No dia 1 de Maio de 1975, o Estádio baptizado com esse nome foi palco de um dos muitos momentos tensos que marcaram esse ano.
O País tinha um governo provisório onde se evidenciavam os ministros sem pasta Álvaro Cunhal, Mário Soares e Francisco Sá Carneiro, dirigido por um simpatizante comunista, o General Vasco Gonçalves.
No Alentejo, os comunistas haviam desencadeado o movimento Reforma Agrária com ocupação das herdades dos distritos de Évora e Beja, controlavam também o distrito de Setúbal e procuravam implantar-se no Norte. A Intersindical dominava as ruas de Lisboa com as suas manifestações que mobilizavam centenas de milhares de adeptos enquadrados pelos tractores e reboques apinhados de trabalhadores rurais alentejanos.
Em 11 de Março foram decretadas as nacionalizações da banca, da CUF, da Siderurgia Nacional e de outros grupos empresariais.
No entanto, os eleitores chamados a eleger os deputados da Assembleia Constituinte, em 25 de Abril, deram a vitória ao Partido Socialista de Mário Soares com mais de 2 milhões de votos.
Com apenas 700 mil votos, o PCP preparava-se para ganhar na rua o que havia perdido há alguns dias nas urnas. Em 1 de Maio, a delegação socialista deparou-se com os portões do estádio fechados pela justificação de que o espaço já se encontrava repleto. E quando Soares contornou o edifício para aceder à tribuna, a entrada foi-lhe novamente negada.
15/11/2015 - 00:01
José Maria de Freitas Branco, militante comunista, então com 20 anos, tinha sido convocado para a segurança da tribuna e, nessa condição, interveio no segundo momento. O seu testemunho, recolhido pelo Público no passado mês de Julho, dá uma versão dos acontecimentos diferente da narrativa de Mário Soares.
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A exactidão das palavras e dos actos estará algures entre as duas versões. É, porém, verdade que a classe média desceu à rua — a manifestação na alameda Dom Afonso Henriques ficou célebre — e que Soares se transformou no seu paladino e no defensor da economia de mercado contra a economia marxista. Disso dependia a sua sobrevivência política, que ficou assegurada após o golpe abortado de 25 de Novembro de 1975, e a sua ascensão a primeiro-ministro em resultado das eleições legislativas de 25 de Abril do ano seguinte.
Passou-se há 40 anos a divisão da esquerda portuguesa. Uma divisão que, ironia do destino, outro político socialista, António Costa, teve de sanar também para sobreviver politicamente e realizar a ambição de ser primeiro-ministro. Só que, agora, após perder eleições, pondo em causa a descida dos défices públicos, a recuperação económica do País e, consequentemente, os interesses dos portugueses.
Estes acontecimentos são-me particularmente dolorosos: no 1º de Maio de 1974, o meu pai e eu subimos a avenida Almirante Reis, depois percorremos parte da Almirante Gago Coutinho, virámos para a Rio de Janeiro e entrámos no estádio no meio de uma multidão auto-disciplinada, sem megafones, sem bandeiras partidárias, na mais genuína manifestação de liberdade, igualdade e fraternidade que ocorreu em Portugal.
Depois surgiram os partidos políticos, geraram-se as clientelas que destruíram a indústria, a qualidade do ensino público e o prestígio do professorado, substituiu-se o mérito pelo facilitismo e pela cunha, com os interesses daquela gentinha que pulula nos pântanos partidários a sobreporem-se ao interesse nacional e ao desenvolvimento do País em benefício de todos os portugueses de boa vontade.
Outro desabafo:
Veríssimo Silva
15/11/2015 14:46
Temos aqui reproduzido pelo dr. Mário Soares que o inimigo do PS é o PCP e o BE e não a Coligação.
Não queremos voltar a viver em 2015 o que vivemos em 1975, porque o General Ramalho Eanes está na reforma e o Coronel Jaime Neves já faleceu.
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