segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

"Grito de alerta pelos doentes"


Depois do Serviço Nacional de Saúde (SNS) ter entrado em caos na maioria dos hospitais de Portugal continental — a situação no Hospital de Santa Maria já era aflitiva no sábado e o Hospital de Loures soçobrou na madrugada de ontem e já há infectados por COVID-19 a morrerem em casa aos 42 anos —, facto que está a ser escondido pela pior ministra da Saúde que alguma vez este país teve, a Ordem dos Médicos lançou um "Grito de alerta pelos doentes" que estão a morrer sem tratamento nos hospitais públicos, consubstanciado em 10 propostas (o negrito é meu):



A situação emergente que se vive na Saúde em Portugal, por ausência de medidas robustas por parte de quem tem a responsabilidade política de tomar decisões, impelem o Bastonário da Ordem dos Médicos e o seu Gabinete de Crise para a Covid-19 a renovar um conjunto de propostas urgentes para combater de forma mais eficaz a pandemia em curso:

1. Comunicar aos portugueses de forma transparente, coerente e objetiva, não omitindo a verdade, não tentando esconder a gravidade da situação, nem tentando encontrar bodes expiatórios para justificar a incapacidade de liderar o combate à pandemia.

2. Adotar sem reservas e com a maior brevidade um confinamento geral, no mínimo semelhante ao que ocorreu em março/abril de 2020, aquando da primeira onda da pandemia, com uma situação muito menos severa.

3. Reforçar a capacidade de resposta das equipas de saúde pública, com os meios necessários e profissionais de saúde competentes para desempenhar as tarefas de realizar inquéritos epidemiológicos válidos e em tempo útil, que permitam identificar rapidamente os contactos de alto risco e quebrar cadeias de transmissão da doença Covid-19.

4. Aumentar de forma exponencial a capacidade de testagem de pessoas infetadas e seus contactos, através da utilização massiva de testes rápidos, para tentar recuperar o tempo já perdido na quebra de cadeias de transmissão e reforçar a capacidade de resposta da saúde pública.

5. Utilizar, de forma planeada e organizada, todos os recursos do sistema de saúde, para dar uma resposta integrada e consistente aos cidadãos e doentes Covid-19 e não Covid-19. A gestão crítica nacional e regional de camas de internamento e de cuidados intensivos deve envolver equipas altamente diferenciadas e englobar todo o sistema de saúde (setor público, privado e social).

6. Libertar os médicos de família do Trace-Covid (e contratar médicos para esta tarefa específica), para que a principal porta de acesso ao SNS possa estar aberta e não parcialmente encerrada.

7. Proteger verdadeiramente as pessoas mais frágeis, nomeadamente os nossos idosos que estão nos lares, contratando equipas específicas com formação adequada, para que possam ter acesso privilegiado a cuidados de saúde em segurança.

8. Rever com urgência os protocolos e funcionamento da linha SNS 24, para garantir informação consistente, adequada e eficaz aos cidadãos.

9. Ouvir de forma regular as instituições legalmente competentes, que conhecem o terreno onde o combate à pandemia acontece.

10. Revisão imediata do Plano Nacional de Vacinação Covid-19 e pedido de parecer urgente ao Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) sobre critérios de prioridade para vacinação Covid-19.

As meias medidas nem servem a saúde nem a economia.

Já perdemos demasiado tempo e continuamos a perder.

É inaceitável continuar nas meias medidas e meias verdades.

Dizer que está tudo bem, quando não está.

Dizer que estamos a atingir a linha vermelha quando já a ultrapassamos há muito (não será preciso recordar os mais de 25 milhões de consultas presenciais, cirurgias e exames complementares de diagnóstico e terapêutica que ficaram pelo caminho e continuam a ficar).

Manter estratégias políticas que não motivam os cidadãos a cumprir.

Os profissionais de saúde neste momento têm de tomar decisões complexas e muito difíceis em contexto de medicina de catástrofe e de estabelecimento de critérios de prioridade e não conseguem salvar todas as vidas. São eles que desesperam perante os limites do sofrimento e da compaixão, mercê da incapacidade de tratar o outro, e assim são vítimas de burnout e sofrimento ético. São eles que, além dos doentes, sofrem no terreno, e que aguentam a pressão brutal sobre o SNS.

Precisamos com urgência de proteger os doentes, os profissionais de saúde, toda a população portuguesa.

É emergente esmagar a transmissão na comunidade. Dada a evolução atual da pandemia, precisamos de atuar agora com todos os meios para ter resultados consistentes daqui a 2 semanas.

Ninguém pode continuar, por más decisões políticas, a tolerar a morte silenciosa de quem não consegue gritar.

Este é um grito de alerta para acordar e ajudar Portugal.

Lisboa, 18 de janeiro de 2021"


Sem comentários:

Enviar um comentário