Especial 2, Física e Química e Português (nível 2).

No universo dos candidatos que realizaram as diversas provas específicas registam-se as seguintes taxas de aprovação:
  • superiores a 90%: Artes Visuais (níveis 1 e 2), Educação Especial (1 e 3), Educação Pré-escolar, Electrotecnia, Geografia, Informática e Música;
  • entre 70% e 90%: Alemão, Educação Física, Espanhol, Filosofia, Francês, Inglês, Matemática (nível 2) e Português (nível 1);
  • entre 50% e 70%: Biologia e Geologia, Economia, História e Matemática (nível 1);
  • inferiores a 50%: Educação Especial 2, Física e Química e Português (nível 2).


*


Biologia e Geologia surge em quarto lugar nas disciplinas com pior classificação média, 48,8 numa escala de 0 a 100 pontos, sendo 42,3% os candidatos que reprovaram.

O resultado obtido em Educação Especial 2 (apoio a crianças e jovens com surdez moderada, severa ou profunda, com graves problemas de comunicação, linguagem ou fala), com a média de 41,8 pontos e uma taxa de reprovação de 100%, ainda foi pior, mas só houve um candidato a fazer a prova.

No entanto, o que é grave e necessita de reflexão é o que se passou nas disciplinas Física e Química e Português, ambas do 3º ciclo e ensino secundário.
Mais de metade dos 106 candidatos (60,4%) que fizeram o exame de Português e dos 68 candidatos (63,2%) que fizeram a prova de Física e Química ficaram reprovados. Foi também nestas duas disciplinas que a classificação média das provas foi mais baixa: 46,2 e 44,4, respectivamente.
Física e Química é também a disciplina onde os alunos costumam ter piores resultados nos exames do ensino secundário.

Em 2006, a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa deixou de receber inscrições para a licenciatura em ensino da Física e Química porque a quase totalidade dos alunos, depois de anos de sucessivas reprovações, pedia transferência para universidades privadas tipo Lusófona. Aí licenciavam-se rapidamente e com elevadas classificações, o que lhes permitia passar à frente dos candidatos oriundos de universidades públicas nos concursos do ministério da Educação.
Trata-se de um dos cursos mais difíceis, a par das engenharias, porque para aprender Física tem de ser-se, à partida, um profundo conhecedor de Matemática.

Recordemos que os professores com mais de 5 anos de serviço não são obrigados a fazer a PACC. Mas se fossem obrigados, não seria de esperar por melhores resultados porque o problema já vem de longe.
Ora são estes docentes que na próxima década vão ocupar os lugares nos quadros das escolas, pelo que as expectativas do ministro Nuno Crato de que “à medida que se renovem os quadros docentes das escolas, o que irá acontecer de forma acelerada na próxima década, se garanta a entrada de uma geração de professores altamente preparada e qualificada” vão ser goradas.
Vai levar quatro décadas, tantas quantas houve de declínio na escola pública, para que esta volte a ter a elevada qualidade que desfrutava antes do 25 de Abril.

Arquivamos outras opiniões recolhidas nos comentários à notícia no Público, jornal que sempre se manifestou contra a PACC, e que por acaso, ou talvez não, teve de corrigir o texto que revelava um profundo desconhecimento do conteúdo das provas específicas e dos grupos de recrutamento a que se destinavam. Ei-las:

manuel vieira
lisboa 07/05/2015 20:03
Que rico panorama. Será que Mário Nogueira tem alguma coisa a dizer? Claro que tem, vai defender que estes senhores não deviam ser sujeitos a provas de avaliação de conhecimentos.
  • Jose Antonio Fundo
    Professor e Ilustrador, Porto 08:57
    É pá! Trocar assim alhos com bugalhos é de uma acrobacia intelectual própria de quem percebe zero do assunto. Ainda bem que não lhe fizeram a prova!
  • CARS
    11:23
    Meu caro José,
    Ninguém diria que é professor porque, em interpretação de comentários, deixa um pouco a desejar. Ser professor é muito mais do que dizer "sou professor", é ter conhecimentos necessários para leccionar sem ter receio de ser avaliado nos seus conhecimentos.
  • manuel vieira
    lisboa 11:58
    Resposta para o senhor professor:
    1. Lembro-lhe que eu não sou seu aluno, logo contenha-se.
    2. Percebo alguma coisa, tenho sete netos que são o meu barómetro do estado do ensino.
    3. Tenho duas filhas que são professoras.
    4. Picou-se por eu ter mencionado o inútil Mário Nogueira?
    5. Durante toda a minha vida profissional fui avaliado. Quem não deve, não teme. Fique bem.

