segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Novo Banco: Vítor Bento despede-se dos trabalhadores


Vítor Bento, presidente executivo do Novo Banco, despediu-se hoje dos colaboradores numa mensagem em que explica o trabalho feito pela equipa e as razões da sua demissão:


Entrei no então BES, juntamente com os Drs. José Honório e João Moreira Rato, a 14 de Julho, numa envolvente muito complexa e cheia de incertezas e perante uma situação que se afigurava com um futuro muito difícil, empenhados na recuperação do Banco e do seu prestígio. O que pressupunha, entre outras coisas, um razoável horizonte temporal para o efeito. Era esse o desafio profissional que tinha pela frente.

As coisas precipitaram-se muito rapidamente e o Banco acabou objecto de uma medida de resolução, que correspondeu ao que as autoridades consideraram ser, dentro das circunstâncias, a que melhor protegeria o Banco, os seus clientes e o seu futuro.

Aceitámos fazer a transição para o novo regime, para assegurar que a mesma não teria nenhum efeito desestabilizador no Banco e no sistema financeiro e porque na altura não era ainda claro que não fosse possível prosseguir o projecto de médio prazo com que iniciáramos esta missão. A rápida evolução das circunstâncias, e o enquadramento legal da situação do Banco, resultante da medida de resolução, acabaram por mostrar que o desafio profissional que tínhamos pela frente tinha mudado substancialmente.

Lançámos, com apoio da McKinsey, a elaboração de um plano de sustentabilidade, pusemos em curso a mudança de marca (por imperativo regulamentar), criámos as condições para a "normalização" do funcionamento interno e externo do Banco, definimos objectivos para o último trimestre e lançámos o processo orçamental para 2015, entre várias outras coisas. Está praticamente concluído o balanço de abertura do Banco, não auditado, mas que permitirá um diálogo mais sólido com as várias contrapartes dos negócios do Banco e com as agências de rating. E entretanto, foi já encetado um processo para a rápida venda do Banco, gerido pelo Fundo de Resolução e pelo Banco de Portugal.

Por essas razões, entendemos ser agora oportuno passar o testemunho a uma outra equipa de gestão mais alinhada com o projecto escolhido pelo accionista.

O novo CEO é uma pessoa muito experiente no sector e um profissional reconhecido e estou certo de que será o garante da preservação desse valor. Os elementos que o acompanham na renovação da equipa são também profissionais reconhecidamente competentes.

Estou convicto de que esta mudança ocorre no momento mais oportuno para o efeito, e uma vez que estão praticamente resolvidas as questões mais complexas e desgastantes da transição do regime do Banco, será favorável pois que, libertando a nova equipa daquele desgaste, lhe permitirá dar um novo impulso à actividade do Banco.

Em 4 de Julho, foi tornado público que Vítor Bento fora convidado por Ricardo Espírito Santo Salgado para assumir a liderança do BES. Assumiu funções a 14 de Julho, tendo escolhido para administradores José Honório e José Moreira Rato, presidente do IGCP. Moreira Rato, que preparou as emissões da dívida pública nos mercados financeiros nos últimos três anos, tendo conseguido baixar a taxa de juro para cerca de metade, foi escolhido para administrador financeiro.
No domingo 3 de Agosto o BES foi dividido em dois bancos, tendo a equipa de Vítor Bento passado a liderar o Novo Banco.

O banco foi capitalizado com 4,9 mil milhões de euros do Fundo de Resolução, criado em 2012 para ajudar os bancos que passem por dificuldades e sustentado com as contribuições da própria banca. Como o Fundo é recente e ainda não dispunha daquela quantia, o Estado teve de emprestar-lhe 4,4 mil milhões provenientes de fundos da Troika, mas garantidos pelos nove bancos que integram o referido Fundo.

Sobre a queda de Vítor Bento, a entrada de Eduardo Stock da Cunha e os interesses que se desenham no horizonte, e que vão do BPI de Ulrich ao Santander Portugal, passando pelo BIC Angola ligado a Mira Amaral, o OJE faz uma análise profunda que é imprescindível ler aqui.
Se o Novo Banco for vendido ao BIC Angola por uma quantia irrisória, mesmo que seja superior aos valores propostos pelos outros bancos, os contribuintes serão gravemente lesados. Os eleitores não vão tolerar mais uma negociata de Paulo Portas e Passos Coelho pode ter a certeza que o PSD vai perder as eleições legislativas do Outono de 2015.

Para quem tinha dúvidas, Vítor Bento acaba de esclarecer que é um economista e gestor capaz de se adaptar a circunstâncias profissionais muito difíceis, porém, impõe a si próprio determinadas fronteiras para além das quais não se deixa arrastar. Não é um político à portuguesa. Alguém, portanto, cuja opinião nos deve merecer respeito e consideração.


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