"Não atiro o país para uma crise política irresponsável, nem deixo o CDS sem identidade."
Foram as únicas palavras de Paulo Portas perante a previsão de uma grande manifestação popular e no momento político mais difícil desde o 25 de Abril, com Portugal sob assistência financeira externa.
E procurou capitalizar o descontentamento popular através de declarações de um dos vice-presidentes do CDS que se mostrou muito crítico sobre a orgânica do Governo e exigiu mais ministros, logo mais secretários de Estado, invocando a gravidade da crise política que Portas ajudou a criar com os seus silêncios:
Tivemos quinze anos de crescimento gigantesco do Estado Social com a criação de quase 400 mil RSI’s, implementação do complemento solidário para os idosos a partir dos 65 anos de modo a garantir-lhes 418 euros por mês, formação profissional desadequada às necessidades da economia destinada a esconder o desemprego e subsídios para tudo e mais alguma coisa.
Tivemos quinze anos de multiplicação de institutos públicos e fundações.
Tivemos quinze anos de crescimento incomportável dos salários na função pública e um aumento exponencial de suplementos remuneratórios — só nas escolas foram 5000 cargos de directores, subdirectores e adjuntos.
Tivemos quinze anos de aumento das dívidas do sector empresarial do Estado, da região autónoma da Madeira e das autarquias.
Tivemos quinze anos de políticas viradas para o desenvolvimento da indústria da construção civil e da criação de eventos.
Tínhamos um tecido empresarial exportador que não conseguia aguentar nem a pressão importadora, nem as despesas do sector público.
Tínhamos uma classe empresarial pouco competente, encostada ao subsídio do Estado e ao cliente Estado.
Tínhamos uma população muito diplomada, mas pouco qualificada, a receber salários incompatíveis com a produtividade o que leva à deslocalização das empresas para países mais favoráveis ao retorno do investimento.
Em Abril de 2011, o governo socialista teve de pedir um empréstimo de 78 mil milhões de euros à Comissão europeia e ao FMI para financiar as despesas públicas do País até 2013, porque os nossos credores a partir de finais de 2010 passaram a recusar novos empréstimos.
Era inevitável um ajuste financeiro brutal. No sector administrativo do Estado, há casos em que os cortes salariais já atingiram os 24%. E não chega.
Eram inevitáveis convulsões sociais quando a redução salarial atingisse o sector privado.
Portas sabia disso quando tomou posse em 21 de Junho de 2011.
E abandonou Passos Coelho na primeira crise grave, isolado na sua proposta de modelação do aumento da Taxa Social Única. Mandou um vice-presidente exigir mais lugares no governo.
Seguro e os socialistas estão vazios de ideias. Apesar de se terem locupletado durante doze dos últimos dezasseis anos e empurrado o País para uma pré-bancarrota, só têm o objectivo de voltar a mandar no ministério das Finanças — o ‘pote’.
Quanto ao comportamento de Cavaco Silva, nem vale a pena gastar duas palavras. É um ser ganancioso que só está preocupado em recuperar o poder e com o corte de 10% que as novas medidas de austeridade vão impor às suas pensões.
A população já percebeu que tem de haver mais austeridade mas, como é tipicamente português, cada um vai defender o seu quintal. Até porque o governo deu um mau exemplo com algumas nomeações sem atender à idade e, consequentemente, à competência dos nomeados e cedeu a pressões de CEO’s de grandes produtores de energia eléctrica, eliminando do governo o engenheiro Henrique Gomes, um dos seus melhores elementos.
O aumento de 7% da TSU dos trabalhadores, com entrega de 5,75% aos empresários, era uma medida penalizadora da economia? Não seria, se os empresários canalizassem esse benefício para baixar os preços dos bens transaccionáveis ou dos serviços prestados pelas empresas. Mas é preciso ouvir vozes experientes que prevêem um fracasso.
Sem dúvida que a política portuguesa é o pântano de que falava Guterrres.
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