sexta-feira, 27 de abril de 2012

Rampa de lançamento naval do séc. XVI descoberta em Lisboa - II


Recentemente os arqueólogos encontraram uma enorme rampa de lançamento de barcos do séc. XVI junto ao mercado da Ribeira, em Lisboa, feita com troncos de madeira sobrepostos.
A rampa estava enterrada no lodo debaixo da Praça D. Luís, a seis metros de profundidade, tem uma área de 300 metros quadrados e está associada a um estaleiro naval.

Agora foi descoberto que a camada mais funda da estrutura de madeira é composta por peças de navio reaproveitadas.

"Nunca encontrámos nada de semelhante em Portugal, e mesmo no resto do mundo não é um achado muito comum desta época", afirma António Bettencourt, o arqueólogo do Centro de História de Além-Mar, Universidade Nova de Lisboa, chamado pela empresa privada que está a fazer as escavações para acompanhar os trabalhos.

Que barco seria este e por que razão foi reciclado? Seria uma nau, uma caravela, um galeão? Pode ser uma embarcação do séc. XVI ou XVII. Se for do séc. XVII, trata-se de uma época em que o desenvolvimento acelerado da construção naval começava a ter nefastas consequências nas florestas europeias.
"O abate das espécies mais procuradas fazia-se a um ritmo superior ao tempo necessário à recuperação da mancha florestal (...) O tempo das caravelas aproximava-se do fim", descreve José Mattoso na História de Portugal. Além da pirataria, foi a escassez de madeira que causou a progressiva decadência das rotas da navegação comercial nas quais se baseava a economia portuguesa da época.

Os barrotes de pinho, sobreiro e carvalho vão ser analisados um a um. Depois, alguns serão depositados outra vez em lodo, mas na margem Sul do Tejo, enquanto outros serão conservados nos serviços do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar).
O Laboratório de Dendrocronologia do Instituto Superior de Agronomia, Universidade Técnica de Lisboa, também foi chamado para ajudar na avaliação da idade apesar de, em Portugal, ainda não ter sido criado um padrão de tempo de crescimento das árvores baseado nos anéis do tronco. 



Os arqueólogos esperam encontrar mais vestígios debaixo dos pedaços de barco.
Para já, as descobertas da Praça D. Luís vão originar um projecto de investigação e serão o tema de uma palestra no Museu da Cidade, em 17 de Maio, a que se seguirá outra no Padrão dos Descobrimentos em 2 de Junho.



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