José Manuel Durão Barroso, antigo presidente da Comissão Europeia, vai assumir o cargo de presidente do Conselho de Administração do Goldman Sachs International.
O Goldman Sachs International (GSI) anunciou a nomeação de José Manuel Durão Barroso para chairman desta instituição financeira que é a unidade do banco norte-americano em Londres.
"José Manuel [Durão Barroso] traz imensos conhecimentos e experiência para o Goldman Sachs, incluindo uma compreensão profunda da Europa. Estamos ansiosos por trabalhar com ele, ao mesmo tempo que continuamos a ajudar os nossos clientes a navegar no ambiente económico e de mercado desafiador e incerto", afirmaram Michael Sherwood e Richard Gnodde, os dois presidentes executivos do GSI, ao comentarem que o ex-primeiro-ministro iria ser o presidente do Conselho de Administração desta instituição financeira.
"Para além desta posição, será também consultor da Goldman Sachs", pode ler-se no comunicado da Goldman Sachs que é a casa mãe do GSI.
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Indispensável ler este artigo de opinião sobre a escolha de carreira de Durão Barroso no Goldman Sachs, que republicamos com a devida vénia, para que saibamos desviar-nos de duas vias igualmente perigosas — a queda no abismo da ausência de ética ou a senda obscurantista do fanatismo político:
'A última traição de Durão Barroso
João Miguel Tavares 12/07/2016 - 00:15
A nova opção de carreira de Durão Barroso encaixa como uma luva na narrativa da extrema-direita e da extrema-esquerda.
Pode ir? Pode. Devia ir? Obviamente que não. A entrada de Durão Barroso na Goldman Sachs, 21 meses após ter deixado a presidência da Comissão Europeia, mostra ainda menos sentido de Estado do que a sua ida para a presidência da Comissão Europeia, dois anos após ter sido eleito primeiro-ministro de Portugal. E prova mais uma vez aquilo que todos já sabíamos desde 2004: a única coisa que realmente preocupa Durão Barroso é o bem-estar de Durão Barroso.
Sem Durão não teria havido Santana, e sem Santana não teria havido Sócrates — não daquela maneira, pelo menos —, pelo que a dívida que o homem já tinha para com Portugal não há ordenado da Goldman Sachs que possa pagar. Agora fica a acumular dívida portuguesa com dívida europeia: o impacto político da sua ida para chairman da empresa em Londres é enorme, e a UE não merecia ter de lidar com mais isto neste momento. Veja-se o que se disse da sua contratação por essa Europa fora, com Marine Le Pen à cabeça, via Twitter: “Barroso na Goldman Sachs: nenhuma surpresa para quem sabe que a UE não serve os povos, mas a alta finança.” É isto que vai ser dito e repetido até à náusea. A nova opção de carreira de Durão Barroso encaixa como uma luva na narrativa da extrema-direita e da extrema-esquerda. Em boa verdade, nem é preciso ir aos extremos. Ana Catarina Mendes mostrou no sábado o que o PS pensa do assunto: “Durão Barroso foi presidente da Comissão Europeia nos piores anos do projeto europeu. E que prémio podia ele ter? Ficar naquela que foi a principal causadora da destruição dos direitos sociais na União Europeia.”
É claro que definir a Goldman Sachs como “a principal causadora da destruição dos direitos sociais na União Europeia” é absolutamente patético e demonstra como hoje em dia a esquerda do PS e o Bloco de Esquerda diferem tanto entre si quanto Dupond e Dupont. Aliás, se o mundo “neoliberal” fosse tão a preto e branco como o pintam, e a Goldman Sachs o Big Brother do capitalismo planetário, certamente que não teria ficado a arder, como ficou, com 834 milhões de dólares no BES. Ninguém passa a perna à Goldman? Pelos vistos, Ricardo Salgado passou. Mas este não é tempo para discutir subtilezas. Bem ou mal, com argumentos exagerados ou não, a verdade é que a Goldman Sachs se tornou numa sinédoque da selvajaria do mercado de capitais, tanto em Portugal como na China. O seu nome é tóxico, e certamente que Durão Barroso lê suficientes jornais para saber isso.
Assim sendo, por que é que aceitou o convite, quando ainda há dois meses apareceu todo pintalegrete no Expresso a exibir o seu magnífico estatuto na Universidade de Princeton? A justificação que desta vez apresentou ao semanário não é menos patética do que as declarações de Ana Catarina Mendes: “É-se criticado por ter cão e por não ter. Se se fica na vida política é porque se vive à conta do Estado, se se vai para a vida privada é porque se está a aproveitar a experiência adquirida na política.” Uma resposta tão medíocre quanto esta é indigna da sua inteligência — e da nossa. Durão Barroso tem consciência das implicações da sua decisão, mas está-se simplesmente nas tintas. Já Passos Coelho, quando se trata de proteger os da sua tribo, parece não ter consciência de coisa alguma: em vez de fazer como António Costa, que se limitou a um desejo irónico de felicidades, optou por uma longa e palavrosa defesa do ex-presidente da Comissão Europeia. Perdeu uma óptima oportunidade para ficar calado.'
