terça-feira, 23 de maio de 2017

Terror em Manchester


Ontem à noite, pelas 22:35, ocorreu uma explosão em Manchester no final de um espectáculo da cantora pop norte-americana Ariana Grande que decorreu na Manchester Arena.

A polícia de Manchester apenas quantificou o número de vítimas já na madrugada desta terça-feira — 19 vítimas mortais e cerca de 50 feridos —, informando no tweet que estavam a tratar a situação como um "incidente terrorista" até prova em contrário:



O ataque foi perpetrado no átrio de entrada da Manchester Arena, estando cerca de 21 mil pessoas nas imediações quando ocorreu a explosão que envolveu um dispositivo caseiro cheio de porcas e parafusos. O grupo terrorista Estado Islâmico já reivindicou o ataque.

Várias zonas ficaram interditas, afectando os transportes na cidade. A estação de comboios de Vitória, que comunica com a Arena, foi encerrada.





A polícia de Manchester actualizou o número de vítimas, esta manhã, subindo para 22 mortos e 59 feridos.

"Temos estado a tratar isto como um incidente terrorista e acreditamos, nesta etapa, que o ataque foi conduzido por um homem. A prioridade é estabelecer se actuou sozinho ou como parte de uma rede.

O atacante, podemos confirmar, morreu na arena. Acreditamos que o atacante carregava consigo um dispositivo explosivo improvisado, que detonou, causando esta atrocidade
”, afirma o comunicado da polícia, em que as autoridades pedem às pessoas para não especular.

A nossa prioridade é trabalhar com os serviços secretos britânicos e de contra-terrorismo para encontrar mais detalhes sobre o indivíduo que conduziu este ataque”, acrescentam as autoridades.



Entretanto a comunicação social começou a divulgar a identidade de algumas vítimas, entre as quais uma criança de 8 anos, e do bombista suicida. Chama-se Salman Abedi e tem 22 anos. A polícia de Manchester confirmou, com reticências:



Nascido em Manchester em 1994, Salman Abedi é o segundo mais novo dos quatro filhos de um casal de refugiados líbios que vieram para o Reino Unido para escapar ao regime do coronel Muammar Gaddafi.

Abedi frequentou a escola local e foi para a universidade de Salford, em 2014, onde estudou gestão antes de desistir. Usava vestes islâmicas e costumava rezar numa mesquita local que, no passado, foi acusada de angariação de fundos para os jihadistas.

O irmão mais velho, Ismail Abedi, foi professor na escola do Corão da mesquita de Didsbury. Segundo o imã, Salman havia-lhe mostrado recentemente "o rosto do ódio" quando deu uma palestra alertando para os perigos do chamado Estado Islâmico.

A mãe, Samia Tabbal, de 50 anos, e o pai, Ramadan Abedi, um agente de segurança, nasceram em Trípoli mas terão emigrado, primeiro para Londres e, mais tarde, para a zona de Whalley Range, no sul de Manchester.

Pensa-se que, em 2011, após a derrota de Gaddafi, os pais retornaram para a Líbia, mas as viagens que Salman Abedi fez para o país de origem da família estão agora a ser objecto de investigação.

Alguns dissidentes de Gaddafi que eram membros do Grupo Islâmico Líbio de Combate (LIFG), entretanto ilegalizado, viveram nas proximidades dos Abedi em Whalley Range.

Entre eles, encontrava-se Abd al-Baset Azzouz, pai de quatro filhos, que deixou Manchester para dirigir uma rede terrorista na Líbia supervisionada por Ayman al-Zawahiri, o sucessor de Osama bin Laden na liderança da Al-Qaeda. Azzouz, 48 anos, especialista em bombas, foi acusado de dirigir uma rede da Al-Qaeda no leste da Líbia, em 2014.

Outro membro da comunidade líbia em Manchester, Salah Aboaoba, disse ter angariado fundos para o LIFG, em 2011, justamente na mesquita de Didsbury. Na época, o porta-voz da mesquita negou veementemente a reivindicação: "Esta é a primeira vez que ouço falar do LIFG. Não conheço Salah".

Agora, Mohammed Saeed El-Saeiti, o imã da mesquita de Didsbury, apontou Salman Abedi como um extremista perigoso: "Salman mostrou-me o rosto de ódio depois do meu discurso sobre o Ísis (...) Não é uma surpresa para mim".

