sábado, 23 de fevereiro de 2013

A incrível estratégia do PCP e do BE


Tudo começou em 15 de Fevereiro durante o debate quinzenal no parlamento, quando um grupo de manifestantes do movimento "Que se lixe a troika", sentados na galeria central do hemiciclo, interrompeu a intervenção do primeiro-ministro cantando a "Grândola, Vila Morena" e toda a gente sorriu:


15.02.2013 11:24

Depois tornou-se rotina:


20.02.2013 13:37
Quando o ministro da Saúde, Paulo Macedo, ia discursar num debate na Aula Magna da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, seis pessoas cantaram o "Grândola, Vila Morena", seguido de várias palavras de ordem.

19 Fev, 2013, 20:20
Num debate do clube dos pensadores, em Vila Nova de Gaia, Miguel Relvas foi interrompido por um grupo de manifestantes que entoaram "Grândola, Vila Morena" seguido de insultos. Relvas não é propriamente um santo, mas tem razão ao afirmar que em democracia os governos são demitidos em eleições.


19 Fev, 2013, 22:24
Logo a seguir Miguel Relvas foi vaiado e impedido de falar por estudantes no ISCTE que o perseguiram pelos corredores. Ora nem o ISCTE é uma instituição de referência — tem dado licenciaturas e doutoramentos a tudo o que é político socialista ou comunista —, nem alunos que vão procurar cursos fáceis na área das ciências sociais se podem comportar como virgens ofendidas.


23 Fev, 2013, 09:47
O ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, foi recebido em São João da Madeira por manifestantes que entoaram "Grândola, Vila Morena".


23 Fev, 2013, 09:48
O ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, foi também recebido na Guarda com vaias e ao som de "Grândola, Vila Morena" cantada por José Afonso. Usaram a voz, mas esqueceram-se de ir depositar hoje um cravo na sua sepultura.


Portugal é, decididamente, um país alegre. É o foguetório minhoto, é o folclore beirão, é o bailinho da Madeira. Mesmo em crise, com um brutal desemprego, com famílias endividadas, com jovens a emigrar, o país canta. Na Grécia os manifestantes arremessam com fúria contra a polícia de choque; em França, os habitantes dos bairros periféricos incendeiam carros; nos Estados Unidos, os psicopatas fazem fogo real em escolas e universidades. Mas em Portugal não, em Portugal os descontentes cantam o "Grândola, Vila Morena"!

Gonçalo Portocarrero de Almada, publicado em 23 Fev 2013 no jornal "i".


Acontece que os incêndios de carros nos subúrbios de Paris, os cocktails Molotov nas ruas de Atenas, as carnificinas nas escolas dos Estados Unidos são actos extremistas rejeitados instintivamente por pessoas de todas as idades e estratos sociais.

Pelo contrário, a canção “Grândola, Vila Morena” ficou ligada à memória do 25 de Abril que ainda permanece gravado no imaginário dos portugueses como o momento feliz da entrada do País numa via de justiça e prosperidade — pura ilusão! —, tocando afectivamente toda a gente. O poema que apela à amizade e à fraternidade e a doçura da melodia provocam a adesão emocional das pessoas, estando a ser adoptado como música de intervenção nas manifestações recentemente ocorridas em Madrid.

Assim, sorrateira e mansamente vai-se instilando em jovens e idosos o desrespeito, primeiro pelos governantes, depois por tudo o que for autoridade neste País, sem provocar a criação de anticorpos mesmo nas mentes mais vigilantes.
Dentro em pouco, um polícia dá uma ordem a um grupo de pessoas e estas embargam-lhe as palavras cantando “Grândola”. Um professor procura começar a aula e vê alguns alunos levantarem-se e entoarem a música de José Afonso, impedindo-o de falar. Os pais tentam mandar os filhos deitarem-se, e os miúdos vão insistir em ficar a jogar no computador gritando o Grândola a plenos pulmões.

Num momento em que o desemprego atinge níveis históricos e o País sofre a pior recessão dos últimos quarenta anos, o PCP e o BE nem sequer 20% dos votos alcançam nas sondagens. Mas com uma canção conseguem condicionar subtilmente 10 milhões de portugueses e instaurar um clima de desrespeito propício a uma sublevação nacional.
A estratégia não podia ser mais fabulosa.


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