segunda-feira, 27 de abril de 2015

Média de investimento em papel comercial do GES é 200 mil euros


Durante a sua audição na comissão parlamentar de inquérito ao caso BES, o ex-administrador do BES, João Freixa, já tinha revelado que os clientes do papel comercial detinham recursos no valor de 1800 milhões de euros no banco, a 30 de Junho de 2014, e que "em média, o papel comercial por eles detido representava 31% do património financeiro que detinham no BES".

Agora soube-se que os 2508 clientes de retalho que reclamam o pagamento do dinheiro investido em papel comercial aos balcões do BES, relativo a dívida de empresas do Grupo Espírito Santo (GES), aplicaram cerca de 550 milhões de euros.

Entre estes, há 60 que fizeram aplicações superiores a 1 milhão de euros, cada um, havendo mesmo alguns cujo investimento superou os 5 milhões. No conjunto, estes clientes de papel comercial da Espírito Santo International (ESI) e da Rioforte aplicaram 100 milhões de euros.

No estrato de investimentos em papel comercial de 500 mil a 1 milhão de euros, estão 140 investidores, representando cerca de 80 milhões de euros.

Portanto 2308 clientes investiram os restantes 370 milhões de euros, o que dá uma aplicação média de 160 mil euros, cada um.

Passados quase nove meses depois da resolução do BES, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) diz que todos os investidores de retalho devem ser reembolsados enquanto o Banco de Portugal continua a defender que o Novo Banco só deve assegurar a devolução do investimento a quem conseguir provar que foi alvo de comercialização irregular.
O Banco de Portugal argumenta que devolver a todos pode abrir um precedente, tendo a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, avisado que se poderia acabar por ter de pagar também a Ricardo Salgado.



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Em Março de 2014, o ESFG — holding que controlava o BES — foi obrigado pelo Banco de Portugal a registar uma provisão de 700 milhões de euros, após queixas de Pedro Queiroz Pereira, de clientes e de outras instituições financeiras de que estava a colocar dívida de sociedades não financeiras do Grupo Espírito Santo (GES), com riscos desconhecidos, através do BES. Ou seja, estava a usar os clientes do banco para financiar as empresas não financeiras agregadas na Rioforte — holding da área não financeira.

Em 20 de Maio desse ano, o BES revelou no prospecto do seu aumento de capital que a auditoria do Banco de Portugal à Espírito Santo International (ESI) — a holding que controlava o GES —, "apurou irregularidades nas suas contas e concluiu que a sociedade apresenta uma situação financeira grave".
Ricardo Salgado abordou o problema em entrevista ao Negócios, publicada a 22 de Maio, revelando que não estavam contabilizadas nas contas da ESI um montante de dívida que, mais tarde, se soube ascender a 1,2 mil milhões de euros.

Acumulavam-se os sinais de que vinha por aí grande tempestade no GES. Só os clientes do papel comercial vendido aos balcões do BES não reparavam?
Não viam os clientes dos outros bancos com depósitos a prazo remunerados a taxas de juro aproximadamente de 1%? Seria profundamente injusto que estes fossem obrigados a contribuir, de algum modo, para ressarcir quem se deixou levar pela ambição e aplicou poupanças em papel comercial do GES.

Quando Chipre entrou em situação de pré-bancarrota em Março de 2013, houve uma corrida aos bancos mas apenas foram garantidos os depósitos até 100 mil euros. A mesma regra se aplica aos depositantes de outros bancos europeus que entrem em falência.
E a ser verdadeira a afirmação do ex-administrador do BES durante a sua audição na comissão parlamentar de inquérito ao banco, estes 2508 clientes tinham aplicado em papel comercial menos de um terço de todo o património financeiro que detinham naquele banco, qualquer coisa como 1800 milhões de euros, muito acima dos 250 milhões garantidos se o banco fosse à falência.

Acresce que, no caso do papel comercial da ESI e da Rioforte, nem sequer estamos a falar de depósitos mas de investimentos em dívida de curto prazo, ou seja, inferior a 90 dias, que pagava altos juros.
Muitos dos clientes já andavam a fazer estes investimentos há anos: amealhavam os juros em menos de três meses e investiam em mais papel comercial. Elevadas taxas de juro estão sempre associadas a elevados riscos. A sabedoria do povo português tem um ditado que deveria ter levado os clientes do papel comercial a reflectirem: "Quando a esmola é grande, o pobre desconfia."

Aliás, continua a ser estranha a reacção destes clientes: pequena é a raiva contra Ricardo Salgado e grande a fúria para com o governador do Banco de Portugal. Até parece que foi Carlos Costa que deu sumiço ao capital inicial que investiram nas empresas do GES e o aboletou em offshores.