Paulo Alexandre
07/05/2015 22:16
Grupo 910 significa "Domínio Cognitivo e Motor"; Grupo 920 - Domínio da Audição e Surdez; Grupo 930 - Domínio da Visão.
Erro grave por parte do Público. Os números atribuídos aos grupos nada têm a ver com o nível de ensino, mas sim com os diferentes domínios.

Jose Antonio Fundo
Professor e Ilustrador, Porto 08:56
Como é evidente, tais diferenças demonstram desadequações e diferenças nos graus de dificuldade das provas. Dificilmente se pode julgar um grupo de professores num tão alargado conjunto de conhecimentos por um teste escrito. Os testes escritos são um processo muito pouco exacto de avaliação. São populares porque são fáceis de aplicar. Estas provas provam pouco. Quem duvidar disso percebe pouco de educação. O professor é muito mais do que a ciência que ensina. Ser professor é uma ciência em si mesmo e sobre isso houve zero perguntas.
  • tripeiro
    Alguém informe a Princesa44 sobre os horários de visita em Évora 09:43
    Foi pena ter-se limitado a dizer que os testes não são adequados para avaliar o domínio das matérias e não ter dito qual é a alternativa.
  • Miguel S.
    Trondheim 10:27
    Concordo José, em certa medida. E, como refere o tripeiro, não sei como tornar as provas mais representativas do que pretendem avaliar. No entanto, procurar desvalorizar o básico — um professor deve dominar os conteúdos científicos que vai ensinar — serve apenas para perpetuar a mediocridade do sistema.
  • No Mercy
    11:12
    Pois, é extremamente difícil avaliar "setôres" através de testes escritos. Mas os "setôres" têm imensa facilidade em avaliar alunos através de testes escritos, o que não deixa de ser curioso...
    Pois, o "setôr" "é muito mais do que a ciência que ensina". E o aluno? E, já agora, se mal pergunte, o que é que a classe de "setôres" fez para que os testes não fossem apenas escritos e houvesse uma bateria de testes que avaliassem as múltiplas competências necessárias ao ensino?
  • Sousa da Ponte
    12:01
    @ Tripeiro: Um licenciado num curso de ensino foi submetido a mais de uma centena de provas e testes, onde teve positiva a todos. Esta prova vale mais do que isso tudo junto? A alternativa existe: é a avaliação aos professores em exercício.
    @ Miguel: Tem toda a razão. Mas se um professor não sabe os conteúdos científicos que vai ensinar, a culpa não é dele: é de que o certificou sabendo que ele não sabia. E a mediocridade do sistema continua a ser perpetuada nas universidades e ESEs de onde saíram estes professores.
    @ No Mercy: Está a deitar para o lixo 4 ou 5 anos de estudos superiores quando pergunta "(...) houvesse uma bateria de testes que avaliassem as múltiplas competências necessárias ao ensino?" Essa bateria de testes existe e os professores superaram-nas. Vale a PAAC mais do que as provas todas prestadas em 4 ou 5 anos?
    Relativamente aos testes que os professores fazem aos alunos, esses só valem ~70% da avaliação e os alunos não condensam um ciclo de ensino numa única prova. Fazem vários testes apropriados a cada disciplina.
    Dito isto, pergunto: Há professores mal preparados, medíocres ou que não deviam sequer ser professores? Há, sim, senhor! E há-os porquê? Porque há instituições que os formam assim. O que faz o Nuno Crato quanto a isso? Nada! É forte com os fracos e fraco com os fortes!
  • tripeiro
    Alguém informe a Princesa44 sobre os horários de visita em Évora 12:19
    Sousa da Ponte,
    Eu não estou aqui a defender o sistema de avaliação de professores — com o qual não concordo, a avaliação nestes moldes é para ser feita nas universidades, e se alguma coisa está a falhar, é aí, e o ministério da Educação não pode descartar as suas responsabilidades na matéria —, mas tão somente a pôr em causa a afirmação do José de que os testes não são adequados para avaliar (penso que ele não se está a referir a este caso em concreto da avaliação de professores, mas à avaliação em geral).
    E quanto a mim, o problema na qualidade do ensino não está ao nível cientifico, mas sim pedagógico. Penso que todos nós tivemos professores que eram autênticas nódoas e não era por causa dos conhecimentos científicos.
  • José Cid Adão
    12:32
    Caro Sousa da Ponte,
    Infelizmente a verdade é que, em muitos casos, ter sido aprovado a centenas de exames durante 5 anos pouco valor tem.
    De quem será a culpa? Dos estabelecimentos de ensino que facilitam para assim conseguirem mais alunos/clientes? Ou dos próprios professores que, na altura, conscientemente fizeram a escolha de estudar numa universidade de fraca qualidade, mas com boas notas garantidas?
    Sinceramente não sei, mas a culpa não é de certeza dos alunos de agora. Dou mais valor a um exame, por mau que seja, se for igual para todos, do que a uma avaliação feita durante 5 anos mas que foi diferente de professor para professor. Acho por isso que todos os professores deviam ser sujeitos aos exames.
  • No Mercy
    12:39
    1. O Sousa da Ponte tem razão numa coisa, quando faz as perguntas e dá as respostas: "Há professores mal preparados, medíocres ou que não deviam sequer ser professores? Há, sim, senhor. E há-os porquê? Porque há instituições que os formam assim. O que faz o Nuno Crato quanto a isso? Nada! É forte com os fracos e fraco com os fortes!"
    2. O Sousa da Ponte não tem razão noutras. Precisamente porque muitos dos tais testes que os "setôres" fazem, terem sido feitos por instituições medíocres, é que contam pouco. Acresce que lá por se fazerem testes em inicio de carreira não devia obstar, nem obsta nos países que têm uma Educação a sério, que eles se façam ao longo da vida profissional. Nos EUA, os professores estão em constante avaliação. Faça o mesmo cá e vai ver a resposta das corporações...

