quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Entrevista de Nuno Crato à SIC Notícias



Como está seguramente a par, há contestações várias a este seu plano geral. Qual foi a filosofia de base? Vamos reduzir custos na educação?

"Não, não foi. Está a falar de contestação. Há sempre críticas às propostas. (...) Houve sugestões, reticências, mas houve uma quase unanimidade. As pessoas estavam à espera que se reduzisse a dispersão curricular e que se centrasse o ensino nas disciplinas essenciais.
Falou-se muito que a História ia acabar, que a Geografia ia ser fundida com a História, foram muitas especulações mas a nossa preocupação foi exactamente a contrária, ou seja, Matemática, Português, História, Geografia, Ciências, valorização das ciências experimentais.
Em educação, como noutras coisas, nem sempre mais é melhor. Se começarmos a fazer uma listagem das disciplinas que são úteis ao aluno, começamos com dança, empreendedorismo, piano, flauta, ... e, se formos juntar todas, não resta tempo para as questões essenciais.
(...)
Se os nossos jovens, quando chegam ao fim do 9º ano de escolaridade, como infelizmente acontece com alguns, têm dificuldade em ler um jornal, em fazer raciocínios quantitativos ou não sabem coisas básicas da Física, da Geografia e da História, esses jovens, por muito disperso que seja o ensino noutras áreas, têm dificuldades fundamentais. Ao passo que se saírem do 9º ano com fortes conhecimentos de História, de Geografia, de Matemática, com domínio da língua portuguesa e da língua inglesa, encontram aberto um leque de possibilidades.
Reparando que havia dificuldades nestas questões básicas, como tem vindo a ser repetidamente apontado pelos estudos internacionais, achámos que era necessário intervir para as reforçar."

"Não vamos fingir que o dinheiro é infinito, há falta de dinheiro. Portanto há uma série de coisas, nomeadamente, obras em escolas que tivemos que suspender, indo agora fazer as que são prioritárias."

Sobre o artigo ‘Uma Nação de Cábulas Faz Tremer a Europa’ do Wall Street Journal onde se afirma que ‘Apenas 28% da população portuguesa entre os 25 e 64 anos completou o 12º ano. Os dados são 85% na Alemanha, 91% na República Checa e 89% nos Estados Unidos’:

"Já há bastante tempo tínhamos percebido o estado a que tínhamos chegado. Sobretudo desde o fim do século passado, começaram a ser feitos estudos internacionais que nos mostravam com grandes dificuldades nas coisas essenciais, mais uma vez na Matemática e na língua materna.
Exames: havia umas provas gerais de acesso, não havia exames. É uma questão essencial, porque sem avaliação não se sabe como se está, logo não se sabe como se pode melhorar.
Os estudos internacionais começaram a aparecer, primeiro o TIMSS e depois o PISA.
Ao mesmo tempo, por um movimento de um grande número de cidadãos, o ministério começou a divulgar os resultados das escolas, aquilo a que depois, um pouco pejorativamente, se veio a chamar os rankings. Não eram os rankings que estavam em causa, mas os pais conhecerem em que estado estão as diversas escolas. Isto em 2003, nos princípios deste século.
Veio a verificar-se que as ideias empíricas sobre o estado atrasado e as deficiências da nossa escola tinham algum fundamento."

"Um grande número de jovens que chegam ao fim da escolaridade obrigatória, neste momento o 9º ano, têm dificuldade em ler os títulos dos jornais, em exprimir-se, em escrever sem erros ortográficos. Como é que jovens que têm estas dificuldades conseguem depois raciocinar, intervir criticamente, arranjar um emprego razoável, contribuir para a produtividade do País?
(...)
Há uma série de estudos que mostram a grande importância que tem o domínio dos conhecimentos essenciais para os países. Há, nomeadamente, estudos feitos por um grupo de investigação europeu que quantifica: diz quanto é que o nosso PIB subiria, se nós conseguíssemos melhores resultados em Português e em Matemática. Não interessa o tempo que se passa na escola, mas o que se aprende na escola. (...)
Se for necessário reduzir o tempo [de aulas] e dar uma maior qualidade ao ensino, far-se-á isso. Na nossa proposta há uma redução do tempo no 3º ciclo: no 7º ano não há redução de tempo, no 8º ano há uma redução de um tempo lectivo (45 minutos) e no 9º ano é que há uma redução de quatro tempos lectivos, por semana.
Mas não é significativo. O que é significativo é aproveitar bem o tempo que se passa nas escolas, ensinando matérias fundamentais e de forma muito estruturada."

"Os nossos programas são pouco estruturados, falam muito em geral de aquisição de competências e nós queremos concretizar de modo a guiar os professores, os pais e os alunos. (...)
Os sindicatos nunca foram chamados [para definir os curricula] porque não estamos a estabelecer esta revisão curricular com base em interesses corporativos ou sindicais. O que está em causa é como é que, com os recursos que temos, vamos educar melhor os nossos jovens, como é que vamos estruturar melhor as disciplinas. Se os sindicatos tiverem sugestões em relação à revisão da estrutura curricular, com certeza. Estamos abertos a todas as propostas.
Agora quem dita o que vai acontecer, terá de ser o ministério, ouvindo sobretudo os que mais sabem do assunto, que são os directores de escola e os professores."


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