quinta-feira, 21 de novembro de 2013

A brigada do reumático


Decorreu hoje, na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa, a conferência "Em Defesa da Constituição, da Democracia e do Estado social", promovida por Mário Soares.

Frente a uma plateia repleta de idosos que gozaram a vida à sombra do Estado, de ministros dos Governos de José Sócrates responsáveis pela duplicação da dívida pública em seis anos e de políticos da esquerda radical, o ex-Presidente da República rapidamente largou a Constituição para centrar o seu discurso na exigência de demissão do actual presidente da República:

"O senhor Presidente da República, que jurou cumprir e fazer cumprir a Constituição, não a está a respeitar, o que é inaceitável. Porquê? Porque só protege um único partido, que é o seu próprio, e agora o seu actual aliado de circunstância, o CDS-PP. Está longe de ser o Presidente de todos os portugueses, como devia ser. É odiado e vaiado pela grande maioria dos portugueses, que estão a viver terrivelmente mal. Por isso, tem medo de sair à rua e medo de falar.

Os portugueses com este Governo estão a emigrar, em grande parte, desesperados, revoltados e alguns, infelizmente, a suicidar-se. E outros para subsistir entram na criminalidade. Nunca houve tanta criminalidade como agora. É preciso ter a consciência de que a violência está à porta. Ainda hoje o soubemos pela polícia, tal como está a suceder neste momento. Ora é isso que é necessário evitar. É para evitar a violência que estamos aqui, patrioticamente, a defender a Constituição, a democracia, o Estado social e o Estado de Direito que estão a ser sistematicamente destruídos.

Com um Governo completamente paralisado e sem rumo, que não dialoga com o povo, e um Presidente da República que só pensa em manter o seu partido estamos todos os dias a criar o desespero e a violência. É verdade que há muita gente com medo, mas outros estão tão desesperados que já não têm muito a perder. É por isso que digo que o Presidente e o Governo devem demitir-se, enquanto podem ainda ir para as suas casas e pelo seu pé. Caso contrário, serão responsáveis pela onda de violência que aí virá e necessariamente os vai atingir.

Acresce que não é só Portugal que está mal, mas a Espanha e a Itália não têm troika e a Irlanda vai deixar de tê-la. Em Portugal parece que cada vez há mais troika. A crise é europeia mas está em mudança para evitar um desastre de tipo mundial. Ninguém aceita hoje a austeridade que está na origem de todos os males. Portugal é excepção e parece até gostar muito de ter a troika, que é quem manda em Portugal. Que vergonha para um Estado que descobriu o mundo e tem as suas fronteiras há mais de nove séculos.

Por isso, ouso dizer, patrioticamente, senhor Presidente demita-se, uma vez que não cumpre a Constituição!

E por partidarismo o Presidente não é capaz de demitir este Governo incompetente que nos está a empobrecer, a destruir todos os dias e que é do seu partido. Não nos digam que não há mais alternativas. Todos sabem que há muitas alternativas.

Não desgrace mais a Portugal, senhor Presidente da República.
"

21 Nov, 2013, 21:56


Um discurso apocalíptico de um político que revelou ter tido uma "gravíssima" discussão com José Sócrates, em 2011, para o obrigar a pedir ajuda financeira ao FMI, tendo ele próprio pedido assistência financeira externa em 1983.
Dois anos depois, a troika passou a ser a causa de todos os males do País.

Cavaco Silva serve o interesse dos poderosos? Serve.
Tal como Mário Soares também serviu enquanto desempenhou cargos políticos. E o seu partido socialista serviu tão bem esses interesses nas nacionalizações de falidos minibancos privados, nos contratos das PPP e nas rendas pagas aos produtores de energia eléctrica que até atirou o País para a bancarrota.

Este senhor não está a defender a Constituição, nem o Estado Social — que só lhe interessa no que diz respeito às pensões, subvenções vitalícias e outras regalias — pois no domínio da saúde prefere isto. Está a proteger os privilégios financeiros que os políticos acumularam abusivamente ao longo de mais de três décadas.
Estes senhores não estão contra o Governo por não pedir mais esforço de austeridade às oligarquias que sugam este País. Mas por estar a atingir de raspão as suas mordomias.

Soares está ressabiado com Cavaco Silva para o qual perdeu as eleições presidenciais de 2006, ficando num humilhante terceiro lugar.
Soares está ressabiado com o actual Governo porque os subsídios do Estado para as fundações da família sofreram um corte de 30%.

E pode falar em patriotismo um político que participou numa manifestação em frente da Embaixada de Portugal, em Londres, onde foi queimada a Bandeira Nacional, durante a visita oficial de Marcelo Caetano ao Reino Unido? Esse sim, um homem digno, que criou projectos para desenvolver a economia, como o complexo industrial e portuário de Sines que agora é a esperança da nossa economia, e depois de deixar de ser primeiro-ministro nunca mais recebeu um tostão do Estado português.

A surpresa foi ver Pacheco Pereira misturado com os militantes da brigada do reumático. Mas ele, pelo menos, foi atacar o verdadeiro inimigo que é "a iniquidade, a injustiça, o desprezo, o cinismo dos poderosos".

À porta houve um toque de juventude: o eurodeputado Rui Tavares distribuiu panfletos promovendo o "seu" partido Livre. É que há eleições para o parlamento europeu, em 2014, e é preciso fazer pela vidinha.


2 comentários:

  1. Excelente post. Tive que soltar uma gargalhada com o último parágrafo.

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    1. Há meio século a política não era olhada como uma profissão.

      Os sujeitos eram economistas, advogados, engenheiros, professores, ... Granjeavam experiência no desempenho das respectivas profissões e, se fossem da “cor”, podiam ser convidados por Salazar para deputados, ministros , presidentes de câmara, ... Serviam durante uns quatro anos e depois regressavam às suas carreiras profissionais, em geral no sector privado.

      Agora estes senhores, quando estão a acabar os mandatos, começam a pensar num modo de se perpetuarem nos lugares.
      E até as catraias das escolas básicas, engodadas pelos eurodeputados com viagens a Bruxelas e a outros países da UE, já começam a sonhar com um lugar vitalício, primeiro num partido e depois numa câmara ou no parlamento, aos doze anos!

      Há que rir desta obsessão.

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