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Algumas das opiniões relevantes lidas no Público e na sua página no Facebook:
Aníbal Silva
Crítica acutilante e extremamente pertinente. É interessante como a um crítico assumido deste governo e vítima constante de acusações de parcialidade (por artigos de opinião, o que ainda é mais risível) não custa criticar a atual oposição. Pensemos agora quantos dos que se escudam no desempenho do anterior governo para defender o atual seriam capazes de algo semelhante. Pois.
José P.
09:21
Faltou dizer o que vai barroso para lá fazer. Vai para abrir portas, segundo dizem. E portas importantes, portas de presidentes, de primeiros-ministros, de chanceleres e por aí fora. Para entregar de mão beijada os desígnios do projeto europeu aos pés da pior finança. Um ato de virar costas aos cidadãos e abraçar o pior poder, o mais "canalha". Bravo, dr. barroso. JMT tem razão quando diz que para durão não existe mais que o interesse de durão. E ainda um elogio à atitude de Costa. Parabéns, faça mais destes.
- incorporeo
Portugal 12:21
Barroso fica bem a abrir portas. O papel de mordomo assenta-lhe que nem uma luva. E então a farda, nem se fala!
Ricardo Simão
Soure, Coimbra, Portugal - Leiria 09:52
Como alguém dizia a alguns dias atrás, Barroso finalmente sai do armário, nada mais, e demonstra para quem ainda pudesse ter dúvidas do seu carácter como politico. Fica cabalmente demonstrado que para alguns ou para a maioria, fica a questão, a politica é uma ramificação da prostituição.
- incorporeo
Portugal 12:18
Há prostitutas mais dignas, apesar de tudo.
incorporeo
Portugal 12:44
A esquerda trauliteira é ressentida e guarda rancor. Para os seus acólitos, o supremo exercício da sua triste existência é fazer o ataque ao homem, mesmo que, a certas alturas, até diga umas verdades de senso comum, consensuais entre gente minimamente honesta e com alguma noção de ética e de vergonha na cara. Para essa esquerda trauliteira, não importa o que o homem diz. Para a esquerda trauliteira, o que interessa, em primeiro lugar, e único, é aferir os matizes da sua cor política. É, no fim de contas, uma questão de cor. Portanto, a cor é o motivo supremo para engendrar os mais artificiosos argumentos contra o que o homem diz. E quer esta gente governar um povo?
- Jose
13:00
Caro incorporeo tanta verborreia nesta altura do campeonato não lhe parece já um exagero? Que tal responder à pergunta seguinte: ainda queremos uma democracia pluralista cujos eleitos mandam ou rendemo-nos ao fim da democracia pluralista e à obediência a poderes privados?
- incorporeo
Portugal 13:01
Há um episódio dramático da História da África do Sul, no qual o exército inglês menosprezou a capacidade de organização bélica do povo Zulu. Foi dos mais vergonhosos momentos do exército britânico, pois foi dizimado e teve de bater em retirada. Os Zulus identificavam os combatentes ingleses pelo seu uniforme vermelho vivo, e todos o que o usavam foram massacrados. O irónico é que também haviam oficiais ingleses, mas com uniforme castanho escuro. Esses foram poupados, apenas por sorte. Na debandada inglesa, tais sortudos viam os Zulus passar por eles sem lhes fazer nada. São estas as vicissitudes da Cor. A que certos peões da extrema-esquerda se condicionam. É uma limitação algo triste... e caricata! É para levar a sério?
- incorporeo
Portugal 13:18
A Democracia Pluralista não existe em Portugal. Aquela que se diz "democracia pluralista" está tomada pela extrema-esquerda intolerante e tendencialmente totalitária. E esse défice democrático constata-se pela dialéctica da extrema-esquerda contra partidos mais à direita, como o PSD e CDS. Não venha com essa tanga do pluralismo da treta que só legitima as esquerdas. A Social-Democracia está mal representada em Portugal. Mas há muito mais na Social-Democracia que os seus tristes representantes, como Passos, Relvas, Barroso e a clique de oportunistas que também abunda no PS. Portanto, antes de tecer loas à democracia pluralista, há que fazer uma limpeza geral ao nosso regime, que de democrático não tem nada!
