quarta-feira, 4 de março de 2015

A entrevista de Bashar al-Assad à RTP


Completam-se quatro anos de guerra na Síria no próximo dia 16 de Março. Atiçada do exterior, a guerra destruiu cidades, causou milhares de mortos e criou milhões de refugiados.

Desde Março de 1971 que a Síria é governada pela família al-Assad. O presidente Bashar al-Assad, que nunca manifestou interesse pela política e só abandonou a carreira de oftalmologista em Londres depois da morte do irmão mais velho, continua a resistir, dominando Damasco e uma parte do país.

Nesta curta entrevista à RTP, conduzida por Paulo Dentinho, o presidente sírio expõe serenamente uma visão da guerra diferente daquela que estamos habituados a ver na comunicação social portuguesa:

04 Mar, 2015, 22:31


"A Síria não está acabada, nem é um Estado falhado. Mas se quiser falar de algo diferente, como referiu na sua questão, que foi a invasão ilegal do nosso espaço aéreo, por aviões da aliança internacional, e por terroristas apoiados por países da região... Isto é uma falha do sistema internacional. Este sistema internacional que tem sido representado pelas Nações Unidas e pelo Conselho de Segurança que devia resolver os problemas e proteger a soberania de vários países e evitar a guerra, falhou nesse propósito. O que temos agora é umas Nações Unidas falhadas pois não conseguiram proteger os cidadãos internacionais de países como a Síria, Líbia, Iémen e outros países.
(...)
A solução é política, mas sentarmo-nos com alguém ou com uma parte que não tenha influência no terreno, isso será falar apenas por falar. É verdade. Não escolhemos a outra parte em Genebra. Foi escolhida pelo Ocidente, pela Turquia, pela Arábia Saudita e pelo Qatar. Não dialogámos com a oposição síria. Tem razão. Se queremos dialogar, tem de ser com a oposição síria, com parceiros sírios, com pessoas que representam os sírios na Síria e não pessoas que representam outros países."


*

Nos países em que grande parte da população está refém do fundamentalismo islâmico, as revoluções apenas substituem as ditaduras seculares, defensoras de valores ocidentais, por ditaduras islâmicas que se revelaram obscurantistas e protectoras do terrorismo. Temos de reconhecer que a primavera árabe foi uma miragem e que o regime de ditadura provou ser o único que funciona na Tunísia, Líbia ou Egipto.

A Síria tem fronteira, a Norte, com a Turquia cujo território se estende até à Europa. Ditadura por ditadura, antes a de Bashar al-Assad: a paz europeia sairá reforçada e o desenvolvimento económico, social e cultural sírio só poderá acontecer, se o país for governado por alguém com uma mentalidade progressista e que reconheça valor na cultura ocidental. A Rússia de Putin entendeu essa realidade. Os Estados Unidos não. Por vezes até parece que estão interessados em ver o terrorismo islamista desestabilizar os países europeus como sucedeu com o massacre no semanário francês Charlie Hebdo, quando, na manifestação de repúdio dos governantes ocidentais na capital francesa, Barack Obama primou pela ausência.


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