quinta-feira, 26 de março de 2015

Entrevista de Henrique Neto à Antena 1


O primeiro candidato às eleições presidenciais que vão decorrer no início de 2016 foi entrevistado pela jornalista Maria Flor Pedroso para a Antena 1. Henrique Neto revela que a ideia da sua candidatura surgiu num grupo de pessoas amigas e conhecidas compelidas pelo facto de possuir a coragem necessária para apontar os erros cometidos por governantes do seu próprio partido e, sobretudo, por ter delineado em diversas publicações uma estratégia para o País.

26 Mar, 2015, 12:50

Sobre a escolha do local de apresentação da candidatura:
“[O padrão dos descobrimentos] é um símbolo do Portugal de sempre. Os símbolos portugueses, desde o Mosteiro da Batalha, os Jerónimos até à Torre de Belém, foram feitos por líderes, tinham conotações, mas são símbolos de um determinado acontecimento da nossa história. Mas para mim tem outra componente: representa uma estratégia nacional que podemos centrar no D. João II — partir para o mar, alargar o País, desenvolver a ciência, desenvolver a tecnologia. A partir daí fomos sempre um País atlântico.

A minha ideia é esta: quanto mais fortes nós formos no Atlântico, em África, nas Américas, no Oriente, com toda a gente que temos por todas essas partes do mundo, mais fortes somos na Europa e podemos desenvolver a nossa actividade fora da Europa.

Sobre a sua candidatura:
Se o Ernâni Lopes fosse vivo e pudesse ser candidato, eu não era.

Na encruzilhada em que o País está, precisamos de alguém que tenha coragem de fazer mudanças. Dentro do sistema, à esquerda e à direita, não vejo ninguém suficientemente independente dos partidos. Se o professor Sampaio da Nóvoa se candidatasse autonomamente como uma emanação da sociedade civil, seria algo de saudar. Mas tanto quanto eu entendo, a ideia é ser o candidato do partido socialista ou um candidato apoiado pelo partido socialista.
Bom, tenho por experiência própria que os partidos políticos condicionam sempre, directa e indirectamente, as candidaturas, e não apenas até à eleição, condicionam principalmente nos cinco anos seguintes. Veja-se o que está a acontecer com o actual presidente. Naturalmente que ao apresentar a minha candidatura, a ideia é ganhar, mas ganhar um lugar em Belém e depois não fazer o que acho que é essencial nesta conjuntura porque há compromissos... O País precisa de alguém em Belém que seja verdadeiramente independente.


Sobre o actual governo:
Se eu fosse presidente da República neste período, havia coisas que não tinha deixado fazer, por exemplo, as PPPs. Quando se chega à presidência da República, uma pessoa confronta-se com os acidentes [como as PPPs]. Aquilo que teria feito era apresentar à maioria, ao PS e aos outros partidos: ‘Tenho esta visão para o País, vejam se há condições de se entenderem relativamente a esta proposta’. Durante a crise do irrevogável, o presidente disse [ao PSD e ao PS]: ‘Entendam-se.’ Ora entendam-se com base em quê? Nos programas dos dois partidos?

“[Em 2010] eu tinha autoridade para falar do secretário-geral do partido socialista porque era militante do partido e pensava que a demissão de José Sócrates era muito útil para o partido. Tinha uma legitimidade para falar do partido socialista que não tenho para falar do actual governo.
[Em 2013,] naquele período em que o presidente da República invocou a necessidade de um acordo, as questões que se colocavam não eram suficientemente importantes para dissolver a Assembleia da República — o presidente não pode demitir o governo. Depois disso não houve questões importantes, a menos que houvesse uma proposta concreta do presidente da República, uma visão para o futuro do País, que fosse recusada liminarmente.

Sobre António Costa:
Inquieta-me uma falta de clarificação e de convicções. Escrevi um texto no i em que eu dizia: ‘Por favor, António Costa, fale-nos das suas convicções’. Porque não acho saudável para a democracia portuguesa que um partido político ou um líder político encomende a um grupo de técnicos a feitura do futuro de Portugal.

Sobre o acompanhamento de António Costa:
Um dos grandes problemas dos líderes é não terem uma preocupação suficientemente relevante ao escolherem as pessoas que os rodeiam.
Aquelas pessoas que os portugueses olham como mais conhecidas, e o dr. António Costa certamente não deixou de pensar nisso quando as escolheu, são pessoas muito conotadas com a tragédia do governo de José Sócrates que criou as condições para que este governo tivesse de ser, de alguma maneira, aquilo que é.


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