No Mercy
11:08
Eu só não compreendo é porque é que estas avaliações não são feitas a todos os "setôres". Não compreendo a discriminação que é feita em relação à avaliação. Ou será que alguém tem dúvida que se estas avaliações fossem feitas a todos os "setôres" os resultados seriam, em percentagem, semelhantes?
Será que esta gente não percebe que, se querem ter uma Educação Pública competente, têm que ter Professores, e não "setôres"? Mas esta gente acha que se melhora a qualificação dos alunos com a medíocre qualificação que existe entre a classe que "ensina"? Podem criar as políticas que quiserem, enquanto a mediocridade da matéria-prima for a que é, jamais passaremos da cepa torta!

Hugo
12:44
Acho este governo corrupto e ignóbil, mas esta é das poucas coisas que acertou e deveria fazer regra para todo o serviço público, que deveria reger-se pela qualidade e não pela complacência e mediocridade. Aliás deveria fazer provas obrigatórias de x em x anos para confirmar que os professores têm capacidade e competência para continuar com as responsabilidades atribuídas, com eventual progressão ou regressão na carreira a verificar-se na folha salarial.
A administração pública não pode, nem deve, ser comparada com o privado, porque no privado as consequências estão limitadas à respetiva organização e na administração pública afeta-nos a todos. A avaliação por prova escrita deveria ser regra, além de que deveria ser evitada qualquer avaliação subjetiva.

Aliocha
13:04
Depois do facilitismo progressivo que reinava há anos na Educação e que culminou no ex-governo socrático (o ex-primeiro-ministro era um exemplo vivo disso!), era preciso um novo rumo. Alguma coisa tinha que ser feita.
Custa sempre mais endireitar o que muito entortou ao longo do tempo. Criaram-se hábitos arreigados de "laissez-faire, laissez-passer". Com todos os seus defeitos e podendo ser melhorados, estes testes, doa a quem doer, são um crivo.
A melhor forma de melhorar a qualidade no ensino é ter bons professores e exigir mais dos alunos, a começar na disciplina e passando pela diversificação de escolas.
  • Maria Manuela Granés Gonçalves
    15:49
    Muito Bem!


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