A polícia atacou a casa da família às 11:30 desta manhã. De acordo com moradores da rua, 2 helicópteros e pelo menos 30 polícias camuflados, com equipamentos anti-motim e escudos, participaram no ataque.
Removeram a cerca de madeira entre duas propriedades. Colaram uma tira preta na porta e provocaram uma explosão. A porta soltou-se das dobradiças e as janelas tremeram. O ataque durou 90 segundos.

"Não os vi trazer ninguém para fora da casa. Acredito que estava vazia”, disse um vizinho.


*


Depois dos movimentos da Primavera árabe derrubarem os governantes da Tunísia e do Egipto para elegerem regimes islâmicos, começou uma revolta na Líbia, em 17 de Fevereiro de 2011, mas o ditador líbio Muammar Kadhafi resistiu.

Dez dias depois, foi criado um Conselho Nacional de Transição para administrar as áreas da Líbia sob controle dos rebeldes, prontamente reconhecido pela França, em 10 de Março, como o representante legítimo do povo líbio.

As forças pró-Gaddaffi responderam militarmente aos ataques rebeldes na Líbia ocidental — a cidade de Zawiya, a 48 km de Tripoli, foi bombardeada por aviões da força aérea e conquistada por tanques do exército — e lançaram um contra-ataque ao longo da costa na direcção leste, até Benghazi, o centro da rebelião.

Tanto o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, como o Conselho de Direitos Humanos da ONU condenaram estas acções militares, sob a acusação de violarem o direito internacional, tendo este último organismo expulsado a Líbia, atitude incentivada pela própria delegação da Líbia na ONU.

Em 17 de Março, o Conselho de Segurança da ONU aprovou a Resolução 1973 com 10 votos a favor dos membros permanentes Estados Unidos, França e Reino Unido e, ainda, da Bósnia-Herzegovina, Colômbia, Gabão, Líbano, Nigéria, África do Sul e Portugal e 5 abstenções dos restantes membros (Rússia e China, membros permanentes, e ainda Índia, Brasil e Alemanha).
Esta resolução sancionou o estabelecimento de uma zona de exclusão aérea e o uso de "todos os meios necessários" para proteger os civis dentro da Líbia.

Dois dias depois, a NATO começou a destruir as defesas aéreas da Líbia quando jactos militares franceses entraram no espaço aéreo da Líbia e atacaram alvos considerados inimigos.
Em seguida, entraram em acção as forças americanas. Mais de 8000 militares americanos foram destacados para a área em navios de guerra e aviões. A ofensiva aérea americana incluiu vôos de bombardeiros B-2 Stealth, cada bombardeiro armado com dezasseis bombas de 0,9 tonelada, saindo e retornando à base no Missouri, Estados Unidos.

Em 22 de Agosto, os rebeldes entraram em Trípoli e ocuparam a Praça Verde, rebaptizada Praça dos Mártires em homenagem aos seus mortos. Os últimos combates ocorreram na cidade de Syrte, onde Gaddafi foi capturado e morto em 20 de Outubro de 2011. Pelo menos 30 mil líbios morreram na guerra civil.

A seguir começou a segunda guerra civil da Líbia, agora entre as milícias armadas dos diferentes grupos rebeldes, o mais poderoso dos quais é o Estado Islâmico.

Passado algum tempo, formaram-se as máfias líbias que enchem embarcações frágeis com imigrantes, oriundos de países africanos a sul do Saará, e enviam-nos para Itália. Iniciava-se a invasão islâmica da Europa pelo corredor ocidental.

Quem foram os políticos responsáveis pelo Conselho de Segurança da ONU ter sido favorável à intervenção militar na Líbia que não só desestabilizou este país, como também a União Europeia?
Em 2011, a França era presidida por Nicolas Sarkozy.
No Reino Unido governava o primeiro-ministro David Cameron.
A presidência dos Estados Unidos estava nas mãos de Barack Obama e na Secretaria de Estado alinhava Hillary Clinton.

Quantas mais crianças e jovens vão ter de morrer até conseguirmos perceber que o pior tipo de ditadura é o terror promovido pelo fanatismo islâmico?


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