3 comentários:

  1. "Não viam os clientes dos outros bancos com depósitos a prazo remunerados a taxas de juro aproximadamente de 1%?" --> Não sei de onde veio este disparate. A diferença na taxa de juro entre aplicação em depósito a prazo e papel comercial rondava 1%, muitas vezes até menos.
    Por exemplo, o investimento em papel comercial da Rioforte a 1 ano em Janeiro de 2014 dava 4,00%, enquanto o depósito a prazo a 1 ano dava 3,00%!

    Os investidores compraram papel comercial com informação que não era verdadeira e de lhe ter sido dito repetidamente que aquilo era uma responsabilidade do BES. Pelas mais diversas vias. Desde a constituição da provisão do BES, desde a declaração da comissão executiva do BES, até declarações sucessivas à resolução.
    Como já depois da resolução e até 15 de Janeiro, o próprio Novo Banco dizia que era uma responsabilidade sua, de reembolsar os clientes.
    A comunicação executiva publicou em 18 de Julho um comunicado oficial, dizendo que o BES era responsável pelo reembolso de papel comercial. O BES tornou-se responsável pelo reembolso. Pelas circunstâncias como foi vendido. Pelas circunstâncias em que foi depois gerido o processo. Pelas declarações que foram feitas.
    Não é aceitável que uma instituição financeira diga “eu devo isto”, “eu pago isto” e depois mais tarde diga “afinal não era isto que queria dizer". Estamos a brincar com a confiança do sistema financeiro!

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    1. Sobre a minha afirmação: "Não viam os clientes dos outros bancos com depósitos a prazo remunerados a taxas de juro aproximadamente de 1%?"

      A taxa de juro oferecida pelo BPI para depósitos a prazo é 0,6%. Se o depósito for em dólares, a taxa máxima é 1,2%.

      No Millennium BCP a taxa de juro máxima é 0,95%. Mesmo o Activobank do grupo Millennium BCP, excepto em casos especiais como sejam novos clientes, oferece depósitos a prazo com uma taxa de juro 1,15%.

      Os depósitos a prazo do Novo Banco têm, em geral, a taxa de juro 1,25%. Até a Conta NBnet Super Rendimento. O Depósito a Prazo NB a 92 dias pode atingir 1,5%, se o montante for superior a €25.000.

      Muitos clientes aperceberam-se da situação no BES e levantaram os seus depósitos durante a primeira quinzena de Julho de 2014. O Banco Central Europeu deixou de lhe conceder liquidez durante esse mês e o BES foi objecto de uma medida de resolução em 4 de Agosto. Tudo o que foi feito ou dito antes desta data deixa de ter valor.
      Defendo e espero que sejam reembolsados todos os investidores em papel comercial de empresas do GES que provarem que foram alvo de comercialização irregular.

      Sei que é doloroso porque alguém que me é muito próximo entregou 40% do custo de um apartamento e o empreiteiro foi à falência. Foi muito difícil aceitar que o contrato de promessa de compra e venda feito na presença de um notário ficou sem efeito. O assunto arrastou-se durante duas décadas, mas a pessoa em questão nunca andou a insultar ninguém. O que retirou foi todos os depósitos a prazo da CGD, a instituição financeira que lucrou vergonhosamente com o negócio.

      O BPN também oferecia produtos altamente atractivos e criou um buraco financeiro. Estou contra o então governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, mas o grande responsável foi Oliveira e Costa, presidente executivo do BPN, e também Dias Loureiro porque era administrador, lucrou com o banco e sabia o que lá se passava.

      Este banco foi nacionalizado e os prejuízos caíram sobre a cabeça de todos os contribuintes. É injusto. Deviam ter sido penalizados os accionistas e os que lucraram com o BPN. Como está a acontecer agora com o BES. Volto a repetir: defendo e espero que sejam reembolsados todos os investidores em papel comercial de empresas do GES que provarem que foram alvo de comercialização irregular.

      Sobre a sua afirmação “o investimento em papel comercial da Rioforte a 1 ano em Janeiro de 2014 dava 4,00%, enquanto o depósito a prazo a 1 ano dava 3,00%”, espero que a prove. Com a mesma honradez com que eu provei o “disparate”.

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  2. Este artigo é opinião de um burro e como tal não vale nada.
    Neste país, quem tem 100000 euros é um milionário. Quando o tal burro fala de ganância e que os normais DO davam 1%, tem que ser traduzido para língua de gente normal. Traduzindo, o que ele quer dizer é que: ele só tinha e tem uns trocos à ordem e que eram remunerados ao saldo médio de 1% como era normal na altura. Também mostra que o burro se julga muito esperto, até tem um blog onde opina sobre economia! E fez-lhe muita azia constatar que pessoas de aparência simples, práctica tenham amealhado quantias que ele nunca vai conseguir juntar na vida. Isto afecta muito o burro, pois ele que pensava ser um iluminado muito acima da média, acaba finalmente por constatar que há pessoas que ele acharia inferiores a si próprio, afinal o ultrapassaram em muito. A ilusão que ele tinha sobre si próprio, foi-lhe mostrada sem margem para dúvida ser somente uma ilusão.

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