- José P.
13:27
Para quem fala tanto convinha informar-se um pouco sobre as palavras que usa. Passos, Relvas e Barroso representantes da social-democracia? Extraordinário, parabéns!
- Jose
13:40
A minha questão não se restringe a Portugal. Temos de responder à questão de saber se os eleitos mandam ou obedecem aos poderes privados. Observamos que os poderes eleitos pela democracia pluralista obedecem aos poderes privados que acumulam as riquezas que os Estados cobram aos contribuintes. Se queremos que a democracia pluralista sirva apenas para cobrar impostos e obedecer aos poderes privados está tudo a correr nesse sentido. Se, ao contrário, queremos que o poder da democracia decida as regras e se faça obedecer então tem de mudar quase tudo ou acaba a democracia pluralista de sufrágio universal, voto secreto, livre e justo.
- incorporeo
Portugal 13:41
José P. Não convém ler os comentários na diagonal. Se ler bem o que escrevi, julgo que dá para perceber que não considero nenhuma dessas criaturas representantes legítimos da Social-Democracia. Nem tão-pouco certas outras criaturas ditas Socialistas que mais não fazem que dar uma péssima imagem do próprio Socialismo. E falo de Portugal, este país de trepadores sem escrúpulos.
- António Lourenço
Algures nos pólderes da ordem de Orange! 13:42
José, eu gosto das democracias em que os eleitos mandam e têm poder. Já decidimos lá em casa, de forma democrática, que vamos jantar todos os dias a sua casa. Somos 7!
- incorporeo
Portugal 13:50
José: Subscrevo tudo o que diz, pois identifico-me com essa utopia. Infelizmente, temo bem que para restaurar a Democracia Pluralista terão de se partir muitos pratos, pois o Sistema em que vivemos está todo armadilhado. Temo bem que está na hora de começar a definir objectivamente um Sistema alternativo, para substituir o que vigora actualmente. Há demasiados Poderes ocultos que sabem muito bem o que querem e também sabem quais os meios a usar para atingir os seus fins. O Povo é sempre a vítima, e irão haver vítimas. Faltam elites credíveis e líderes carismáticos e incorruptíveis. Arregimentar um Corpo com este perfil é difícil.
- Jose
14:37
Caro incorporeo. Obrigado por recentrar o debate em termos sinceros. Permita-me que lembre que essa utopia vem de Aristóteles e Platão, nesse tempo só Aristóteles considerava os escravos seres humanos e explicava a sua condição com o argumento subtil de que é de sua natureza serem escravos. Assim os excluía da sua democracia. Passaram muitos séculos e estamos tão próximo. A antropologia marcha, mas muito lentamente. Neste momento só proponho um debate sobre o âmbito de influência do poder democrático e sobre a hierarquia dos poderes. Sabemos que a práxis reduz a democracia a um poder capturado pelos diferentes poderes privados legitimados pelo poder público. E, se não explicamos como Aristóteles os excluídos sociais fazemo-lo com a sofisticação da sociologia. A democracia manda ou serve?
- joao
14:48
As “casacas vermelhas” usadas pelos militares ingleses para aterrorizar as linhas dos adversários ao lhes trazer à memória as anteriores chacinas e massacres perpetrados sem piedade ou clemência por esses “casacas vermelhas”, só começaram a ser sistematicamente abandonadas após a guerra Boers 1881(?) pois nela os ingleses revelaram-se alvos visíveis em terreno aberto e a longas distâncias, ao alcance das espingardas de longo alcance dos agricultores e caçadores Boer, curiosamente de desenho do oficial português Castro Guedes. O khaki já era utilizado há poucos anos na Índia, mas só após o Sudão 1885(?), onde ainda atacaram as “casacas vermelhas”, foi o khaki adoptado em todos os teatros de guerra dos ingleses. São só curiosidades para acrescentar ao exemplo que usou no seu comentário.
- joao
15:02
Quanto ao conteúdo acho que tem razão, para os direitotes belicistas e "para a esquerda trauliteira, o que interessa... é aferir os matizes da sua cor política." Infelizmente a grande, grande maioria ou totalidade dos argumentos são criados para dar corpo a posições anteriormente tomadas, e não para encontrar a decisão mais adequada.
- José P.
15:04
Ah, percebi mal de facto. As minhas desculpas, caro incorporeo.
- jmbmarte
22:29
Não sei se é acto falhado, mas o encarnado dá um excelente alvo, com um senão: é difícil distinguir uma mancha de sangue sobre ele, como naqueles quadros das vanguardas russas tipo 'branco sobre branco'. Pois o encarnado é uma cor que a mim me dá logo vontade de ser zulu.
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