sexta-feira, 15 de maio de 2015

O Terminal de Cruzeiros do porto de Leixões


"Ah, todo o cais é uma saudade de pedra!"
in Álvaro de Campos, Ode Marítima



Fernando Guerra


O novo Terminal de Cruzeiros do porto de Leixões “é uma obra delicada”, diz Brogueira Dias, presidente da Administração dos Portos do Douro e Leixões (APDL). “Aquilo está fundado em cima de estacaria”, mas “as estacas, no início, tiveram que funcionar ao contrário, porque, como tinha muito volume metido debaixo de água, a impulsão obrigou-as a funcionar como se fossem tirantes, para segurar o edifício”.



O estudo inicial previa, para os duplos pisos 2 e 3, uma área comercial e um espaço de restauração, respectivamente, para mais facilmente atrair a atenção dos habitantes da área metropolitana do Porto.

No entanto, a APDL optou por assumir uma parceria com a Universidade do Porto para aí instalar o seu Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR), um pólo de ciência e tecnologia do mar, que irá ocupar “cerca de 40%” do edifício e acolher aproximadamente 200 investigadores.
Foi feito um contrato de concessão por 50 anos e a Universidade paga uma renda relativamente a isso. Mitiga um bocadinho as dificuldades também de investimento, contribuindo para a sustentabilidade do investimento”, explica Brogueira Dias. Esta decisão facilitou a candidatura aos fundos comunitários, sendo o custo global, orçado em cerca de 50 milhões de euros, dividido em partes iguais entre a APDL e Bruxelas.

Após concurso público, a obra foi adjudicada ao consórcio formado pela Ferreira - Construção e OPWAY - Engenharia, por contrato¹ celebrado em Setembro de 2011 no valor de 24,9 milhões de euros.



O convite a Luís Pedro Silva para projectar o terminal de cruzeiros do porto de Leixões surgiu depois de o arquitecto, mestre em Planeamento e Projecto do Ambiente Urbano pelas faculdades de Arquitectura e Engenharia da Universidade do Porto, ter integrado a equipa da empresa que foi escolhida pela APDL, em 2003, para definir o novo plano estratégico daquele porto.

O objectivo então definido era "ligar o desenvolvimento comercial e a aposta no turismo marítimo com a socialização do porto”, diz este arquitecto. Luís Pedro Silva não vê a arquitectura como “um problema de autoria”, mas antes de “resposta a um conjunto de circunstâncias”, que começam no cliente e no programa e passam pelo lugar e pelo contexto. “A arquitectura é a síntese destes vários factores, que depende mais da pergunta que eles fazem do que do modo como se lhes responde.

A primeira etapa, concluída em Abril de 2011, foi a construção de um novo cais de acostagem, que já foi projectado por si. Seguir-se-iam um porto de recreio e depois a nova estação de passageiros.

O desenho inicial do edifício surgiu em 2006 e o arquitecto considera que não tem “nada de transcendente”.


Temos um braço que vem ao navio, outro que vai à curva do molhe, outro que leva à cidade e depois outro que cai dentro do edifício”, resultando o projecto da “síntese destes movimentos e fluxos”.
Tinha de haver uma cobertura para abrigar as pessoas, uma parede para suportar uma rampa, uma pala para abrigar os autocarros... Esses elementos vêm mais ou menos laminados e, quando chegam aqui, não se descaracterizam – levam a que as formas, e aquilo que se lê entre o fechado e o aberto, seja assim mesmo”, explica Luís Pedro Silva.




O edifício é composto por cinco pisos e dois mezaninos, a que se junta a cobertura, e foi construído sobre estacas.

Situado a 1,6 m abaixo do nível do mar, o piso -1 integra um biotério do CIIMAR (um aquário com animais e algas), um parque de estacionamento (90 lugares), uma área técnica e equipamentos de apoio ao porto de recreio.




O piso 0 é o piso da recepção aos visitantes. Integra um amplo átrio, iluminado por luz natural e com um espelho de água ao centro, a partir do qual o edifício sobe em hélice, tendo mesmo uma rampa helicoidal até à cobertura.

O piso 1 é a sala de embarque, com os serviços de check-in, alfândega, fronteira e uma sala de espera com cafetaria. Daqui, os turistas têm uma ligação directa tanto aos navios como aos autocarros estacionados no parque exterior – a APDL espera 125 mil passageiros só até final do corrente ano.

Os pisos 2 e 3, bem como os respectivos mezaninos que duplicam a sua área, estão quase integralmente afectos aos serviços do Pólo do Mar, com cerca de uma centena de salas e gabinetes que deverão acolher os técnicos e investigadores de áreas como a oceanografia, a microbiologia, a nutrição, a ecofisiologia, a toxicologia, a robótica, etc...



No piso 3 encontra-se um dos espaços mais ousados da construção com uma parede envidraçada a abrir para uma vista panorâmica sobre o oceano Atlântico. É uma galeria de divulgação científica que está apoiada por um pequeno auditório revestido a veludo azul, equipado com uma régie e máquinas de projecção mas que pode acolher os eventos mais diversos e será partilhado entre a Universidade do Porto e a APDL.
Há ainda um pequeno restaurante a partir do qual se pode sair novamente para a rampa exterior que leva à cobertura.

A cobertura é um anfiteatro ao ar livre, resguardado da nortada, que pode acolher 1800 pessoas e proporciona uma vista admirável sobre o mar, a linha de costa e o Parque da Cidade.




O revestimento interior e exterior do terminal contém um milhão de azulejos tridimensionais produzidos pela Vista Alegre. Vidrados, os azulejos hexagonais difundem de forma variável a luz do sol ao longo do dia e das estações do ano, conferindo-lhe “iridescência para conseguir uma certa variedade cromática”.

Este terminal de cruzeiros do porto de Leixões pode vir a revolucionar a relação dos habitantes das cidades de Matosinhos e do Porto com este porto de mar situado 4 km a Norte da foz do rio Douro. Diz Luís Pedro Silva: “Espero que a obra seja bem acolhida, bem usufruída, que sirva quem cá esteja dentro e quem cá venha.

(actualizado em 23 de Julho)


Nota:
  1. Ver aqui os contratos desde 500 mil euros da adjudicante APDL


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